Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Crítica diária

11/06/07

Folha e religião

Na recente visita do papa ao Brasil, a Folha acertou ao oferecer um alentado serviço aos católicos: caderno especial de serviço sobre os eventos públicos de Bento 16, serviço na primeira página, serviço nas páginas internas de Brasil. A cerimônia com maior público reuniu 800 mil fiéis no Campo de Marte, de acordo com estimativa da Polícia Militar.

Na quinta-feira passada, a primeira página não fez nenhuma referência a um evento evangélico que aconteceria naquele dia em São Paulo, com a participação de fiéis de todo o país. Idem a editoria Brasil. Em Cotidiano (pág. C6), uma pequena notícia de 18 linhas avisou: ‘Marcha para Jesus afeta circulação hoje na capital’. Previa, assumindo projeção alheia, que o evento deveria reunir ‘3,5 milhões de fiéis’. A Folha, portanto, não ignorava a dimensão da marcha. O texto foi acompanhado de um reduzido quadro de serviço, sem informações úteis sobre ônibus, metrô etc.

O evento da Igreja Renascer em Cristo juntou cerca de 3 milhões de pessoas, quase o quádruplo do mobilizado pelo papa no Campo de Marte, também conforme a PM.

Não há dúvida de que a viagem de Bento 16 tem mais relevo jornalístico. Mas a desproporção entre o amplo serviço ao evento católico e o pequeníssimo ao evangélico é um erro jornalístico.

Mais: no sábado, na primeira página, o jornal cunhou a expressão ‘Casal Renascer’ para se referir aos líderes da Igreja Renascer. A Folha deveria evitar essa formulação, que pode parecer desrespeitosa. O correto é casal ‘da’ Renascer.

Bronca: o sentido da palavra

A Folha e o conjunto do jornalismo ao qual tive acesso fez uma interpretação unilateral e potencialmente errada sobre uma conversa que Genival Inácio da Silva, irmão mais velho de Lula, manteve com um certo ‘Roberto’. A chamada da manchete da edição de sábado afirmou que Vavá ouviria de Lula ‘‘bronca’ pelas visitas a ‘ministérios de Brasília’’.

A chamada se fundamenta na reportagem ‘Irmão levaria bronca em Brasília, indica grampo’ (pág. A4).

Eis o diálogo de Vavá com ‘Roberto’, reproduzido pelo jornal:

Vavá: ‘Eu só vou só de tarde [a Brasília] e vou voltar, não vou ficar lá, não’.

‘Roberto’: ‘É, mas, Vavá, eu quero saber, Vavá, por que tem umas bronca lá, que você anda apresentando uma pessoa lá nos ministérios e ele…’.

Vavá: ‘Eu?’.

‘Ter umas broncas’ significa haver problemas, confusões, rolos. Não que alguém repreenderá (‘dar’ uma bronca ou umas broncas).

Homem forte

Está errado o título ‘Servo dizia que Morelli era ‘homem forte’ do PT’ (domingo, pág. A5).

Não há frase na reportagem e na interceptação telefônica que permita ao jornal fazer tal afirmação. Em nenhum momento Servo disse que Morelli era homem forte ‘do PT’.

Mesmo tratamento

Depois de ser citado fartamente na cobertura jornalística da Operação Navalha, o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, ‘deve escapar do rol de investigados que o Ministério Público Federal denunciará à Justiça’.

É a única referência ao governador no texto ‘Denúncia da Navalha deve atingir 51 dos investigados’ (domingo, pág. A7).

Se confirmada a não inclusão de Vilela Filho na denúncia, a Folha deveria anunciar com destaque a informação, com visibilidade equivalente à que tiveram as suspeitas contra ele.

Xeque-Mate

Desde a notícia sobre o indiciamento de Vavá, a Folha vem fazendo um bom trabalho em Campo Grande. No fim de semana, o jornal manteve a liderança na revelação do conteúdo das investigações da Operação Xeque-Mate.

