’21/10/2005
A libertação de Paulo Maluf e filho está nas manchetes da Folha e do ‘Globo’, mas com conteúdos diferentes. A Folha apenas registra a decisão do STF – ‘Maluf e filho são soltos após 40 dias’. O ‘Globo’, no entanto, dá ênfase a um aspecto jurídico importante que questiona a decisão – ‘STF contraria norma e manda soltar os Maluf’. O ‘Estado’ registra o fato na linha da Folha – ‘Maluf e seu filho são soltos após 40 dias’.
A decisão do STF não levou em conta , como a própria Folha registra logo na abertura de sua reportagem interna (‘STF abre exceção e libera da prisão Paulo e Flávio Maluf’), a súmula do próprio tribunal que impede o exame de processos que ainda não tiveram julgamento do mérito na instância inferior. No caso, o STJ havia negado o habeas corpus liminarmente e ainda não havia julgado o mérito da ação. A chamada da primeira página da Folha erra, portanto, ao omitir uma informação relevante que será objeto de discussões jurídicas. A manchete interna é mais informativa e resume melhor o que de fato ocorreu do que a da capa.
O jornal usou, em relação a Paulo Maluf, dois critérios jornalísticos diferentes. Sua prisão não foi a manchete do jornal no sábado, dia 10 de setembro, apenas a segunda chamada, ‘Maluf se apresenta à PF após ter prisão decretada’. [Os outros jornais concorrentes deram, então, manchetes mais explícitas: ‘Maluf se apresenta e é preso’ (‘Estado’) e ‘Paulo Maluf é preso’ (‘Globo’).]
Por que a prisão não foi manchete na Folha e a soltura agora o é?
O caso Volks
Todos os outros jornais são mais discretos do que a Folha na edição das acusações do ex-funcionário da Volks alemã contra o ministro do Trabalho, Luiz Marinho. O fato não poderia ter sido omitido, embora deva ser visto com todas as reservas devidas a uma acusação feita por uma pessoa sob investigação. Mas a foto, na capa da Edição Nacional, do ministro Marinho junto com o ministro Luiz Dulci, que nada tem a ver com o escândalo, é completamente desnecessária e abusiva.
O espaço destinado internamente pela Folha – capa e página B4 do caderno ‘Dinheiro’ – me pareceu excessivo, ainda mais diante da advertência feita pela própria Volks, que tem interesse na investigação e demitiu o funcionário que faz a acusação: ‘as alegações de um suspeito precisam sempre ser consideradas com muito cuidado’. A acusação é grave. Se comprovada, o fato foge do terreno da moral ou da vida privada por se tratar de um sindicalista responsável pelas negociações da principal categoria de operários do país. Mas sem um trabalho jornalístico próprio da Folha questiono o jornal ter considerado o assunto o mais importante da economia de ontem a ponto de merecer a capa do caderno e mais uma página.
Escândalo do ‘mensalão’
Há um descompasso entre a primeira página da Folha e a edição da página A6. Internamente, o jornal considerou a o desabafo e a defesa feita pelo deputado José Dirceu a jornalistas (‘Fui ‘marcado para morrer’ pela oposição, diz Dirceu’) mais importante do que a decisão da presidência da Câmara que adiou a votação da cassação de Dirceu (‘Com base em regimento, Aldo decide por releitura de parecer sobre petista’). A chamada na capa do jornal se refere apenas ao ato da presidência da Câmara.
‘Painel do Leitor’
As duas cartas publicadas hoje no ‘Painel do Leitor’ a respeito do referendo das armas defendem o voto no ‘Não’. Talvez o jornal considere este desequilíbrio circunstancial como uma compensação ao fato de ter manifestado apoio ao ‘Sim’. Se for isso, é um erro. Aliás, ao longo da semana (de domingo até hoje) o jornal publicou 13 cartas sobre o assunto: quatro não manifestavam o voto, três eram pelo ‘Sim’ e seis pelo ‘Não’.
Tem em parte razão o secretário municipal de Coordenação das Subprefeituras, Walter Feldman, quando se queixa, na carta ‘Rampas’, de falta de isenção na reportagem da Folha ‘Serra recebe críticas por rampa antimendigo’, publicada no dias 24 de setembro no caderno ‘Cotidiano’. Revi a reportagem . Todos os ‘especialistas’ ouvidos realmente foram contra o projeto polêmico da Prefeitura. Nenhum a favor. Também considero grave o fato de o jornal ter omitido a filiação partidária e os vínculos com o PT de João Whitaker, conforme aponta a carta de Feldman.
