A TV Universitária brasileira é uma jovem senhora de 40 anos. Mas com corpinho de 14.
Seu ar jovial é graças às suas próprias características de adolescente – ainda indefinida quanto a sua personalidade, mezzo rebelde/obediente e independente/dependente. Mas também porque, para boa parte das pessoas, ela nasceu em 1995, com a Lei do Cabo. Poucos sabem que a verdadeira data de nascimento é de quatro décadas atrás, com o surgimento da ainda muito ativa TV Universitária de Recife.
Seus 40 anos, inclusive, foi menos comemorado do que merecia. Uma parte, imagino, pelo recato natural da senhora que não a deixa falar muito de si. Outra porque também se esconde em uma timidez construída por um ambiente onde as primas ricas, as TVs comerciais, são o destaque hegemônico da família.
O problema é que falamos muito pouco de nós mesmos. Como retraídos nerds, ficamos recolhidos em nossos pequenos estúdios e ilhas de edição, produzindo, produzindo, produzindo, na vã esperança que o mundo olhará para nós com um ar de orgulho e compreensão. Vá lá, nem precisa ser o mundo. O(A) Reitor(a) já estaria de bom tamanho!
Bem, é dura a realidade, mas geralmente o(a) Reitor(a) – e boa parte da comunidade acadêmica – tem mais o que fazer. Neste momento, algum outro setor da IES está batendo à porta solicitando que o seu pedido passe para a parte de cima da pilha de prioridades. E a nossa solicitação da compra de uma nova câmera afunda um pouco mais.
Mas também não condenemos assim tão rápido os tímidos guerreiros das TVs Universitárias. Afinal, são os únicos que matam um dragão por dia, mas têm que frequentar as aulas nas noites.
Luta diária
A TV Universitária brasileira é contemporânea de um grupo crescente de jovens adultos. Mesmo com quatro décadas, ainda mora com os pais. Mas não é só culpa sua. É uma relação de co-dependência entre pais e filhos, entre reitorias e suas TVs. Como na patologia, um se apóia no outro nas suas fragilidades, e não em suas forças.
E é filha, muitas vezes, de pais complicados. Ou relapsos, sem dar a atenção devida às potencialidades de sua cria; ou exigentes demais, cobrando da filha o que ela, ainda, não dá conta de fazer, por pura falta de apoio financeiro, estrutural (e emocional, porque não?) dos próprios pais.
Boa parte das reitorias considera suas TVs como mais um castelo feudal dentro da estrutura acadêmica. Algo a ser mantido ou rechaçado conforme a configuração política da reitoria ou do curso de comunicação social. Caso alguém defenda que isso é normal em todos os departamentos de uma universidade, comparo a TV com o departamento jurídico: pode-se mudar o reitor ou o diretor do curso de direito, mas ninguém irá questionar a necessidade da existência do departamento. No máximo muda-se a coordenação, o que é natural e esperado, mas está fora de questão a sua eliminação do organograma. A experiência já nos mostrou que a TV Universitária não conta com esse privilégio.
Não tenho dúvidas para falar da qualidade da produção das televisões universitárias, um sopro de ânimo neste hegemônico mundo televisivo brasileiro comercial, excelente em qualidade técnica mas pobre no resto. Diversidade de conteúdos, fontes, formatos, lugares, produtores. Ideias, ideais, visões de mundo… Tudo que as instituições de ensino se propõem a oferecer em um mundo ideal. E que boa parte das equipes das TVs Universitárias pelo país afora se mata para fazer e veicular.
Um retrato que ainda nos surpreende: a TV Universitária brasileira cresceu 700% desde 1995! Nenhum outro segmento de televisão cresceu tanto. Aliás, desconfio que nenhum país tenha tantas televisões universitárias em seu território. E ainda com um enorme potencial pois, apesar destes números, apenas 6% das IES do país tem sua televisão.
A TV Universitária, assim como a universidade brasileira, é diversa e assim deve ser. Nos orgulhamos dessa diversidade pois é justamente contra a hegemonia que lutamos. Mas é, antes de tudo, uma luta diária para agradar os pais, para que eles fiquem devidamente entusiasmados e, finalmente, o Reitor libere a compra daquela câmera!
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[Cláudio Márcio Magalhães é professor universitário, presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária]