Quando a novela “Guerra dos Sexos” foi exibida pela primeira vez, em 1983, Amanda tinha pouco mais de dois anos de idade e não assistiu à trama. Sua mãe, Ana, na época com 25 anos, agora lembra detalhes da história protagonizada por Paulo Autran e Fernanda Montenegro. Em outubro de 2012, uma nova versão de “Guerra dos Sexos” começou a ser exibida pela Rede Globo no horário das 19h e, desde então, mãe e filha se reúnem todos os dias para acompanhar a novela. Amanda, hoje com 31 anos, assiste porque quer conhecer a trama. Já Ana, com 54, quer relembrar a história e ver quais atores vão interpretar seus papéis favoritos.
Ana e Amanda são exemplos do perfil de telespectador que as emissoras de televisão pretendem atrair com um tipo de conteúdo que vem se tornando cada vez mais presente nas grades de programação: os chamados “remakes”. “O papel do “remake” é criar uma nova identidade para uma produção que foi exibida há tempos, encantando novas gerações e resgatando a memória afetiva do público que já conhece a história e seus personagens”, disse Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação.
A Globo, por exemplo, exibe “remakes” desde 1986, quando deu uma nova roupagem à novela “Selva de Pedra”. Mais recentemente, porém, a adaptação de antigos sucessos vem se tornando uma constante. Incluindo “Saramandaia” (que ainda não foi ao ar), a Globo anunciou nos últimos dois anos a exibição de “remakes” de cinco novelas. São elas: “Guerra dos Sexos”, “Gabriela”, “O Astro” e “Ti-Ti-Ti”. Seguindo a mesma linha, o SBT lançou uma nova versão de “Carrossel”, em exibição atualmente, e prepara para julho de 2013 o “remake” de “Chiquichitas”. Procurado pelo Valor, o SBT não concedeu entrevista sobre o assunto.
Além dos “remakes”, as reprises também estão em alta na TV brasileira. O canal pago Viva, da Globosat, é um símbolo dessa tendência e tem alcançado resultados positivos com base em sucessos do passado. “A dramaturgia é a nossa joia da coroa”, disse Letícia Muhana, diretora do Viva. De acordo com a executiva, esse é o segmento que mais atrai investimentos publicitários para o canal, especializado em exibir reprises. Desde seu lançamento, o Viva já apresentou tramas como “Roque Santeiro”, “O Rei do Gado”, “Por Amor” e “Vale Tudo”.
O reaproveitamento de conteúdos antigos, no entanto, não é visto positivamente por todos. Há críticos de TV que associam essa estratégia das emissoras com uma provável crise de criatividade entre autores contemporâneos de telenovelas. Do ponto de vista comercial, entretanto, as companhias parecem ter chegado a uma equação bastante favorável. A razão é simples: por tratar-se de conteúdos que já fizeram sucesso em outra época, o trabalho para convencer anunciantes é relativamente menor.
“É um produto que o mercado publicitário já conhece e que não tem medo de apostar”, afirma Letícia, destacando que o Viva surgiu com uma cota de 20 anunciantes fundadores. Entre os segmentos que mais investem em publicidade no canal pago, a executiva destaca os de higiene pessoal e beleza, higiene doméstica e mercado financeiro. Além do Viva, Letícia participou da criação dos canais GNT e Globo News, ambos da Globosat.