Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ápice da boçalidade

“Pode bisbilhotar. É a fofoca em horário nobre e em escala nacional. Não fique de fora, espie à vontade”(Pedro Bial, apresentador do BBB)

Nessa mixórdia toda, o que menos conta é o estupro ao vivo e a cores que, aliás, não aconteceu. Vê lá se o BBB carece de qualquer ingrediente escabroso extra para alcançar de forma estrepitosa, como do gosto dos que o produzem, o ápice da boçalidade!

A tal cena de sexo explícito que tanta polêmica rendeu, admitida consensualmente pelos personagens atracados sob as cobertas e, inequivocamente, pelos que conduziram as lascivas filmagens, não passa mesmo, no duro da batatolina, de baixaria encaixada no enredo para fazer crescer ibope. O mau gosto dominante no mais difundido reality show em exibição, como todos os demais um desfile de barbaridade e vulgaridade que empobrece culturalmente a televisão, é congênito. Mal de raiz, por assim dizer. Está na essência, no conceito do programa. Não é agora que as barreiras éticas, e até mesmo legais, estão sendo transpostas. Isso vem acontecendo desde o começo da nefasta série. Desde quando a Globo resolveu abdicar de sua privilegiada condição em ocupar o espaço nobre concedido ao BBB com entretenimento de qualidade nascido do engenho e arte da talentosa equipe de produtores, atores, diretores e intérpretes responsável, no passado, pelo assim denominado “padrão global”. Esquecida de que o padrão global mencionado tem proporcionado à rede e seus colaboradores prêmios sem conta de ressonância mundial, na faixa dos espetáculos musicais, na dramaturgia e no jornalismo. Decisões despojadas de sensibilidade cultural e educativa levaram à desastrada opção de se por no ar, já neste momento em 12ª versão, um produto simplesmente inqualificável. Um programa de origem estrangeira extraído da sarjeta televisiva. Uma “atração” que cria, a todo instante, circunstâncias facilitadoras para que se possa rodar filmete pornô “adaptado ao ambiente familiar”, com o deseducativo intuito de impressionar plateia pouco exigente, que se deixa enredar pela babaquice e indigência intelectual das “celebridades instantâneas” convocadas a “estrelá-lo”.

Besteiragem e boçalidade

Não há como deixar de consignar, no episódio, que muitas reações furibundas derivadas das cenas do tal estupro que não houve, entre elas, de força realçante, o ato “moralizador” da Globo excluindo do “palco” o modelo profissional de epiderme escura por haver se comportado de “forma inadequada”, rescendeu a rematada hipocrisia. Puro farisaísmo. O que se viu e se reprovou é o que sempre se vê. Para fins de “moralização” em regra da coisa, a posição correta a tomar é reformatar o programa por inteiro. Melhor do que isso: retirá-lo para sempre da grade. Ocupar o espaço nobre mal utilizado com produto artístico e cultural de qualidade tolerável. Um produto que possa trazer, sim, resultados lucrativos, mas que não se apreste à disseminação da burrice, da mediocridade, da futilidade e da anti-cidadania.

No mais, é como disse um leitor, outro dia: os “bês” do programa querem dizer babaquice, besteiragem e boçalidade, apenas isso. Ou como lembra, em tirada bem-humorada, um outro leitor: não vai demorar muito para a direção do BBB excluir outro figurante pelo fato de haver sido pilhado em flagrante lendo um livro.

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[Cesar Vanucci é jornalista, Belo Horizonte, MG]