“E aí, órfãos, dia triste hoje, não?” A frase do humorista Rafinha Bastos, publicada no Twitter no último Dia das Mães (onde ele é deus, com mais de 2 milhões de seguidores) provocou revolta.
Também pegou mal uma outra de suas “piadas”, divulgada dias antes, em que falava que um homem que estupra uma mulher feia está “fazendo um favor” e “merece um abraço”.
Há algo de esquizofrênico na personalidade do comediante. O mesmo sujeito que acha graça em brincar com sentimentos de órfãos e em fazer piada com estupro é aquele que ficou famoso ao apresentar, no CQC, o quadro “Proteste Já”, que aborda questões de cidadania e direitos. Ou seja, coisa de um verdadeiro “bom moço”.
O mesmo aspecto de “o médico e o monstro” -Dr. Jekyll e Mr. Hyde da obra de R.L. Stevenson- acompanha a trajetória de Danilo Gentili, outro apresentador do programa CQC.
Quem o assiste na TV, cobrando coerência de deputados e senadores, pode achar que se trata de um repórter engajado, zelador da ética perdida no país.
O tal “bastião ético” é o sujeito que fez piada no Twitter (onde é rei, com mais de 1,6 milhão de seguidores) dizendo que os velhinhos de Higienópolis não aprovavam o metrô porque, da última vez que pegaram um trem, foram parar em Auschwitz.
Os integrantes do CQC, com suas “matérias-denúncia”, passam uma credibilidade enganosa, usada por eles para mostrar suas facetas preconceituosas e fascistas nos palcos e na internet.
Estranhamente, deve ser por isso que fazem tanto sucesso. Eles devem agradar à parte da plateia que posa de politicamente correta, reclamando dos “corruptos de Brasília”, mas que não vacila na hora de falar que “isso é coisa de viado”.
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Colunista da Folha de S.Paulo