Era ele mesmo. Menos de 24 horas depois de haver sido cassado, em julgamento, por seus pares, na Câmara dos Deputados, ali estava o Furacão Dirceu, impávido, tranqüilo, sentado diante do entrevistador Alexandre Garcia, na telinha da Globo News, mais parecendo um ocupante de cargo importante da República, do que um político banido, pela segunda vez, na história política brasileira.
Estava assim como uma visão da Fênix, ave renascente, de fôlego imbatível, e de tudo o que falava, por mais que o interlocutor o colocasse no olho da tempestade, não havia como negar: o Zé Dirceu é ele mesmo, a própria intempérie.
Com mandato ou sem ele, o foco das atenções, na medida em que a mídia lhe oferece espaço, aponta para um Dirceu de comportamento inteligente e estudado que, mesmo sem os holofotes do púlpito congressista, ou longe dos palanques das praças públicas, na calma do estúdio televisivo denota a segurança de um mestre em vida pública.
Em franca produção
O programa Espaço Aberto, transcorrido com o clima de rescaldo que o jornalista experiente tentou instigar, apresentou, no entanto, um Dirceu capaz de fazer profundas análises pelo momento nacional, projeções futuras para as eleições de 2006, colocações repetidas sobre seu inconformismo com o episódio da cassação, mas, sobretudo, mostrou que ele, enquanto político atuante, não sofreu solução de continuidade.
Em dado instante, o experto Alexandre Garcia tentou induzi-lo ao auto-exame do comportamento do seu partido, o dos Trabalhadores, como se fosse a chave para a crise. E o Furacão Dirceu, articuladíssimo, reavaliou com a destreza de um decano, sem demonstrar um resquício sequer que o fizesse parecer acuado, confessando o arrependimento de ‘não termos feito as reformas políticas no primeiro ano do governo Lula’.
O programa da televisão de notícias do Sistema Globo, tal a contemporaneidade com o fato, saiu na frente dos concorrentes, trazendo ao público um Dirceu que aproveitou a oportuna chance para dizer, com postura sutil e estrategista da linha de ação: a tempestade só amainou, porque aí teremos ventos fortes, que se formam na disputa pelo poder do ano que vem.
Encontra-se em franca produção a nova série Dirceu Furacão.
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Jornalista e professora universitária, Rio de Janeiro