Sessenta e quatro por cento dos brasileiros consomem Internet e TV ao mesmo tempo. O dado, já bem conhecido do setor de mídia, foi complementado por Marcelo Coutinho, professor da Fundação Getulio Vargas e diretor de inteligência de mercado para América Latina do Terra, durante o TV 2.0, realizado pela Converge Comunicações na quinta-feira (4/4). Ele apresentou números de uma pesquisa feita pelo Terra com o instituto Ipsos que aponta onde está o foco de atenção dos espectadores multitask. Segundo o estudo, apenas 7% diz que o foco de atenção é a TV, enquanto 49% tem o foco na web e 44% em ambos.
Para Coutinho, “será decisivo para as empresas de mídia fazer seus conteúdos transitar entre as telas”.
Segundo ele, a Unilever fez um acompanhamento de comercial lançado na TV para jovens de 18 a 24, buscando levantar qual foi a captura de atenção do filme. O resultado foi que apenas 60% da audiência registrada no trade foi impactada. Para Coutinho, o estudo Terra/Ipsos explica o fenômeno.
Para ele, não há uma disputa entre os meios. Pelo contrário, o conteúdo televisivo é que alimenta as interações nas redes sociais. A pesquisa aponta ainda que 34% das pessoas pesquisa na web os produtos apresentados na publicidade na TV.
Conteúdo inclusivo
Com ou sem disputa, o professor da FGV acredita que o conceito de grade horária está desaparecendo. “Mas esse é o modelo sobre o qual a industria foi criada”, diz. Para comprovar a sua tese, ele cita a audiência dos Jogos Olímpicos em TVs conectadas. O consumo da Olimpíada neste dispositivo crescia nos finais de semana, mas não para ver conteúdo ao vivo, e sim partidas exibidas durante a semana.
“Como uma empresa de mídia sobreviverá ao fim da grade? Não há mais o monopólio da atenção na exibição de um programa”, provocou.
Segundo Coutinho, a atenção do consumidor trona-se escassa, com o aumento de informação disponível. “Hoje, a atenção é o bem mais valioso”. Por isso, diz, construir relevância na mídia deve seguir uma nova fórmula, somando o alcance à capacidade de gerar interação em múltiplas telas e diversos momentos e à capacidade de disseminação do conteúdo.
Flavio Ferrari, sócio da Qual Canal, startup brasileira que criou uma ferramenta para monitorar a repercussão de programas de televisão nas mídias sociais, discorda do fim do conceito de grade. Segundo ele, “o conceito de grade é o que permite tornar o conteúdo inclusivo. Para juntar 50 mil pessoas vendo o conteúdo ao mesmo tempo, somente com a grade”, diz.
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Fernando Lauterjung, do Tela Viva News