Pesquisa DEM..ais

No sábado, no domingo e ainda hoje, segunda, o Painel publicou notas com informações apuradas pelo instituto GPP, em pesquisa para o DEM. Pareceu espaço exagerado para um levantamento encomendado por partido político.

Jornalista juiz

A Folha tira conclusões que não lhe cabe hoje, na reportagem ‘Renan recebeu multa em 2003 por sonegar imposto’ (pág. A9): ‘Ao invés de recorrer da atuação, Renan parcelou o débito, o que significa, em tese, ter reconhecido que sonegou imposto’.

Em tese, afirmo que muitas pessoas preferem pagar multas (de trânsito, por exemplo), a ter de enfrentar recursos. Mesmo que não reconheçam ter cometido infração.

Um político teria o motivo suplementar de não querer barulho, mesmo que não se considere autor de sonegação de impostos.

Repórter não é juiz. Reportagem não é sentença.

Os ‘reacionários’ da USP

A reportagem ‘Docentes da USP fazem passeata antiinvasão’ (quinta, pág. C7) tem o tom editorializado, contra os participantes do ato. Desde a abertura: ‘Um grupinho de professores, funcionários e estudantes (poucos) começou a se reunir logo cedo…’.

O texto afirma que se tratou da ‘primeira passeata reacionária a ser vista por ali’.

Tamanha editorialização é acompanhada da justificativa: ‘A reação, no caso, foi à invasão da reitoria por estudantes, professores e funcionários, que há 35 dias desalojaram toda a burocracia central da USP’.

Ora, esse argumento serviria para caracterizar os invasores da reitoria como reacionários. Afinal, seu movimento não é uma ‘reação’ aos decretos sobre as universidades estaduais paulistas?

No domingo, o ‘Estado’ manchetou: ‘Partidos de ultra-esquerda controlam invasão na USP’.

No dia 23 de maio, na pág. C4, a Folha afirmou (na reportagem ‘25 anos depois, estudante leva a mãe para a invasão’), sobre o ‘novo movimento estudantil’ que ‘surgiu na Universidade de São Paulo’: ‘Ele cultiva a sério o apartidarismo, quebrando a hegemonia política de partidos como o PT, PSOL e PSTU, que já foram manda-chuvas no pedaço’.

Segundo o ‘Estado’ de ontem, os manda-chuvas são o PCO, o PSTU e o PSOL.

A Folha segue sem investigar os bastidores do governo do Estado na crise universitária.

Ameaça e imagem

A reportagem ‘Empresário que rastreou facção teme por sua vida’ (hoje, pág. C5) conta a história de um homem, como diz o título, sob risco.

Por que, então, a Folha publicou sua fotografia? Mesmo que ele não se importe, o jornal deveria se importar. Ainda que o rosto do empresário eventualmente tenha sido exibido em outros veículos.

Enviada especial

A boa reportagem dominical sobre o inglês Lewis Hamilton, personagem da primeira página dos diários na segunda com mais um feito, só foi possível porque o jornal enviou repórter ao GP de Fórmula 1 em Montréal. Fez muito bem. Lá, entre os enviados brasileiros, a repórter da Folha foi a única a participar da conversa do jovem piloto com mais cinco jornalistas, todos britânicos.

Montréal, Manual

A reportagem ‘Hamilton guia como veterano e brilha’ (hoje, pág. D6) se refere a ‘farol’ como sinônimo de sinal e semáforo. É um erro, como ensina o verbete ‘Regionalismo’ do ‘Manual da Redação’ (págs. 96 e 97, Publifolha, 2001).

Aos bascos, quase impossível

O artigo ‘Forças desiguais’ (sábado, pág. D4) diz que ‘fica praticamente possível’ o Athletic Bilbao ter chances de conquistar títulos na Espanha. O correto é ‘praticamente impossível’.