As outras reportagens que reli sobre o assunto contemplaram os argumentos da Prefeitura e mantêm o critério de equilíbrio nas opiniões publicadas.
Título
É dúbio e, portanto, ruim o título ‘Beira-Mar leva prefeitura à Justiça’, na capa de ‘Cotidiano’ da Edição Nacional. A notícia é que a Prefeitura de Florianópolis entrará na Justiça para se livrar do traficante.
19/10/2005
Folha e ‘Estado’ tratam, nas manchetes, da acusação contra o deputado José Dirceu no Conselho de Ética: ‘Relator vê evidências para cassar José Dirceu’ (Folha) e ‘Pela dignidade, relator pede cassação de Dirceu’. O ‘Globo’ preferiu dar destaque para a decisão de ontem do Conselho Nacional de Justiça – ‘Juízes têm até janeiro para demitir parentes’.
Não entendi a troca, na capa da Folha, da frase extraída do relatório do deputado Júlio Delgado no Conselho de Ética. O trecho da Edição Nacional – ‘Dirceu tinha poderes para se o autor intelectual de todo este esquema ou, pelo menos, para impedir que tais práticas prosperassem’ – me parece mais representativo do relatório do que o escolhido para a Edição São Paulo – ‘[A perda do mandato do deputado José Dirceu] é o meio de restaurar a dignidade e a credibilidade da Câmara’.
Escândalo do ‘mensalão’
Está impreciso e incompleto o texto da Folha sobre o relatório que pede a cassação do deputado José Dirceu (‘Relator propõe cassar Dirceu por ‘evidências irrefutáveis’, pág. A4). O resumo se refere a ‘uma série de denúncias contra o ex-ministro, a maioria proveniente de dados de sigilos coletados pela CPI dos Correios…’. Quantas denúncias? O jornal relaciona seis no seu infográfico (‘Os indícios listados por Delgado’, na Edição Nacional, e ‘O que dizem acusador e acusado’, na Edição SP, pág. A4); já o ‘Globo’ cita oito. A melhor edição foi a do ‘Estado’, que reproduziu os principais pontos do relatório. E o jornal ainda remeteu os que quiserem ler a íntegra do documento para o seu site na Internet.
No resumo de um documento como este não cabem imprecisões do tipo ‘uma série’. O jornal tem a obrigação de relacionar todos os indícios apontados.
Aliás, o termo ‘denúncia’ também é impróprio num caso que envolve conceitos jurídicos. A denúncia é peça técnica do Ministério Público, como orienta o ‘Manual da Redação’. No caso, o texto se referia a ‘acusações’ contra José Dirceu.
Fez bem o jornal em rechear o texto sobre o relatório com pontos da defesa do deputado José Dirceu.
Violência
Não consegui entender a importância da reportagem ‘Área comercial apreende mais armas em SP’ (pág. C4 na Edição Nacional e pág. C6 na Edição SP com o título ‘Área nobre da zona sul apreende mais armas’). A tese é de que as armas apreendidas em áreas nobres de São Paulo estavam nas mãos de moradores de ‘áreas periféricas’? Mas o levantamento não mostra isso, mostra apenas em que circunstâncias elas foram apreendidas.
E por que a reportagem só analisa Campo Belo e Santo Amaro, deixando de lado a tentativa de entender o que acontece em Itaim Paulista? Outra questão: tem o mesmo peso a apreensão de 252 armas numa região com 62 mil moradores (Campo Belo) e a apreensão de 250 armas numa região de 230 mil moradores (Itaim Paulista)? Aliás, apreender 12 mil armas em 21 meses é muito ou pouco? Comparando com o quê?
Correção
Thiago Candido da Silva apontou um erro na Crítica Interna do dia 7/10. A observação foi feita no mesmo dia, mas por descuido meu não havia ainda sido publicado. Aí vai:
‘No trecho em que fala sobre a possível renúncia dos parlamentares petistas e do suposto apoio do planalto, você afirmou: ‘[Vale lembrar que o PT havia garantido que os seus deputados que renunciassem não receberiam legenda para disputar a eleição do ano que vem.]’. Há uma incorreção nesse trecho. Quem defendeu a não legenda para quem renunciar foi o presidente Tarso Genro, que levou a proposta à executiva do partido, que recusou. A própria Folha à época afirmou que a pressão exercida pelo Dep. Zé Dirceu foi o motivo da não aprovação da medida’.
