‘Vários municípios brasileiros têm denominações curiosas. Outros levaram a língua portuguesa a divertidos impasses. Erexim (RS) lutou para substituir ‘ch’ por ‘x’. Valinhos (SP) deve seu nome aos primeiros imigrantes italianos. Eles cavavam pequenos valos para demarcar as propriedades. Outras localidades recorreram a plebiscitos para fixar seus nomes.
A palavra e o ato vieram do latim. O direito romano e a língua latina chegaram incólumes ao português, se desconsiderarmos que a escrita sofreu pequena alteração, de plebiscitum para plebiscito. O latim juntou duas palavras numa só: plebs, plebe, povo, classe social oposta ao patriciado, à nobreza, à aristocracia, e scitum, decreto, palavra formada a partir do verbo sciscere, perguntar, saber, conhecer, decidir. Veja-se que ciência, do latim scientia, tem a mesma raiz.
Em São Paulo, vários municípios que cercam a metrópole obedeceram a uma seqüência que levou em conta a ordem alfabética, como é o caso da região conhecida como ABC, iniciais dos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano, depois acrescida de Diadema.
Diadema recebeu este nome por sugestão do jurista e professor Miguel Reale, que tinha sítio na região. Ele deu duas razões para o nome, uma lógica e outra estética. Diadema dava seqüência às denominações anteriores, além de semelhar, por metáfora, ornamento para São Paulo, uma jóia na coroa. Elevado a município, conservou a denominação distrital.
O latim diadema, faixa para enfeitar a cabeça, veio originalmente do grego diádema, pela formação diá, através, e déo, formando o verbo diadéo, amarrar, atar. O diadema podia ser de pano, em geral linho muito fino, mas também de metal, incrustado de pedras preciosas, à semelhança das coroas reais.
Vários municípios ostentam contribuições eruditas. Mesópolis, no interior de São Paulo, tem este nome porque um riacho, o Córrego do Meio, divide a cidade em duas. Quem lhe deu tal denominação recorreu ao grego pólis, cidade, e mesos, meio.
Outras vezes, os nomes foram inspirados em matéria diversa. É o caso de Registro, também em São Paulo. Na região havia um porto fluvial onde as embarcações, desde os tempos coloniais, ancoravam para fazer o registro das mercadorias transportadas, evidência de que era longo o braço da monarquia portuguesa quando se tratava de cobrar impostos e punir, como atesta a precedência que os presídios e as alfândegas tiveram sobre as escolas desde as origens do povoamento do Brasil.
Padres, soldados, comerciantes e fiscais chegaram antes de professores e outros intelectuais, a menos que as aulas fossem ministradas em igrejas e conventos. Por motivos análogos, as santas casas de misericórdia precederam os hospitais. Nossa crise no ensino e na saúde tem raízes antigas, como se pode depreender das palavras. Os primeiros habitantes só podiam recorrer ao padre e à igreja nos dois casos, pois o poder secular os abandonara à própria sorte. Tinham poucos direitos. Em caso de doença, dependiam da caridade. Sem escola, predominavam os ensinamentos de sermões e homilias.
De resto, a presença de tantos santos nas denominações de nossos municípios ilustra a onipresença de índios e padres letrados. Pouco a pouco, porém, genocídios diversos tornaram naturais as elipses processadas nos nomes. E, à semelhança do que ocorreu em muitas outras denominações, as duas megalópoles brasileiras abreviaram seus nomes. São Paulo de Piratininga tornou-se conhecida como São Paulo apenas. O católico derrotou o índio. No caso de São Sebastião do Rio de Janeiro, os derrotados foram dois: o santo e o rio. Nem por isso a irmã paulistana está mais protegida.’
JORNAL DA IMPRENÇA
‘Raquetada do Juca’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 27/05/04
‘O considerado leitor Rogério Ferraz Alencar, de Fortaleza, lia entrevista do sempre criativo Juca Kfouri em CartaCapital, quando o queixo lhe desabou sobre o colo:
CartaCapital: O que significa esse gesto?