Atrapalhando o feriadão

Os leitores fãs do jogo Sudoku tiveram uma má notícia na pág. E 16 de sábado: a Folha repetiu o jogo publicado na véspera.

06/06/07

A primeira página da Folha cala hoje sobre uma informação importante para o leitor avaliar o comportamento da Polícia Federal e do governo na Operação Xeque-Mate: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ou não avisado sobre a investigação a respeito do seu irmão? Vavá foi alvo de ordem judicial de busca e apreensão e indiciado sob suspeita de ‘tráfico de influência no Executivo e exploração de prestígio no Judiciário’.

O silêncio não é à toa: as edições de ontem e hoje mais confundem que esclarecem. Exagero?

Afirmou a primeira página de ontem: ‘Na Índia, Lula se irritou com a notícia da operação e reclamou a assessores de não ter sido avisado’.

Também ontem, na pág. A4 (‘PF indicia irmão de Lula por tráfico de influência’): ‘A Folha apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava na Índia, reagiu com grande irritação ao ser informado da inclusão de seu irmão na investigação da PF. Ele reclamou por não ter sido avisado com antecedência e disse a auxiliares que já havia pedido ao irmão que tomasse cuidado para não comprometê-lo’.

Se corretas, as informações são politicamente positivas para o presidente _evidenciaram a existência de uma ‘PF republicana’, que trata a todos como iguais.

Hoje, a primeira grande surpresa é o fato de, na entrevista coletiva concedida por Lula em Nova Déli, não ter sido feita pergunta sobre quando o presidente foi informado a respeito da investigação, da operação e do indiciamento dos quais Vavá foi objeto. Pelo menos tal indagação, obrigatória e óbvia, não consta do pingue-pongue transcrito na Folha (‘Lula diz não crer em culpa de irmão, mas respalda a PF’, pág. A4).

Em texto com informações de bastidores contraditórias e confusas (‘Presidente se queixa e reage com contrariedade’, pág. A4), a Folha abandona o relato de ontem (não foi publicado Erramos), segundo o qual Lula não havia sido avisado sobre a ‘inclusão de seu irmão na investigação da PF’.

Agora, a versão mudou para a reação com ‘contrariedade’, dizendo palavrões, ‘por não ter sido avisado do indiciamento com antecedência’. Uma coisa é reação à investigação, outra ao indiciamento.

De novo, o não-aviso é bom para a imagem do presidente, do Ministério da Justiça e da PF.

Ocorre que, na mesma reportagem sobre bastidores, a Folha obteve versão diferente no Planalto e no Ministério da Justiça: Lula teria sabido às 4h de segunda (horário de Brasília) da operação iminente, que começaria horas depois e atingiria seu irmão mais velho. Teria sido informado explicitamente sobre a operação de busca e apreensão.

Esta versão contradiz a publicada ontem, bancada pela Folha, descrevendo a ‘grande irritação’ de Lula por não ter sido informado sobre a operação.

Reforça o espanto: por que não se fez a pergunta ao presidente, preferindo trabalhar apenas com informações off the records? Pior, o jornal as subscreveu.

Se a Folha julgou relevante publicar a ‘versão obtida’ no Planalto e na Justiça, é porque considera possível que seja a verdadeira. Assim, a(s) outra(s), assumida(s) pelo jornal, pode(m) estar errada(s).

A versão de Brasília também tem problema. O jornal conta, sem questionar, que ‘o Ministério da Justiça sustenta que, na conversa [informando sobre a operação], Tarso não avisou Lula sobre o indiciamento de Vavá porque ele ocorreu apenas no dia seguinte’.

Por que o jornal não informou o horário do indiciamento, que teria ocorrido na segunda-feira? Às 21h04 da segunda, ao concluir a edição Nacional da terça, a Folha já tinha a informação.

Há mais problemas no uso de informações obtidas em off. Hoje se lê no pé do texto sobre bastidores, com o emprego do clássico ‘a Folha apurou’: ‘Na segunda de manhã, quando a operação já estava em andamento, [a cúpula da PF ligou ao ministro Tarso Genro] para informar que Vavá era um dos alvos’.

