Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Daniel Castro


‘Repórter especial da Globo, Carlos Dorneles enviou terça-feira a uma extensa lista de jornalistas da emissora e-mail em que, numa iniciativa inédita, critica abertamente a cobertura que a rede vem fazendo da crise política.


Diz o e-mail: ‘Ontem [segunda] fiz uma matéria sobre as tentativas de intermediações do irmão do presidente Lula. Denúncia baseada em matéria de ‘Veja’ de dois dias antes. Saiu no ‘JN’, com o devido destaque. Mas, no mesmo dia, o ‘Estadão’ dava matéria sobre a descoberta de conexões entre Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério, e o comitê de campanha de José Serra. Não demos. Seria uma ótima oportunidade para mostrar que estamos fazendo uma cobertura jornalística da crise política. Falhamos’.


A carta agitou os bastidores do jornalismo da Globo.


Para Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Globo, ‘divergências sobre a publicação ou não de matérias são fato rotineiro, e salutar, em todas as boas redações’. ‘Vimos com naturalidade as ponderações de Carlos Dorneles e lamentamos que elas tenham sido feitas com atraso. Dorneles reconhece que a melhor atitude teria sido travar a discussão antes dos telejornais daquele dia. Os telespectadores da TV Globo são testemunhas de que a postura de nossos telejornais é de buscar sempre total isenção’, diz Kamel.


Segundo a Globo, Dorneles disse que sua crítica foi pontual.


OUTRO CANAL


Aborto 1 O SBT vai encurtar em um mês ‘Os Ricos Também Choram’, novela que fracassou no Ibope (média de sete pontos). A trama, que iria ao ar até o final de janeiro, acaba antes do Réveillon.


Aborto 2 Oficialmente, o SBT diz que ‘Os Ricos’ será abreviada porque a emissora irá estrear novos programas em janeiro e fevereiro de 2006, ano em que completa 25 anos. Mas a substituta de ‘Os Ricos’ não deverá ser nenhum novo ‘reality show’, mas uma novela mexicana dublada, que taparia buraco de programação até março, quando está prevista a entrada de ‘Cristal’, sua nova novela.


Espinho Chama-se tendinite calcárea do supra-espinhoso a doença que levou Mário Prata a se licenciar de ‘Bang Bang’, novela das sete. ‘O nome é bonito, mas acho supra-espinhoso demais!’, brinca.


Polêmica 1 Ex-diretor do ‘Show do Tom’, Vildomar Batista reclama que foi prejudicado por título publicado aqui há uma semana (‘Record veta ‘mensalinho’ em programas’, sobre proibição de empresários de artistas dirigirem atrações). Batista é empresário de pelo menos um dos artistas que levou para o ‘Show do Tom’, o humorista Pedro Manso.


Polêmica 2 ‘Não recebo comissão sobre o salário do Pedro Manso. Não existe mensalinho nem sou um pessoa corrupta’, esclarece Batista.’



REFERENDO NA MÍDIA


Barbara Gancia


‘Deu a louca na revista ‘Veja’?’, copyright Folha de S. Paulo, 14/10/05


‘Pode ser implicância minha, mas estou com a ‘Veja’ entalada na garganta. Com farta lista de serviços prestados ao país, parece que a revista resolveu jogar sua sobriedade pela janela se convertendo em uma louca de Chaillot indócil, que atira para todo o lado e reage com histeria aos fatos que deveria relatar com imparcialidade.


Assino ‘Veja’ há 20 anos, leio a revista de cabo a rabo assim que a recebo e faço parte do grupo que acredita que o governo do PT é um embuste digno da queixa coletiva de 121 milhões de eleitores ao Procon. Mesmo assim, não consigo entender a fúria atual de ‘Veja’. Tome, por exemplo, a capa da semana passada, em que a revista apresentava sete motivos para votar ‘não’ no referendo sobre as armas. Estranha conta, sete. Não existiriam motivos suficientes para arredondar o número para dez? E estranha escolha de motivos. O primeiro deles, de que ‘os países que proibiram a venda de armas tiveram aumento da criminalidade e da crueldade dos bandidos’ não encontra respaldo nos dados fornecidos por países que adotaram políticas de desarmamento, como Japão, Austrália, Holanda e Reino Unido.


Outro motivo apresentado, o de que o desarmamento é ‘historicamente um dos pilares do totalitarismo’, não só tenta vincular de forma sub-reptícia a campanha pelo desarmamento à agenda do PT (sendo que o movimento nasceu na sociedade civil e tomou vulto no governo FHC), como ecoa a ladainha alarmista da direita truculenta.


Um dos argumentos usados por Eurípedes Alcântara, diretor de Redação de ‘Veja’, para explicar a opção da revista pelo ‘não’ foi o de que ‘um referendo que pergunte ao cidadão se ele quer ter direitos básicos suprimidos não deveria ser proposto jamais. Em sendo, merece apenas uma resposta: não’. Ora, se esse é o posicionamento da revista, em vez de oferecer sete motivos para votar ‘não’, não teria sido mais coerente fazer uma capa apontando a inconstitucionalidade do referendo?


‘Veja’, que se ufana em apontar o dedo para repórteres que recebem iPods de gravadoras, poderia ter sido mais generosa com o leitor ao explicar sua opção pelo ‘não’. Para não deixar dúvidas no ar, por que a revista não nos contou que a empresa à qual pertence paga aluguel de cerca R$ 1 milhão à família Birmann, da construtora homônima, que vem a ser proprietária do prédio que serve de sede da Editora Abril e também, veja só, da CBC, a Companhia Brasileira de Cartuchos?


QUALQUER NOTA


A troco?


Ficamos sabendo que as raízes de Marisa Letícia da Silva dão à primeira-dama o direito de possuir o passaporte italiano que acaba de lhe ser concedido. O que eu queria entender é por que a mulher do presidente da República precisa ter um passaporte de outra nacionalidade.


Finalmentes


Aposto um picolé de limão como falta muito pouco para que Paulo Maluf e seu filho Flávio deixem a detenção da Polícia Federal. Afinal, as testemunhas do inquérito que os Maluf supostamente tentaram influenciar já foram todas ouvidas.’