Aviso
Participo amanhã, em São Paulo, do 5º Congresso Brasileiro de Comunicação no Serviço Público. Por esta razão não haverá a Crítica Interna.
18/10/2005
As manchetes são todas sobre as renúncias dos dois deputados do PT e do PMDB. A da Folha é a que traz menos informações, apenas noticia o que desde de ontem à tarde já era de conhecimento geral (rádios, TVs e Internet). E não explica a razão da surpresa de Lula quando soube que apenas um petista renunciara, embora a reportagem da página A5 faça referência direta às expectativas do Planalto (‘Desfecho prolonga crise até 2006 e atrapalha Lula’).
As manchetes dos concorrentes têm mais informações.
Folha – ‘Dois renunciam para evitar cassação’.
‘Estado’ – ‘Renúncia de só 1 petista frustra Planalto; Câmara julgará 14’.
‘Globo’ – ‘Ex-líderes de PT e PMDB renunciam; relator pede hoje cassação de Dirceu’.
Escândalo do ‘mensalão’
Fez bem a Folha em publicar a íntegra da carta do deputado José Dirceu a seus pares, ‘A mídia me condenou’, na página A6 da Edição SP. Nesta fase de ataques contínuos à imprensa, é mais um documento violento e cria dois novos conceitos: a ‘ditadura da imprensa’ e o ‘partido da mídia’. É mais um documento para a própria imprensa se discutir e discutir o seu papel nesta crise.
O TSE decidiu ontem tornar mais rigorosas as punições nos casos de uso de caixa dois em eleições. Não vi na Folha.
Saúde
Deveriam ter sido editadas juntas as reportagens sobre a gripe aviária que estão em ‘Mundo’ (‘Grécia é o 3º país europeu com gripe aviária’, pág. A14) e em ‘Ciência’ (‘Doença de ave não será nova gripe espanhola, afirma pesquisador’, pág. A16).
Pecuária
O infográfico ‘Novos focos da doença em Mato Grosso do Sul’, na capa do caderno ‘Dinheiro’, é muito incisivo ao atribuir a origem do foco de febre aftosa na fazenda Vezozzo ao gado paraguaio. Pelo que entendi, não há comprovação disso. Segundo a Embaixada do Paraguai em Brasília, o país é livre de febre aftosa.
Aliás, este é o tipo de informação que não precisa ser atribuído a uma das partes envolvidas, é fato ou não é. Basta consultar as autoridades responsáveis, no caso a Organização Mundial de Saúde Animal ou o Centro Panamericano de Febre Aftosa.
Violência
Com apenas quatro páginas, a Edição Nacional do caderno ‘Cotidiano’ da Folha ficou sobrecarregada de crimes e violências. Na Edição SP, com oito páginas, o espaço foi dividido com outros assuntos e ficou um pouco menos pesado.
A Folha informa, na Edição Nacional, que o ‘Jornal do Campus’, da USP, publicou um editorial em que critica a cobertura da imprensa no caso do assassinato de um aluno de jornalismo, mas não reproduz a crítica feita (‘A redação está abalada, afirma diretor da rádio’, capa do caderno ‘Cotidiano’).
Estiagem na floresta
O jornal ainda trata mal o noticiário sobre a seca na Amazônia. A edição de hoje junta numa mesma reportagem a observação local da repórter, uma discussão mal desenvolvida sobre o Protocolo de Kyoto e notícias sobre a estiagem no Pará (‘Helicóptero leva alimentos a áreas isoladas’, pág. C4 da Ed. Nacional e C8 da Ed. SP).
Efeito estufa
Ficou confusa a reportagem ‘Teto de ‘escola de lata’ atinge 60º’ (pág. C4 da Ed. Nacional e C8 da Ed. SP). O texto informa que a Secretaria de Educação nega que haja escola de lata, mas a própria secretaria diz que há um plano de desativar estas escolas. Os números também confundem porque misturam dados estaduais com dados da Grande São Paulo e da capital.’