Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Quem matou… o jornalismo?

Qual a razão de ser do jornalismo: a realidade ou a ficção? É essa a iminente pergunta que se faz ao perceber o espaço dado por Globo e Zero Hora a especulações relacionadas ao desfecho da novela Avenida Brasil. É a ficção pautando e ganhando considerável destaque em espaços que se dizem jornalísticos.

O modelo da cobertura que está sendo feita para o final da novela não é nenhuma novidade na grande imprensa brasileira. É o velho showrnalismo: cobertura a nível de entretenimento, com a opinião de “especialistas”, a fim de chamar a atenção e formar a opinião pública através do circo midiático. Foi isso que fez o Fantástico do último domingo (13/10) dar um espaço de quase 10 minutos à discussão sobre quem matou o personagem Max, de Avenida Brasil, e que Zero Hora repetiu em uma matéria de duas páginas no jornal de quinta-feira (18/10). Há ainda que se destacar que nessa edição de ZH nenhuma outra matéria foi contemplada com duas páginas.

Mas qual seria o valor notícia, a relevância jornalística da morte de um personagem ficcional? Ocorre que a grande mídia já naturalizou a quebra da fronteira entre jornalismo e entretenimento e agora vem se perdendo também na linha entre realidade e ficção. Porém, esse processo de inversões não vem acontecendo por acaso, ou pela simples perda de “qualidade” desses veículos. Isso acontece dentro de um modelo de jornalismo que trabalha pela alienação e despolitização. Exemplo disso é a reportagem no jornal ZH desta sexta-feira (19/10) sobre a moradora de rua que comprou uma televisão em prestações somente para assistir à novela. A reportagem em momento algum questiona a dominação consumista exercida pela programação da TV, nem a inversão de valores que há na história, e não questiona pelo fato de que a matéria vem para endossar e naturalizar práticas como essa que, assim como as empresas jornalísticas, funcionam dentro da lógica capitalista.

Jornalismo circense

Outro ponto relevante nessa cobertura é o do veículo se auto-pautando, ou seja, transformando o próprio veículo em notícia. É o que acontece quando o Fantástico, da Rede Globo, dedica quase 10 minutos, em um espaço de concessão pública, para tratar do final da novela Avenida Brasil, da mesma Rede Globo, e quando a Zero Hora, do Grupo RBS, filiado à Globo, dedica quatro páginas em dois dias ao mesmo tema.

E tudo isso é, infelizmente, apenas um exemplo entre tantos que diariamente se sucedem nos jornais, do tipo de jornalismo feito pela grande mídia: um jornalismo circense, pautado pelo mercado e que vem para promover a conservação através da alienação.

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[Bruna Andrade é estudante, Porto Alegre, RS]