Deprimente, ligar o televisor no horário nobre. Telenovelas reinam em nossas noites há décadas… Fórmulas inumeráveis são repassadas, reprisadas e sempre reinseridas laringe adentro de nós, brasileiros, e de outros afins que têm suas noites ociosas pela lacuna deixada pela falta de bom senso em nossa amiga televisão.
Foi idealizada uma fábrica, mas não de sonhos como propagam, mas na pura realidade uma fabriqueta de recicláveis desencontros, intrigas e muitos enlaces desnecessários, muitas vezes sem data para acabar. Há quem diga que as novelas só deveriam ter dois capítulos. Mas convenhamos que na vida, o dia do nascimento, bem como o da morte, não são os únicos importantes. Muitos acontecimentos entre eles compõem um roteiro, digno de ser contado e comemorado.
Fantástico, esse mundo do faz de conta que somos ricos; milionários; executivos bem-sucedidos; desbravadores; ver amores desejáveis… Digo isso no sonhar, fantasiar. Mas o brasileiro aprendeu a valorizar o real. O telespectador tupiniquim vê TV e se delicia com o sentimento vivo, aquele no qual se sente de verdade e se tornou carro-chefe do horário nobre do tubo… De ensaio. Na fase de seleção, é um páreo duro. A mocinha tradicional saiu de cena e deu lugar a um corpo que luta por um lugar ao sol… Na piscina do reality show. Agora ela não chora por que seu amor está enlaçado pela trama, idealizada pelo autor de teledramaturgia. Debruça em lágrimas, por que o brasileiro se compadece do fraco; do humilde; do mais sincero; do injustiçado. E nessa jogatina, vale tudo pra chamar sua atenção compadecida.
“Ser fera”
Estou falando de um jogo onde o ganhador tem que perder seu caráter para ganhar visibilidade e dinheiro. Onde jogadores são instigados a gerarem contendas e florescer ervas daninhas em seus jardins, que por consequência enraízam inconscientemente na mente dos telespectadores dessas naves loucas. Triste ver fluir sentimentos reais, de pessoas formadas por estratégias destruidoras de dignidades humanas. A luta é por um ou dois milhões de… Inimizades, discussões ou diz que me disse para alavancar a audiência. E sempre é alcançada, por que o próprio ser humano premisse-a o esdrúxulo e o grotesco do fracassar humano.
Big Brother (grande irmão) é uma ironia de atração, ou diria traição? Mas trocando em miúdos, o BBB, como é conhecido, é um programa formado por muitos inimigos amigáveis, todos são resistentes e persistentes em se tratando de correr atrás de fama e grana. George Orwell (Eric Arthur Blair) idealizou um observador supremo que velava por todos. E mais uma vez uma história passa pela maquina da reciclagem, e o conto que era ficcional, cai a bailar com a realidade de sucesso nas páginas históricas dos meios de comunicação de massa. Parabéns! Temos o grotesco novelesco de veracidade. Elegemos este tipo como nosso passatempo predileto. Queremos acompanhar pela fechadura da porta, as ações que nos levaria a insanidade. Mas ver refletida nos nossos semelhantes famosos nos traz contentamento instantâneo.
Que pena! Não evoluímos muito desde lá, onde, quando não éramos capazes de produzir muitas coisas em meio a rochas de uma caverna qualquer. Apreciamos ainda caçar dentro de nós, sentimentos que nos tornam primitivos; mesquinhos. “nesta terra miserável” “entre feras”, como diria o poeta Augusto dos Anjos, sentimos a “inevitável necessidade de também ser fera”. E como colocou ainda outro poeta, “assim caminha a humanidade”, a passos lentos e sempre parando para contemplar o passado.
******
Francisco Júlio Xavier é estudante de Jornalismo