A Folhaé um grande jornal, mas para fazer televisão ainda tem que comer muito arroz e feijão. A aguardada estreia do TV Folha foi chatinha, insossa e muito aquém do prometido: TV inteligente no domingo.
Aliás, desde que as construtoras lançaram o edifício “inteligente”, esta palavra perdeu toda sua credibilidade e sex appeal. Deveria ser evitada.
Já na abertura: cinco minutos de um pratão requentado sobre a cracolândia paulistana. O que acrescenta ao já visto ou publicado no próprio jornal e site da Folha? Rigorosamente nada!
Segue entrevista com o prefeito Gilberto Kassab, absolutamente previsível, realizada pelo âncora (disfarçado ou arrependido?) Fernando Canzian e uma “partner” que entra muda e sai calada.
Tem algo legal? Tem: Laura Capriglione resumindo, sem a afetação de telejornalista, o imbróglio Pinheirinho [bairro em São José dos Campos], numa edição bacana e eficiente misturando fotos e entrevista com o megaempresário Naji Nahas, parece apontar um caminho ao formato trôpego.
Barbara Gancia na rua é um contraste à sonolência da redação que inclui trilha sonora de jazz e-socorro, me poupe!- ruído de páginas de jornal sendo folheadas.
A tal “entrevista exclusiva” com Chico Buarque -na verdade míseros segundos de reverências e mais obviedades- deveria ser denunciada ao Procon como propaganda enganosa.
Torço pelo sucesso do movimento da Folhaem direção à TV. Mas para isso acontecer, não se deve subestimar a inteligência do telespectador.
No último domingo, quem trocou o jornalismo “inteligente” pelas videocassetadas saiu ganhando.
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[Marcelo Tas é jornalista e âncora do programa CQC (Band)]