Ora, a mesma retranca informa antes que Tarso Genro avisou Lula, às 4h de segunda-feira, sobre a operação contra o irmão. Os horários só se encaixam se o jornal considerar um horário da madrugada a mesma coisa que um horário da manhã. (Eram 4 horas ‘da manhã’, mas no relato jornalístico em questão os sentidos são diferentes).

Mesmo assim, não bate: o mesmo texto diz que Lula teria sido avisado ‘duas horas’ antes sobre a operação contra seu irmão. Depois, afirma que o aviso foi feito ‘quando a operação já estava em andamento’.

Não se trata de curiosidade supérflua. O que está em jogo é saber se o presidente foi avisado ou não da ação contra o seu irmão. Descobrindo a verdade, o jornal poderá, além de informar corretamente os seus leitores, saber em que fontes pode e deve confiar.

Até agora, os leitores estão mal informados.

Tive a impressão de que há conclusões conflitantes na apuração do jornal. É algo que não é raro no jornalismo. Nesses casos, mantida a dúvida, é recomendável apresentar as hipóteses, sem escolher uma.

Por fim: é prerrogativa do presidente da República ser informado previamente de ação policial contra parente seu? O que diz a lei?

Concorrência

O ‘Estado’ afirma hoje: ‘Assessores fizeram circular que Lula ficara irritado por ter sido avisado da ação dos federais dez horas após a busca e apreensão na casa do irmão, em São Bernardo do Campo, berço do movimento sindical. Na verdade, ele já sabia que o nome do irmão aparecera nas investigações desde a quinta-feira da semana passada’.

Diz o ‘Globo’: ‘Horas antes de a PF vasculhar anteontem a casa de Genival Inácio da Silva, o Vavá, o ministro da Justiça, Tarso Genro, avisou o presidente Lula, na Índia, do suposto envolvimento de seu irmão com a máfia de caça-níqueis investigada na Operação Xeque-Mate’.

Manual

A Folha seria um jornal melhor se seguisse com mais rigor as orientações do seu ‘Manual da Redação’ (Publifolha, 2001). Mesmo regras que podem parecer mero formalismo contêm valores jornalísticos importantes, como o de não condenar e acusar quem não é condenado ou mesmo acusado.

Diz o subverbete ‘Indiciamento’, na pág. 156: ‘É ato discricionário do delegado de polícia que consiste na qualificação de uma pessoa como suspeita de um crime durante inquérito policial. Quando o personagem é indiciado em inquérito policial, usa-se a forma: ‘Fulano de Tal foi indiciado sob suspeita de homicídio’’.

Desde a primeira frase da chamada da manchete até alguns textos internos, o jornal de hoje está repleto da fórmula imprópria ‘indiciamento=acusação’.

A fórmula correta: ‘indiciamento= suspeita’.

Vavá, irmão de Lula, é suspeito, não acusado. Se for denunciado pelo Ministério Público, passará à condição de acusado.

Algo estranho no ar

Continua em segredo o motivo que levou Vavá a ser indiciado. Afinal, qual o conteúdo das gravações interceptadas?

Se elas não contiverem indícios da associação do irmão do presidente a atos criminosos, mas apenas registro de conversas com amigos (mesmo que os amigos tenham cometido crimes), o indiciamento seria uma agressão à lei (volto a lembrar, uma vez mais, a guerra na PF, abordada por reportagem de hoje).

Do contrário, pode haver informações cuja relevância faz com que haja esforço para serem mantidas longe do conhecimento público.

Selic: Folha versus Folha

Há muitos leitores que se guiam nas informações publicadas pela Folha para definir suas aplicações financeiras. O ritmo da queda dos juros é informação importante para o mercado. Mais importante ainda: a taxa Selic afeta, direta ou indiretamente, a vida de todos os cidadãos.