Juca Kfouri: Guga é o primeiro esportista brasileiro, com a popularidade que tem, a colocar o dedo na ferida e a deixar o rei nu. O melhor jogador masculino da história do nosso tênis vai deixar de jogar a Copa Davis, uma copa do mundo do tênis(…).
Alencar pergunta: ‘O que vocês acham desse jogador masculino?’. Olhei para Janistraquis, ele olhou para mim e aconselhou: ‘Considerado, embora o Juca se refira, nas entrelinhas, a Maria Esther Bueno, é melhor responder que a gente não acha nada…’.
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Noblat, não!!!
Janistraquis lia o excelente blog do nosso considerado Ricardo Noblat quando o queixo lhe desabou aos pés:
25/05/2004 11:16
Falei há pouco com meu homem infiltrado na comitiva de Lula em Pequim. Quando ele começava a me contar boas histórias, a ligação caiu. Uma pena. Tomara que ligue de novo.
Rigorosamente em estado de choque, urrou meu secretário:
‘Jesus todo-poderoso: Noblat, NÃO! NÃO!!!’.
É mesmo doloroso ler-se algo assim; tomara que não seja verdade, tomara!
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Batendo palmas
Celsinho Neto, considerado diretor da sucursal desta coluna no Ceará e adjacências, passava o rabo do olho n’O Povo, de Fortaleza, quando foi, digamos, zagunchado por essa maravilha de título da editoria de esportes:
15 de Novembro bate Palmas fora de casa.
‘Arriégua!’, exclamou Celsinho, que meteu os pés da rede para entender que o buraco era mesmo mais embaixo, onde o texto esclarecia:
A equipe do 15 de Novembro de Campo Bom (RS), que podia até perder o jogo, surpreendeu, bateu o Palmas por 1 a 0 e garantiu uma vaga na semifinal da Copa do Brasil.
Nosso diretor desaprovou: ‘E é preciso sair de casa pra bater palmas? Esse título, definitivamente, não é digno de aplausos…’
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Evacuando
Cristiane Pereira, nossa fiel e considerada leitora, pergunta a Janistraquis:
‘Olhaí a chamada do site do UOL… não existe palavra que possa substituir ‘evacuado’? Não está exatamente errada, mas é totalmente horrorosa, concorda? Não fica parecendo que as rachaduras fizeram c… no Aeroporto? O tal do evacuar é mesmo uma tristeza! Êta palavrinha difícil, né?’
Janistraquis concorda, ó Cristiane; evacuar dá sempre a impressão de que alguém andou a tomar um daqueles purgantes de antigamente, à base de um tal de sal amargo (não confundir com Saramago). Poder-se-ía usar o verbo esvaziar, sem nenhum prejuízo para a notícia, cujo teor está aqui.
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Descascar alho…
O considerado André Fiori Patricio leu na Folha Online:
Republicanos protestam contra casamento de príncipe espanhol
da France Presse, em Madri
Republicanos e nacionalistas espanhóis protestaram neste sábado contra o casamento do príncipe herdeiro, Felipe de Borbón, e da jornalista Letizia Ortiz, realizando uma manifestação paralela na praça Dos de Mayo, em Madri (…) Os manifestantes soltaram balões violetas, amarelos e vermelhos, as cores da 2ª República espanhola, proclamada em 1931 e vítima em 1936 do golpe de Estado do general Francisco Franco, que restaurou a monarquia.
Janistraquis concorda com você, Patrício: o redator ouviu o galo cantar, todavia passou a história da Espanha pela máquina de descascar alho. Na verdade, segundo nos ensinam as enciclopédias, o ditador Francisco Franco, que se autodenominava ‘Caudilho da Espanha pela Graça de Deus’, indicou o príncipe Juan Carlos de Bourbon como seu sucessor, mas isso só aconteceu em 1969.
E o generalíssimo, que não pertencia aos quadros do PFL mas também não largava o Poder nem a pau, permaneceu no cargo, apesar dos vários ataques cardíacos que sofreu. Morreu em 20 de novembro de 1975, em Madri, aos 83 anos de idade. Em 29 de dezembro de 1978 a Espanha volta a ser uma monarquia constitucional e o país reencontra-se com a democracia.
