Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Oportunidades que fortalecem uma visão crítica

É lamentável o baixo índice de audiência das TVs públicas, mesmo com relação aos programas mais diferenciados. Lamentável porque são oportunidades que, mais do que provocar apenas sensações visuais, estimulam o pensamento, a reflexão e o fortalecimento de uma visão crítica. Procurando por essas oportunidades consigo assistir regularmente a algumas delas, como Observatório de Imprensa, Ver TV, Brasilianas.org, Festival Internacional de Cinema na Cultura e alguns documentários históricos, entre outros. Todos ainda com pequena presença nas grades das programações das emissoras públicas e comerciais.

Ao longo da semana, passo uns dias no interior de Pernambuco e outros no Recife e a permanência varia de acordo com os meus compromissos e interesses. No interior tenho antena parabólica, o que me permite assistir aos programas já referidos. No Recife, o condomínio não permite instalação dessa facilidade e as opções ficam limitadas entre a TV aberta (local) ou por assinatura. Como não sou assinante, só tenho acesso às emissoras locais.

A TV Universitária da Universidade Federal de Pernambuco é uma delas e reproduz alguns dos programas citados acima. Prática louvável se não fosse o desrespeito que frequentemente é cometido. A emissora costuma interromper programas retransmitidos para dar espaço à programação local. Nada seria mais justo e sensato, tratando-se de uma TV educativa de Pernambuco, se a interrupção ocorresse após o término do programa retransmitido. Não é isso que ocorre.

Interesses do telespectador

No domingo (2/9), por exemplo, uma frase de Zuenir Ventura, no Conexão Roberto d’Ávila, foi cortada antes da sua conclusão. Estou falando da frase, não da entrevista. Depois de longos segundos com a tela escura e sem qualquer explicação ou esclarecimento, entrou um programa local que, por tentar seguir o modelo das redes comerciais, resultou numa atração pífia e de pouco interesse.

Como repetidora da programação de outra TV, a Universitária de Pernambuco se coloca entre a geradora e o telespectador (entre a fonte e o consumidor), devendo por isso mesmo respeitá-los. O telespectador, principalmente. Mas não: tal atitude não existe na TV Universitária e os responsáveis pela grade parecem considerar a missão cumprida, pois a enxergam pela ótica burocrática da observância de regras e procedimentos. Uma visão que não busca produzir os efeitos esperados de uma TV pública: oferecer ao telespectador oportunidades despretensiosas de lazer, cultura e informação.

Relatei o inconveniente às duas TVs envolvidas. A Universitária nada comentou e a TV Brasil informou que as repetidoras são livres para montar as suas grades. Sou grato à TV Brasil pela atenção, mas a resposta denotou uma visão igualmente burocrática por não considerar os efeitos, vale dizer os interesses do telespectador, em vez de se fixar nos acordos e contratos. É lamentável.

Provocar a reflexão

Lamentável porque, não bastasse a insistência das grandes redes comerciais oferecendo sensações quase puramente visuais e nada mais do que isso, com intenções de manter a audiência, observo que descasos como o da TV Universitária de Pernambuco levam, confirmam e reforçam a baixa audiência das TVs públicas, abrindo espaço à deliberada mediocridade das cadeias comerciais.

Estas cadeias, atuando como um “grande irmão”, estão a vigiar e dirigir uma assiduidade quase devocional da grande família brasileira aos seus fantásticos programas. Muitos glamourosamente temperados com cravo e canela para aumentar o regozijo do telespectador tornando-o cada vez mais uma figura acrítica e incapaz de escolher outras opções que possam estimular o pensamento e provocar a reflexão; práticas tão necessárias à seleção das informações que nos tempos atuais chegam em volume e rapidez jamais vistos.

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[Paulo Roberto Queiroga é arquiteto aposentado, Recife, PE]