Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quem tem medo de Yoani Sánchez?

Aqueles que assistiram ao programa Roda Viva, exibido em rede nacional pela TV Brasil na segunda-feira (25/02), devem ter se perguntado por que os aloprados petistas hostilizam tanto a jornalista, filóloga e blogueira cubana Yoani Sánchez. Extremamente simpática, com uma postura que passa coragem e determinação, a convidada respondeu a todas as perguntas de forma direta e sincera. Ao contrário do “monstro” temido pelos “xiitas”, o que se viu foi uma pessoa gentil, inteligente e extremamente crítica quanto à realidade do seu país.

Pena que aqueles que a receberam de maneira hostil não lhe deram a oportunidade de falar a que veio e por que critica tanto o governo de Cuba. Na verdade, os aloprados só defendem a democracia quando esta lhes interessa. Apoiam a ditadura castrista, ignorando a repressão praticada pela ditadura mais longa da história. Se alguém se rebela, logo é acusado de ser reacionário ou agente da CIA.

Há que se analisar a revolução cubana sob dois prismas. Primeiramente veio o momento heroico, cujo auge se deu em 1959, quando Fidel Castro e seus compañeros da guerrilha de Sierra Maestra derrubaram a sanguinolenta ditadura direitista de Fulgencio Batista.

Efeitos do isolacionismo

Num segundo momento, ao se verem isolados pelo embargo econômico norte-americano, Fidel e seus aliados estreitaram laços com a antiga União Soviética. Afinal de contas, queriam atingir seus objetivos e se livrar do imperialismo e das pressões de Washington. A frustrada tentativa da CIA em invadir a Baía dos Porcos foi determinante nesse processo. Ora, isso demonstra o grande equívoco da política externa norte-americana. Produtora de açúcar e tabaco, Cuba não oferecia nenhuma ameaça aos interesses da Casa Branca antes de se tornar uma base avançada dos soviéticos nos calcanhares dos Estados Unidos. Havia interesses de grandes empresas e monopólios, mas que certamente poderiam ser revistos mediante uma política de boa vontade recíproca.

De lá para cá, a ditadura castrista foi tomando força, usando o embargo econômico e a ameaça de invasão como principais argumentos para justificar a guinada para o socialismo. Há que se lembrar que Fidel não se dizia comunista ao desembarcar na ilha, a bordo do iate Granma. Há até suspeitas de que tenha recebido apoio indireto dos norte-americanos, incomodados que estava com o crescente poder da máfia sob a proteção de Batista.

Embora letrado e muito inteligente, sendo capaz de discorrer durante horas sobre os mais variados assuntos, Fidel não teve competência para prever a derrocada da União Soviética, a partir da queda do muro de Berlim, em 1989. Colocou-se frontalmente contra as reformas de Gorbachev e pagou o preço de se ver novamente isolado com sua utopia absolutista.

O sonho virou pesadelo

O que os aloprados não admitem é que o sonho dourado do socialismo foi derrotado pela nova ordem mundial, tornando-se quase um pesadelo. No Oriente, a China vem implantando uma economia capitalista que já assombra o modelo ocidental, enquanto apenas a Coreia do Norte – governada por um débil mental – insiste no velho modelo. Sem recursos, Cuba parou no tempo e vive uma espécie de faz-de-conta. A estrutura financiada pelos soviéticos está emperrada por falta de investimentos e o embargo americano continua. O pior dessa realidade é que o governo ainda impede que o povo se manifeste livremente, como tenta fazer Yoani Sánchez. Como ela mesma denunciou no Roda Viva, se a repressão dos tempos de Fidel era efetiva e direta, no regime de Raúl Castro o processo se faz de maneira sutil, visando amedrontar e desacreditar os críticos do regime por meio de técnicas kafkianas de intimidação. A violência militarizada foi substituída pela ação paramilitar.

Em termos brasileiros, é surpreendente que entre os militantes de um partido cujo governo mantém excelentes relações com os Estados Unidos ainda sobreviva uma visão saudosista e atrasada, dos tempos em que a revolução cubana representava o avanço das utopias socialistas na América Latina. Estas deram lugar a figuras retrógadas, caricatas, populistas e antimarxistas, como Lula e Hugo Chávez.

Para bem ou para mal, o fato é que mundo mudou e o governo norte-americano tem aprendido a duras penas que sua política externa sempre foi criminosa e equivocada. No entanto, os irmãos Castro continuam parados no tempo, provavelmente com medo de que a verdade possa levá-los ao paredón ou, no mínimo, para a lata de lixo da história.

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[Jorge Fernando dos Santos é jornalista e escritor]