Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conservadores em foco

Dito um jornal de inclinação política liberal, o New York Times criou, em janeiro de 2004, uma seção especial para ampliar a cobertura dos conservadores. O hoje ombudsman Byron Calame conta que, na ocasião, encarou a novidade do Times como uma manobra mais simbólica do que real. ‘Os conservadores acharam que estávamos sendo condescendentes, e os democratas, alcoviteiros’, lembra o editor-executivo Bill Keller.

Dois anos se passaram, e Calame questiona em sua coluna de domingo [12/3/06]: a seção deu certo? O ombudsman acredita que sim, e suas dúvidas foram dissipadas neste período. A ordem original para a cobertura especial era examinar as forças conservadoras na religião, política, negócios e na mídia. Os objetivos, que continuam os mesmos, eram identificar ‘os pensadores’ e as bases que eles consolidam e explorar como o movimento conservador funciona para ter sua voz ouvida em Washington. ‘Basicamente, nós queríamos entendê-los’, resume Keller.

O ombudsman não considera que, com a novidade, o jornal tenha sido parcial. A decisão de não criar uma iniciativa similar voltada aos liberais, diz Calame, ‘reflete a realidade de que a cobertura do Times [sobre o tema] não apresentava falhas como as apresentadas na cobertura do movimento conservador’.

Saldo positivo

Para o ombudsman, o projeto teve, até agora, saldo positivo. ‘Minha revisão dos dois últimos anos da cobertura do Times sobre o politicamente potente movimento conservador sugere que o jornal forneceu aos leitores perspectivas e informações que eles não recebiam anteriormente’, diz.

A seção especial ganhou destaque rapidamente no resto do jornal. Apenas no ano passado, seis das 20 primeiras matérias assinadas pelo repórter David Kirkpatrick foram parar na primeira página do Times. Elas tratavam de uma ampla gama de temas relacionados aos conservadores, como, por exemplo, o uso do casamento gay como ferramenta de campanha entre os conservadores cristãos.

Cobertura mais completa

‘Isso criou um tipo de despertar [na redação]’, diz Suzanne Daley, editora nacional. ‘É completamente contagiante’. Para os leitores, a experiência também foi proveitosa. A cobertura do jornal foi beneficiada ao ter repórteres com experiências em uma área, até então, pouco explorada. A abordagem mais completa, por sua vez, fez com que os leitores pudessem entender melhor aspectos do movimento conservador antes ignorados.

‘A cobertura do Times sobre as três indicações do presidente Bush para a Suprema Corte no ano passado foi claramente beneficiada [pela experiência dos jornalistas]. As visões conservadoras das indicações dos juízes John Roberts, Harriet Miers e Samuel Alito receberam mais atenção do que receberiam no passado. Em cada indicação, o Times publicou diversos artigos focados nas ações e posturas dos conservadores’, ressalta Calame.

Kirkpatrick conta que recebeu resposta favorável de liberais e conservadores sobre suas matérias. ‘As pessoas de esquerda apreciaram minhas explicações sobre o funcionamento do movimento conservador’, afirma. O ombudsman concorda. ‘Eu acho que a criação da seção conservadora fez diferença – e poderia ser útil pelo resto do governo Bush’, diz, para completar que espera que o projeto especial possa ser integrado às outras editorias do jornal.