Os leitores da Folha receberam hoje duas informações conflitantes. A coluna Mercado Aberto diz em seu título principal, na pág. B2: ‘Crescem as apostas de um corte de 0,25 ponto na Selic’.

Já a reportagem ‘Brasil está a 1,5 ponto de perder posto de maior juro’ (pág. B10) aposta, abertamente, em queda de 0,5 ponto.

Quando há dúvidas, o jornal deve dizer isso claramente aos leitores. Hoje eles receberam informações contraditórias. Uma, com certeza, está furada.

05/06/07

As observações abaixo se referem às quatro últimas edições do jornal, de sábado a hoje, terça-feira. Alguns comentários, temáticos, abordam mais de uma edição.

Edição de sábado 2 de junho

Venezuela, sim

O noticiário dos últimos dias comprova o acerto da Folha em instalar um correspondente em Caracas.

Na sexta, a presença do repórter na Venezuela contribuiu para que o jornal tivesse a informação, e desse o devido destaque na primeira página da Edição São Paulo, sobre a afirmação de Hugo Chávez a respeito do Senado ‘papagaio’.

No fim de semana, o correspondente deu uma lição sobre lugar de repórter, seja no Brasil ou no estrangeiro: na rua. Seu testemunho ocular foi importante ao contar, no sábado, o protesto proibido pelo governo na véspera. No domingo, ao relatar o apoio estatal à manifestação a favor do presidente.

Faz parte da tradição crítica da Folha seja no governo FHC, no governo Lula e em outros governos a atenção ao emprego de recursos públicos em atos partidários. A edição de domingo mostra que também é possível promover tal fiscalização em outro país, o que seria difícil (dependeria de noticiário e de versão alheios) ou impossível estando em casa, no escritório ou no hotel.

Venezuela, não

A primeira página do sábado trouxe em seu alto a foto de três recatadas funcionárias da RCTV em protesto anti-Chávez.

No domingo, em meio a tantas fotografias possíveis do ato pró-governo, o jornal escolheu a de duas mulheres de biquíni (ou algo menos que isso) em cima de uma caminhonete.

A comparação dá a impressão de simpatia com os manifestantes contrários ao presidente e de antipatia com os favoráveis.

É direito da Folha ter opinião. É bom que o jornal a manifeste. Mas nos espaços próprios.

Violência e publicidade

Duas das três páginas da reportagem especial sobre a violência no Rio foram retalhadas por um anúncio inusitado que tornou tortuosa a leitura.

A publicidade é instrumento de sobrevivência do jornal e, nunca é demais ressaltar, é requisito à sua independência. O que não significa aceitar ou propor anúncios com formatos esdrúxulos, que invadem textos e quadros.

Ironia: em meio aos relatos sobre pobreza, barbárie e violência, espalhou-se o original anúncio sobre um novo e elegante condomínio. No contraste involuntário, a cara do Brasil.

Violência e jornalismo

As três páginas do caderno Cotidiano 2 sobre a violência no Rio são muito informativas e densas, com ambição jornalística que deveria ser mais assídua.

Há um problema: depois de ler a íntegra, tive a impressão de que a temperatura ficou baixa.

Talvez o mais interessante fosse destacar, em vez do balanço global das ações do governo na segurança pública, o ‘território liberado’ que traficantes de drogas impuseram na Vila Cruzeiro.

Violência – Erramos

A reportagem ‘Polícia de Cabral privilegia ação de confronto’ (pág. Especial C1) diz, como a legenda de fotografia na mesma página, que a operação no complexo do Alemão resultou em 55 feridos. O quadro, contudo, afirma que os feridos foram 58.

Quadro no alto da pág. Especial C2 (‘O Complexo do Alemão’) tem uma fotografia sem crédito. Creio que o jornal deveria informar a autoria. É do Google?

