Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Meus pêsames, Bial

Ainda me lembro de um momento histórico transmitido por Pedro Bial: a queda do muro de Berlim (em 9 de novembro de 1989). Décadas depois (em 29 de janeiro de 2002) Bial passou a apresentar um programa que produz mentiras, futilidades e maus exemplos: o Big Brother Brasil. Bial trocou a veracidade dos fatos históricos para capitanear um reality show, permutou a credibilidade jornalística pelas 33 moedas de prata do BBB.

Bial, infelizmente, associou a sua imagem a um programa que produz farsas e manipulações televisivas – afastando-se assim do belo caminho jornalístico que produz verdades e não mentiras, que produz informações e não desinformações, que produz saber e não ignorância. Bial e outros colegas de profissão dele precisam relembrar constantemente do juramento do jornalista – um belo juramento que prometeram cumprir e que diz: “Juro exercer a função de jornalista assumindo o compromisso com a verdade e a informação. Atuarei dentro dos princípios universais de justiça e democracia, garantindo principalmente o direito do cidadão à informação. Buscarei o aprimoramento das elações humanas e sociais, através da crítica e análise da sociedade, visando um futuro mais digno e mais justo para todos os cidadãos brasileiros. Assim eu juro.”

Mas, lamentavelmente, o jornalismo e a TV brasileira têm se tornando uma grande fábrica de mentiras – uma fábrica de mentiras a serviço das moedas de prata, uma fábrica de mentiras a serviço dos poderosos, uma fábrica de mentiras a serviço do demônio da audiência.

Os muros da mentira

Sou do tempo de uma televisão criativa e possuo uma memória televisiva melhor do que muita gente que trabalha na TV: assisti em 1971 (com cinco anos de idade) à novela Sol amarelo (protagonizada pela grandessíssima atriz Laura Cardoso e pelo saudoso Milton Moraes) – alguém se lembra disso? Assisti Vila Sésamo, assisti aos primeiros capítulos do Sítio do Pica Pau Amarelo, assisti aos programas do invendível Flávio Cavalcante. Mas, infelizmente, o glamour do jornalismo, da televisão e da propaganda atraíram pessoas que não são talentosas e que estão mais interessadas no compromisso com o lucro do que com o compromisso com a ática, com educação e com a construção de um país melhor – o glamour da mídia tornou-se o seu próprio veneno!

Espero que jornalistas como Bial retornem ao bom e velho caminho do jornalismo – afinal como um jornalista prefere ser lembrado: como alguém que transmitiu um fato histórico ou como alguém que apresentou um programa de manipulações? Releia o seu juramento de jornalista Bial, relembre-se dos teus velhos mestres acadêmicos, relembre-se dos bons jornalistas que o inspiraram e, quanto às 33 moedas de prata, doe aos pobres para que tua consciência jornalística se redima do pecado de ter apresentado um programa que nada acrescentou a tua carreira (muito pelo contrário).

Pecados, todos nós temos – tomar consciência do que não faz bem a nossa alma e nem a nossa sagrada consciência é o primeiro passo para redimirmo-nos e trilharmos o caminho correto… E lembre-se sempre, Bial – muito melhor derrubar os muros da mentira do que ajudar a construí-los…

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Heribaldo de Assisé escritor, filósofo, poeta, compositor, redator-publicitário e licenciado em Letras