Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
IMPRENSA NA JUSTIÇA
Empresário quer intimidar a imprensa
‘Numa ação orquestrada para intimidar jornalistas e empresas de comunicação, fiéis e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus ajuizaram dezenas de processos por dano moral contra os jornais Folha de S.Paulo e Extra. O primeiro jornal publicou em dezembro uma extensa reportagem mostrando como o fundador da seita, ‘bispo’ Edir Macedo, usou o dinheiro do dízimo para montar um poderoso grupo empresarial, com o braço financeiro registrado no paraíso fiscal de Jersey. O segundo jornal noticiou a agressão a uma imagem de São Benedito – um santo católico – por um seguidor da Igreja, na Bahia.
Segundo a reportagem da Folha, o complexo empresarial de Edir Macedo é constituído por 23 emissoras de TV e 40 emissoras de rádio, o que o torna o maior proprietário de concessões do País. Além disso, o ‘bispo’ evangélico é proprietário de 19 outras empresas, dentre as quais 2 gráficas, 1 imobiliária, 1 agência de turismo e 1 firma de táxi aéreo, todas registradas em nome de seus ‘pastores’. A reportagem revelou ainda que a Universal arrenda as emissoras que integram a Rede Aleluia, que Macedo detém 99% das ações da TV Capital, geradora da Rede Record, e que ele tem à sua disposição um avião adquirido por US$ 28 milhões.
Nas dezenas de processos ajuizados contra a Folha, ‘pastores e fiéis’ da Universal reivindicam indenizações de R$ 1 mil a R$ 10 mil, sob a justificativa de que a reportagem lhes causou prejuízos morais. Nas ações contra o Extra, os autores alegam que o objetivo do jornal não foi informar, mas provocar a ‘ira’ dos católicos e criar um clima de ‘perseguição religiosa’, submetendo os seguidores da seita ao ‘risco diário de sofrer agressões físicas e discriminações’.
O que chama a atenção nessas ações de dano moral não é o baixo valor das indenizações pleiteadas nem a falta de fundamento nas justificativas, mas, sim, a estratégia utilizada pelo empresário para intimidar jornais e jornalistas. As ações contra o Extra foram ajuizadas não na cidade onde está a sede da empresa, mas em distintas comarcas no interior do Estado do Rio de Janeiro. Os processos contra a Folha foram protocolados em lugares ainda mais distantes – quase todos situados a cerca de 200 quilômetros da capital de diferentes unidades da Federação. E, embora as ações sejam individuais, quase todas as petições apresentam textos idênticos, deixando clara a existência de uma ação orquestrada.
Como os dois jornais têm de se defender em cada uma dessas comarcas, o expediente da Igreja os obrigou a contratar advogados nas cinco regiões do País, elevando significativamente os gastos das empresas que os editam. Além disso, como várias audiências foram marcadas no mesmo dia e em algumas cidades da Região Norte, cujo acesso somente se faz por barco, o departamento jurídico da Folha teve de montar uma logística especial para defender a empresa e a jornalista que assinou a reportagem. Muitos processos foram abertos em juizados especiais cíveis, o que, por lei, exige a presença do réu e aumenta os gastos das empresas com viagens e deslocamentos de advogados e jornalistas. E em vários processos os autores citam não somente os repórteres, mas também os diretores de redação – e todos são obrigados a comparecer às audiências, sob o risco de serem condenados à revelia.
Em nota de protesto, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) qualificou a estratégia da Universal como ‘intimidação ao livre exercício do jornalismo’. Para a entidade, os ‘pastores’ e fiéis que acionaram a Folha e o Extra não têm por objetivo ‘restabelecer a honra ou a verdade, mas apenas constranger empresas jornalísticas no seu dever de livremente informar a sociedade’. ‘É uma tentativa espúria de usar o Poder Judiciário contra a imprensa e privar o cidadão do direito de ser informado’, conclui a nota.
Felizmente, os magistrados encarregados de julgar esses processos já perceberam a má-fé dos reclamantes. Alguns juízes nem sequer acolheram as ações. E pelo menos um deles, Alessandro Pereira, da comarca de Bataguaçu, Mato Grosso do Sul, não só rejeitou sumariamente o pedido de indenização, como condenou o autor por litigância de má-fé. Com decisões como essa, a Justiça está tratando o querelante como o que ele realmente é – um ganancioso empresário bem-sucedido – e não como o pastor evangélico caluniado pelos inimigos da sua igreja, que é como ele se apresenta.’
