Em 1° de agosto, no programa Conexão SporTV,transmitido diariamente após o término diário de competições nas Olimpíadas de Londres, o apresentador e narrador Galvão Bueno discutiu com um dos comentaristas da emissora, Renato Maurício Prado, que participava também de outros programas do canal, como Redação SporTV, Troca de Passes e Bem, amigos.
O motivo do embate: em conversas de bastidores, Galvão cravou que a seleção brasileira de vôlei masculino teve caminho mais fácil à medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984) porque alguns países que compunham a União Soviética boicotaram o evento americano, em represália à recusa de muitos atletas dos Estados Unidos de participarem, quatro anos antes, dos Jogos de Moscou (1980).
Como principal força que fazia frente à delegação estadunidense no quadro geral de medalhas, ao perder atletas pela recusa de participar do evento, óbvio que o Brasil teria um adversário mais enfraquecido pela frente em todas as modalidades, assim como no vôlei que, diga-se, teve no belo time de 84 um divisor de águas na sua história, inaugurando uma fase vitoriosa a partir da década de 90.
Cobra-se o intocável
O problema nisso tudo? No ar, enquanto Galvão comentava o feito da “Geração de Prata” com Marcus Vinícius, um dos jogadores da época, Renato interveio e, em tom de brincadeira, pediu a Galvão que dissesse na frente do ex-atleta o que havia afirmado sobre o Brasil ter conquistado o segundo lugar muito por causa da ida de um time soviético mais frágil a Los Angeles. O narrador ficou em situação desconfortável e exigiu, já impaciente, que o colega retirasse o que havia dito. Renato também se exaltou. Depois, desculparam-se, mas as gentilezas parecem ter ficado só ali.
O que de tão absurdo Galvão disse? Rigorosamente, nada. A URSS estava desfalcada, o que facilitou o caminho do Brasil até a final. Se a Espanha chegasse à próxima Copa sem Xavi e Iniesta, fatalmente daria uma chance maior a um ou outro rival de avançar mais, sendo menos competitiva do que seria se tivesse os dois atletas. O que faltou a Galvão foi sustentar a opinião sem dar chilique. Com receio da situação indelicada, preferiu contornar, ao dizer que o país poderia ter tido trajetória mais complicada, mas negando que o Brasil não poderia seria vice.Ficou mais feio, pois o óbvio é que a seleção brasileira, assim como as demais adversárias, saíram favorecidas pelo boicote soviético, e a prata veio em função disso. Em outras palavras, foi o que Galvão sustentou em off. Simples assim.
Como normalmente acontece em qualquer área de atuação, a corda rompeu do lado mais fraco. Ao menos por agora, Renato Maurício Prado não terá seu contrato renovado. É que a imagem e seus deslizes permanecem um tempo maior em voga. E se, com isso, a TV teme prejuízos, que se puna a imperfeição, eis seu lema. Mas, será pra tanto? Impressionante a dificuldade que esse veículo tem de lidar com as falhas, com a sua atuação inexoravelmente permeada por defeitos. Cobra-se o intocável da TV, uma máquina que, assim com as outras, falha, controlada por homens que, assim como todos, falham.
Só Galvão foi posto na redoma. Simples de novo.
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[Thiago Cury Luiz é professor e jornalista, Alto Araguaia, MT]