Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fátima marca “encontro”, mas telespectador só aparece no primeiro

É claro que o título do texto é uma hipérbole, mas como o SBT ficou livre de concorrência infantil estava tão claro como o mar do Caribe: Fátima Bernardes brigaria pelo segundo lugar com a Record. Sinceramente, não imaginei que fosse tão rápido. A atração, que registrou 10 pontos na estreia, na última segunda (25/6), hoje já perde para os desenhos do SBT e briga contra a emissora dos bispos pela vice-liderança, amargando cinco pontos no Ibope.

Falar que o cenário está escuro, que o programa está monótono, as pautas surradas, mas que Fátima está bem à frente do Encontro já ficou batido. Todo mundo falou isso exaustivamente e eu não vou ser mais um a bater nessa tecla. A Globo sabe perfeitamente disso e já deve estar tomando providências. O foco foi pura e simplesmente fisgar o público da Record, que estava em alta com seus programas matinais. Esse tipo de atração agrada os anunciantes, especialmente com uma mulher que apresentou o principal jornal do país por anos. Unindo isso a uma boa direção e equipe na Globo pode dar um retorno altamente rentável. Não só pode como vai dar.

Se fosse em outra emissora, como todos sabem, esse projeto seria um tiro n’água, devido à impaciência pelos resultados, mas na rede carioca não é assim que as coisas funcionam. Afinal, não é a toa que ela é a primeira estação brasileira e vice-mundial, atrás apenas da poderosa ABC, do conglomerado Disney. Quando Fausto Silva passou por uma forte crise de audiência, de 1997 a 2002 – sendo 2001 o apogeu dela –, a Globo não o tirou do ar. Embora boatos dessem conta de que Luciano Huck ocuparia seu lugar, a emissora o bancou, investiu, deu a volta por cima. E desde 2003 é líder absoluto de audiência.

É dar tempo ao tempo

O Caldeirão do Huck estreou em 2000 e demorou cerca de três anos para que se tornasse líder incontestável. Na época, concorria com Raul Gil no auge pela Record e nada do que ele colocava conseguia superá-lo. Foram sucessivas derrotas (algumas até vexatórias) até que Luciano e sua produção encontrassem o caminho. E aí está hoje, mais um que conseguiu o primeiro lugar com paciência e apoio do canal.

É claro que na Globo tudo fica mais fácil. A probabilidade de dar certo é maior e o profissional tem uma tranquilidade maior em saber que a emissora fará de tudo e mais um pouco para que dê. E vai dar. Mas, isso vai levar algum tempo. Antes de isso acontecer, ainda nestas férias de julho, é inevitável que o Encontro leve uma surra no Ibope contra os desenhos do SBT. Algumas podem ser até escandalosas e vai acabar acontecendo. O erro da Globo foi outro: ter abolido a programação infantil em 100% pela manhã. Bastava transformar aquele “Bem Estar” em quadro, por exemplo, e dedicar ao menos uma hora, antes dos telejornais, aos desenhos animados. O vexame seria menor e inibiria essa crescente do SBT.

A conclusão é que a Globo vai insistir para que o Encontro dê certo. Até porque a fila de anunciantes dobra quarteirões e ninguém gosta de jogar dinheiro fora. Fátima tem ao seu dispor todo o elenco da casa e verba necessária para que se faça um produto de qualidade, além de um respaldo irrestringível.

O programa já tirou alguns pontos da Record, e agora é fazer com que as pessoas que estavam com a televisão desligada, liguem. E quem estiver vendo programas nos canais de TV por assinatura, mude. É dar tempo ao tempo.

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[Thiago Forato é jornalista, Ribeirão Preto, SP]