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Atolada no brejo
O considerado leitor Thomaz Magalhães bateu os olhos num despacho da Agência Brasil e ficou indignado:
‘Não tive saco de olhar o que está escrito depois do ‘leia mais’ para saber o que seria um nível suportável de corrupção’. Eis o despacho:
Brasil
Ministro destaca esforço do governo para reduzir corrupção a níveis toleráveis.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, garantiu hoje que o governo federal vem desenvolvendo focos para diminuir a corrupção no Brasil, e para isso está prendendo funcionários, juizes, delegados e botando o dedo na ferida, ao cortar na própria carne.
Janistraquis também ficou deveras impressionado, ó Magalhães; quando o governo tenta ajustar o nível da safadeza é porque metade da vaca já está atolada no mais negro e movediço dos brejos.
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Sorridentes
Nosso considerado Roldão Simas Filho, diretor da sucursal desta coluna no Planalto, de onde não se pode ver, infelizmente, como se comporta José Alencar na Presidência da República, lia o caderno C do Correio Braziliense quando deparou com o seguinte texto:
‘LANÇAMENTO DE GALA – Noite de autógrafos dos volumes de crônicas do presidente do Senado, José Sarney, reuniu o mundo social, político e cultural da cidade (…) Ao ver um amigo ou alguém especial, (Sarney) aproveitava para trocar meia dúzia de palavras sorridentes. Depois voltava à faina.’
Roldão, que perdeu a paciência há décadas, comentou:
‘O evento foi tão cordial que até as palavras sorriam…’
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Fala o professor
O físico nuclear José Goldemberg, secretário de Ciência e Tecnologia no governo Collor e atual secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, disse, em corajoso pronunciamento na TV, que o Brasil pode ser vítima de retaliação americana se vender urânio à China; então, ‘é melhor e mais prudente ficarmos na exportação de soja…’
Janistraquis, fã de Goldemberg, a quem chama de ‘Clóvis Bornay da Física’, aprovou: ‘Considerado, temos sempre que escutar as opiniões e advertências do professor; você não lembra do que ele alegou, há alguns anos, para justificar sua paixão por São Paulo? É que, na Avenida Paulista, podia comprar o The New York Times todos os dias. Isto sim é que é um exemplo marcante de seriedade científica!!!’
É verdade; Goldemberg disse isso, com todas as letras, numa entrevista à Rádio Jovem Pan.
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Nota dez
O melhor texto da semana é da competente lavra de Luciano Martins Costa no Observatório da Imprensa:
JORNALISMO PARTICIPATIVO
A imprensa no ponto de ruptura
Luciano Martins Costa (*)
A crise da imprensa – latente e sistêmica no cenário internacional e aguda, estrutural, no Brasil – tem como pano de fundo, no primeiro caso, a tendência à concentração da propriedade dos meios e a perda crescente de credibilidade, e, no caso brasileiro, a falência evidente de um modelo que tem sido, historicamente, a principal forma de expressão do jornalismo como instituição democrática – a empresa familiar. Como em todo processo de transformação, por baixo dessa crise pode estar surgindo uma forma completamente nova, e mais igualitária, de jornalismo(…)
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Errei, sim!
‘TERREMOTO GAÚCHO – O leitor Marcelo Soares da Silva, de Porto Alegre, está convencido de que o terremoto japonês afetou de algum modo a sede do Correio do Povo, tantos foram os danos causados à informação. A capa do Correio informava que:
– Kobe dista 450 quilômetros de Tóquio;
– O mais violento terremoto anterior ocorreu em 1952;
– O referido matou oito mil pessoas.
Lá dentro do jornal, soterrado pelos escombros do desleixo, Marcelo encontrou:
– Kobe dista 500 quilômetros de Tóquio;
– O terremoto mais calamitoso ocorreu em 1948;
– Este de agora matou 3.769 pessoas.
Janistraquis suspirou: ‘Considerado, absurdos como esse serão evitados futuramente; afinal, o Marcelo passou no vestibular de Jornalismo da UFRGS’.
Como diz Mino Carta, cubra-se de glórias, Marcelo!’ (março de 1995)’