O texto ‘Ação tem mais efeito colateral que resultado’ (pág. Especial C2) afirma que o jornalista Tim Lopes foi assassinado quando produzia ‘reportagem sobre a venda de drogas’. Eu pensava que a reportagem investigava bailes funk e prostituição _sob controle de traficantes, é verdade, mas a matéria não focava a venda de drogas.

O mesmo texto diz que o soldado Wilson Lopes, do Bope, foi morto em 3 de maio. Na mesma página, a reportagem ‘Ex-militares de elite treinavam traficantes, suspeita polícia’ afirma que a data correta é 2 de maio. Na cronologia da página seguinte, volta a ser 3 de maio.

Confronto na PF

O texto ‘Diretor de presídio federal se demite’ (pág. Especial C6) não informa que Ronaldo Urbano, ex-diretor da penitenciária de Catanduvas, é delegado da Polícia Federal (talvez já aposentado).

A informação é relevante para contextualizar a notícia. É possível que a penitenciária seja um dos fronts da atual guerra interna da PF.

Furo

O furo do ‘Globo’ sobre uma nova ‘lista do bicho’, com dinheiro de acordo com a interpretação da PF destinado a políticos, ressalta a pouca atenção que a Folha deu à Operação Hurricane (Furacão) depois das notícias da hora divulgadas pelos investigadores.

Se tivesse acompanhado os passos do processo, talvez o jornal tivesse acesso ao papel (a lista) que foi entregue à juíza responsável pelo caso.

Edição de domingo 3 de junho

Espelho meu – Empreiteiras

Folha e ‘Estado’ publicaram reportagens parecidas sobre as contribuições de empreiteiras a parlamentares, candidatos e partidos. Manchete do ‘Estado’: ‘Orçamento está nas mãos de financiados por empreiteiras’. Segundo título em importância na primeira página da Folha : ‘Empreiteiras bancaram 55% do Congresso’.

Considerei a cobertura da Folha mais completa. Ela permite identificar, bem como a do concorrente, o maior obstáculo à instalação de uma CPI no Congresso sobre obras e verbas públicas.

Por isso, está errada a linha-fina (pág. A10) ‘Estilo conciliador do presidente do Senado explica a falta de disposição dos colegas para abrir um processo contra ele’. O buraco é mais embaixo. Como informa a boa reportagem ‘Atencioso, Renan diluiu inimizades na Casa’, o estilo ‘ajuda’ a explicar.

Espelho meu – A convite

O governo da China convidou, e Folha e ‘Estado’ aceitaram o convite para viajar ao país.

Ambos os jornais publicaram reportagens, em duas páginas, com chamada na primeira.

É o tipo de coincidência desagradável. Parece que o governo chinês é que pauta os jornais. De certo modo, pautou mesmo.

Em viagens desse tipo, é comum que os anfitriões obriguem os convidados a se locomover em bloco. Esse é mais um motivo para tentar evitar a mais impressionante coincidência dominical: o enviado do ‘Estado’ fez uma foto que saiu na primeira página. A enviada da ‘ Folha ‘, uma que saiu internamente (pág. A24).

Analisando o cenário e os personagens, descobre-se que ambos estavam no mesmo local, lado a lado.

Mesmo em coberturas complexas, ou ainda mais nelas, se deve buscar o diferencial jornalístico.

Ditadura

É de alto nível a reportagem feita pela Folha na China. Não fica nada a dever aos melhores padrões da imprensa internacional.

Um porém: por que o texto não chama o regime chinês de ditadura? Lê-se o eufemismo ‘autoritarismo chinês’. Trata-se, isso sim, de ditadura de partido único. Os partidos com denominações diferentes, ao contrário do que diz o ministro entrevistado, são completamente subordinados ao Partido Comunista. No conteúdo, o regime é de partido único. Em vários países da velha ordem do Leste Europeu, também havia outras agremiações partidárias, que não impediam que houvesse, essencialmente, regimes ditatoriais de partido único.

Chamada fantasma

Pela terceira vez em poucas semanas, os leitores da Edição Nacional de domingo (concluída às 20h47 da véspera) receberam a primeira página com chamada para informações que não constam do jornal a eles entregue.

Diz a chamada de Cotidiano: ‘Moro só – Seis solteiros que fazem da casa a sua melhor companhia’. Na página indicada, a C9, foram publicados os perfis de dois solteiros, e não seis.

De novo, o erro se refere à chamada para o conteúdo integral da ‘Revista da Folha’, que não chega aos leitores da Edição Nacional. Eles recebem apenas um fragmento, em Cotidiano, do que sai na íntegra na revista.

O pior é que no pé da página interna há uma remissão para a leitura de ‘mais casos’ na internet. Acontece que a primeira página informou que os seis perfis estariam no papel.

A continuidade dos erros na primeira página, anunciando o que não existe no jornal, é um desrespeito ao leitor.

Exemplar

Ao citar a origem de furos do fim de semana ‘Veja’, ‘Época’, ‘Isto É’ e ‘Globo’, a Folha foi de uma transparência exemplar. Deveria inspirar outras publicações.

O nome do delegado

Os dois textos da pág. A16, sobre a ‘lista do bicho’ no Rio, chamam um delegado da Polícia Federal tanto de ‘Jorge Furtado’ (como o cineasta) como ‘Flávio Furtado’. Qual o correto?

Venezuela – Por quê

Novamente o jornal deixa de publicar as alegações do governo Chávez para a não-renovação da concessão da RCTV. É um dever da Folha contemplar as mais diferentes versões e opiniões, contribuindo para que o leitor tire suas próprias conclusões.

Já escrevi nesta crítica minha opinião sobre o fechamento da emissora. Não é por isso que proporei que se deixe de informar o papel da RCTV no golpe de anos atrás, bem como os argumentos dos seus proprietários e do governo.

Cena de cinema

A capa de Dinheiro e a pág. B6 estampam fotos de policiais federais fazendo mira com suas armas. Na página interna, um agente (ou delegado?) segura uma pistola que deveria estar no coldre.

A reportagem não informa em que situações de combate foram registradas as imagens.

Se as fotografias foram produzidas como parece, a Folha deveria informar na legenda: ‘Policiais posam…’.

Infra

Algumas informações não são novas, mas o jornal fez bem em amarrá-las e mostrar que ‘Falta de infra-estrutura freia crescimento’, como afirma a manchete.

Alhos com bugalhos

Diz a linha-fina da pág. C4: ‘Confrontos após ocupação da PM no Alemão mataram 17 pessoas em um mês; operação da ONU fez 27 vítimas em três anos’.

O primeiro número é a soma dos contendores das duas trincheiras e de quem não é alinhado O segundo considera somente uma barricada. Ignora as mortes de civis, corretamente citadas na reportagem.

Na contramão

É saboroso o perfil ‘Miss Brasil tem cílios postiços e seios de verdade’ (pág. C15).

Pelo telefone

A reportagem ‘Por privacidade, dupla deixa praia e se tranca em CT’ (pág. D7) tem uma característica que a prejudica: trata de detalhes de treinamento que ocorre em Fortaleza, mas a repórter apurou tudo da Redação. Uma pena. Se ela fosse ao local, a matéria poderia ficar muito, muito melhor.

Cem anos de solidão

O ‘Estado’ fez um belíssimo caderno sobre os 40 anos do romance de García Márquez, inclusive com enviado especial a Aracataca, cidade natal do escritor colombiano.

Edição de segunda 4 de junho

Harvard, Cambridge

Ao contrário do que diz texto do alto do pág. A7 (‘De volta, Alckmin diz que será soldado contra governo Lula’), a Universidade Harvard fica em Cambridge, não em Boston.

Levantando a bola

A entrevista com o presidente do Conar foi oportuna. O jornal, porém, deu a impressão de não ter se preparado como deveria.

