Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

O eixo Rede Globo-Monsanto

No programa Globo Rural de 15/04/2012 foi veiculada uma longa reportagem sobre a Monsanto feita nos EUA. Nenhum ambientalista ou ativista norte-americano que critica a atuação da Monsanto foi entrevistado pelos repórteres do Globo Rural. Portanto, a matéria, que parece ter cunho jornalístico, funciona como uma excelente peça de propaganda da Monsanto e de seu milho transgênico.

A reportagem-propaganda foi veiculada justamente durante a realização da Cúpula das Américas, reunião de chefes de Estado e diplomatas em que os EUA fazem uma ofensiva diplomática para recuperar sua credibilidade e importância política e econômica na América Latina. Os EUA deixaram de ser o maior e mais importante parceiro comercial do Brasil. Mesmo assim, a Rede Globo preferiu veicular a peça de propaganda que produziu sobre a Monsanto. Não poderia ter feito uma matéria jornalística sobre a integração agroindustrial dos BRICs?

Vez por outra, o Globo Rural faz matérias sobre a criação de peixes, as novas tecnologias aplicadas à pesca e os problemas deste importante ramo de atividade produtiva. Neste momento, não seria mais barato, fácil e relevante os jornalistas daquele programa fazerem uma matéria sobre a influência negativa na pesca litorânea brasileira do vazamento provocado pela Chevron norte-americana? Uma das características da propaganda é enfatizar os pontos positivos de uma mercadoria e omitir seus pontos negativos. O comportamento jornalístico da Rede Globo indica claramente que os Estados também são mercadorias.

Algum tipo de regulação

A pauta do Globo Rural de 15/04/2012 evidencia a opção da emissora pelos EUA. A tentativa do clã Marinho de reforçar a política externa norte-americana neste momento é evidente, pois não só fez propaganda da Monsanto como evitou tocar no desastre ambiental da Chevron no Rio de Janeiro.

O Itamaraty, instituição pública encarregada de formular a política externa brasileira, aposta nos BRICs. Mas a Rede Globo, empresa privada que visa ao lucro, parece querer ter a sua própria política externa e enfiá-la goela abaixo dos brasileiros. O que a Rede Globo fez em 15/04/2012 com seu programa Globo Rural não foi exercitar a “liberdade de imprensa”, mas abusar de sua condição de empresa quase monopolista. O Brasil tem feito uma política externa coerente e eficiente, mas não tem uma rede de televisão tão grande quanto a Globo para reforçar internamente suas decisões diplomáticas. O clã Marinho, entretanto, usou a sua empresa para fortalecer a política externa norte-americana dentro do Brasil.

É por causa deste tipo de abuso que a mídia tem que sofrer algum tipo de regulação. A política externa brasileira não pode mais ficar à mercê de uma empresa privada que faz de tudo para impor sua própria política externa ao país.

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[Fábio de Oliveira Ribeiro é advogado, Osasco, SP]