Pergunta do pingue-pongue: ‘Como é a restrição à publicidade de bebidas em outros países?’.

Ora, a Folha deveria saber. De posse de informações, as confrontaria com a situação brasileira e pediria comentários ao entrevistado, Gilberto Leifert.

Outro exemplo: ‘A propaganda de bebidas aumenta o consumo?’.

Aqui, deveriam ser buscados estudos que pudessem questionar as opiniões do entrevistado.

O presidente do Conar não tem do que reclamar da Folha. Os leitores talvez tenham.

Pela TV

Sigo sem entender que critério permite ao texto sobre um jogo (no caso, de basquete), assistido pela TV e sem interpretação mais original, ser assinado pelo redator.

Foi o que ocorreu em ‘‘Chato’, Varejão está na final da NBA’ (pág. D5). Imagino que as várias declarações tenham sido colhidas das agências internacionais, citadas no pé, ou de material de divulgação.

Edição de terça 5 de junho

O irmão de Lula

O jornal tem o desafio de descobrir que atitudes não os possíveis crimes, mas os atos específicos do irmão mais velho do presidente da República levaram ao indício de Vavá.

Mesmo com as informações ignoradas, os fatos conhecidos validam a decisão de levar o irmão de Lula à manchete.

Factóide

Depois de fazer mira com arma da Polícia Militar, o governador Serra, agora com o prefeito Kassab, ganha a primeira página da Folha usando máscara de oxigênio em evento dedicado ao combate à poluição.

Não identifico relevância na imagem para ganhar tanto destaque.

Mais show

Após (erradamente) dar espaço reduzido às agressões verbais de Clodovil Hernandes contra uma deputada, o jornal tem passado a noticiar detalhes irrelevantes sobre sua atividade na Câmara. É o caso do texto-legenda de hoje, mostrando o parlamentar a desenhar um modelito.

Prioridades

É normal, e isso ocorre cada vez mais, que material produzido por um braço de empresa jornalística também seja usado por outro do mesmo grupo.

Não entendi, entretanto, por que repórteres da Folha não cuidaram da notícia considerada a mais importante do dia em Cotidiano, estampada em sua capa, ‘Greve de perueiros pode afetar 3 milhões hoje’. São profissionais do ‘Agora’ que assinam a matéria.

Creio que os repórteres da Folha devam ser destacados para as pautas que a Folha julga prioritárias. Assim como, suponho, o ‘Agora’ escale repórteres da sua Redação para tocar as pautas de maior apelo.

O tratamento jornalístico de uma notícia na Folha não é o mesmo do existente no ‘Agora’. São publicações de perfis diferentes.

O espectro da Escola Base

A Folha está certíssima em não publicar a identidade do médico preso em Goiás sob suspeita de abusar sexualmente de crianças.

Pode ser que a suspeita se confirme. Se não se confirmar, o jornal não expôs o nome do preso, que outras publicações divulgaram, junto com a fotografia, sem restrições.

As greves – Lide no pé

Está escondida quase no pé a informação mais importante da reportagem ‘‘Ninguém agüenta mais’ a invasão na USP, diz Serra’ (pág. C10). Ontem, a assembléia de professores da USP aprovou o ‘indicativo’ de fim de greve. Eis a notícia quente, não mais uma declaração do governador.

As greves – O que falta

No balanço da cobertura da Folha sobre a mobilização nas universidades paulistas destaca-se a ausência de reportagens sobre os bastidores do governo estadual. Colunistas do jornal apontaram inépcia política em Serra. Os leitores ganhariam se soubessem quem teve a idéia dos decretos, quem os redigiu, se o governador e o secretário Pinotti foram pegos de surpresa pelas greves ou já esperavam a reação, como os diversos grupos tucanos agiram etc.

04/06/07

O ombudsman participará hoje de reunião do júri do Prêmio Folha. Por esse motivo, não haverá crítica diária.’