ECONOMIA
Muito palpite, e ninguém sabe nada
‘O ministro Guido Mantega, da Fazenda, dizia nos jornais de sexta-feira que ‘a turbulência externa está se dissipando’. Mas, no mesmo dia, vinha de Londres a notícia de que um relatório do UBS – o banco suíço que parece ter-se candidatado ao pódio de sirene do apocalipse financeiro mundial – advertia de que, se a situação das seguradoras de bônus piorar, bancos em todo o mundo continuariam com o risco de ‘baixas contábeis adicionais de US$ 120 bilhões’ – além das que já tiveram, da ordem de US$ 150 bilhões.
No jornal Valor da última quinta-feira havia um artigo, transcrito do Financial Times, assinado por James Politi e John Willman (Recessão? Onde? Empresas dos EUA operam a todo vapor), repleto de opiniões e avaliações para todos os gostos, proferidas por pessoas da mais variada extração social e cultural – industriais, comerciantes, banqueiros e… claro, economistas. Uma frase do artigo resumia bem a charada moderna: ‘quando o assunto é a saúde da maior economia do mundo, parece que os economistas estão em Marte e os empresários, em Vênus’.
Referia-se à diferença entre as avaliações feitas nos dois círculos, o financeiro e o econômico, dos EUA. Enquanto nestes, os dirigentes, que cuidam da produção real, não enxergam, na sua maioria, nenhuma recessão, apenas, no máximo, alguma diminuição do ritmo de crescimento; aqueles, que cuidam da dança do dinheiro, dos títulos e das ações – enfim, do chamado mundo de papel pintado -, se assombram com tudo e reagem como ratos a qualquer manchete negativa.
Um exemplo foi o do efeito da fala de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), perante o Comitê de Bancos do Senado na quinta-feira passada. E o que foi que ele disse? Primeiro: que a autoridade monetária continuará agindo para estimular (estimular, vejam bem) a economia, o que obviamente é uma boa notícia para quem quer investir, trabalhar e produzir. Mas ele também disse que espera um crescimento econômico mais fraco no primeiro semestre deste ano – opinião que qualquer pessoa de bom senso, uma dona de casa comum, leitora de jornais e fã de novela, também teria, antes mesmo de entrarmos no primeiro semestre do ano, uma vez que, no ano passado, o ritmo de crescimento foi extraordinário.
Diante da sua primeira declaração, de que continuaria a estimular a economia, não houve reação alguma. Mas, diante da segunda, a rataiada do mercado financeiro saiu aos pulos como se tivesse pisado em raticidas: o Dow Jones caiu 1,40%; a Nasdaq, 1,74%; o índice da Bolsa de Frankfurt caiu 0,16%; e o Ibovespa caiu 1,23%.
‘As ações caíram porque subiram três dias seguidos e porque Bernanke rebaixou a economia’, comentou não sem forte dose de ironia o estrategista-chefe de uma consultoria, Art Hogan, que acrescentou: ‘O mercado estava buscando um motivo para realizar lucro e aqui está, apresentado sobre uma bandeja de prata ao vivo na televisão.’
Com isso, embora certamente não tenha sido sua intenção, ele pôs o dedo na mola que faz rodar as engrenagens do novo capitalismo mundial: a liquidez – e que começou esse trabalho em 1973, com a primeira crise do petróleo e a geração de um tsunami de ‘petrodólares’.
O nome liquidez não tem nada de novo. Mas a função é muito outra. Antigamente, a liquidez (dinheiro em caixa) era colchão de segurança; hoje é arma de combate. O empresário empreendedor queria liquidez para alavancar o seu próprio negócio e dar-se tranqüilidade. Hoje, já quase não existe mais essa figura – o empresário empreendedor é bicho em extinção que clama por proteção contra os predadores. Estes detêm as montanhas de liquidez mundial: fundos de pensões, de participações, de administração de fortunas, seguradoras, bancos, governos de países petrolíferos, fundos soberanos, além do caixa de algumas gigantescas empresas e de algumas pessoas físicas, os ‘midas’ modernos, tipo Warren Buffett, Bill Gates ou o indiano Ratan Tata.
A liquidez então é o grande instrumento, não para implantar uma nova empresa ou iniciar um novo negócio. Os administradores da liquidez mundial não estão interessados nessa trabalheira. Ela é a arma com que ‘compram faturamento’ simplesmente, empresas e negócios já prontos. Depois de valorizar de alguma forma o que compraram, revendem para quem vem atrás com o mesmo propósito, e, assim, repõem, aumentada, a liquidez, ficando de novo líquidos para o próximo lance.
Pensando bem é uma espécie de gigantesca ‘corrente da sorte’, cuja preservação e continuidade depende de manter-se sempre em crescimento. Torna-se, assim – a liquidez -, um fim em si mesma. E a ruptura da ‘corrente’ em alguns momentos, como na crise subprime, é motivo de enorme consternação entre os participantes. Os devedores hipotecários inadimplentes, sem liquidez, entregam para os credores os imóveis que compraram, que não são líquidos. Cai a liquidez média dos credores, retrai-se o crédito para todo mundo e surge o pânico na tropa de ‘ciclistas financeiros’, cuja sina é pedalar sempre para não cair.
Por enquanto, é a roda das finanças que range nos gonzos. A roda da economia real não diminuiu ainda o seu giro, que vinha bastante acelerado. As empresas continuam fabricando, transportando, vendendo, empregando. A pergunta sobre se serão afetadas, e até que ponto, ninguém sabe responder. O que se sabe claramente é que o mundo financeiro precisa de muito maior disciplina e supervisão. Mas o único governo com cacife para propor e liderar uma política internacional nessa direção não tem, nem nunca teve, noção das suas responsabilidades nesse terreno. E é fácil perceber, pelo conteúdo infantil da campanha sucessória nos EUA, que continuará não tendo.
*Marco Antonio Rocha é jornalista. E-mail: marcoantonio.rocha@grupoestado.com.br’
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Ibope amplia medição de mercados
‘Os dados do Ibope Monitor sobre os investimentos publicitários em 2007, que acabam de ser divulgados, inauguraram uma apuração que passou a auditar um maior número de itens, como cinemas, novos mercados de TV e mais emissoras de rádio. Tudo isso acabou engordando o faturamento das agências, de R$ 51,886 bilhões, o que corresponde a um crescimento de 30% em relação ao ano anterior. Esse total não considera a prática de descontos pelos veículos.
A pesquisa do Ibope Monitor ampliou a cobertura de 29 para 37 dos mercados de televisão no País. Passou a auditar as cidades de Campo Grande, Cuiabá, João Pessoa, Manaus, Natal, São Luiz e Teresina. Incluiu 586 salas de cinema em dez dos principais centros urbanos. Trata-se de uma aferição que não existia antes e acrescentou R$ 336 milhões ao bolo publicitário. Já as rádios também tiveram seu universo incrementado, de 21 emissoras para 78.
‘Acredito que, já para o próximo ano, poderemos incluir também os investimentos em propaganda na internet’, conta Dora Câmara, diretora comercial do Ibope Mídia Brasil. ‘Há mais de um ano estamos conversando com seis dos principais portais do mercado, para que eles reportem seus dados nos padrões de processamento do Ibope e, assim, podermos consolidar o faturamento deles com comerciais .’
Dora reconhece que a publicidade online vem se tornando parte relevante dos investimentos publicitários. Agora, só falta quantificá-la com a mídia tradicional. ‘Outro grupo de empresas do negócio da comunicação com que estamos conversando é o das administradoras de mobiliário urbano, que ainda não quantificamos’, diz ela.
O meio televisão, como habitualmente ocorre, concentrou 50% dos investimentos da leitura de 2007 feita pelo Ibope. Os jornais vêm em seguida com R$ 14,870 bilhões, o que representa uma participação de 29%. Os investimentos em revistas seguem com 9% do faturamento bruto, assim como o de outdoor, com 3%. Este, por sinal, decresce em decorrência da Lei Cidade Limpa que, de São Paulo, está sendo exportada para outras capitais, como Curitiba, que acaba de adotá-la.
Entre os anunciantes, o varejo concentrou quase 30% dos investimentos. As Casas Bahia, também como tem sido recorrente nos últimos anos, lideram com R$ 2,765 bilhões. Entretanto, a própria rede de lojas informa que seu gasto real em publicidade gira em torno de 5% do seu faturamento, que no ano passado foi de R$ 13 bilhões. A Unilever, com R$ 1,423 bilhão, fica na segundo posição entre os maiores anunciantes do mercado brasileiro.
FALTA DIMENSÃO
‘Mesmo que o resultado final do Ibope não reflita totalmente a realidade do mercado, por não considerar a prática de descontos, ele dá uma boa noção do que acontece’, considera Guga Valente, presidente do Grupo ABC, que tem três agências (DM9DDB, Africa e MPM) mais bem posicionadas no ranking de 2007 do que no ano anterior. E, mesmo sem acreditar que essa referência possa perder relevância diante do fato de o levantamento captar somente as mídias tradicionais, Valente reconhece que o Ibope Monitor não é suficiente para de dimensionar o tamanho do negócio das agências.
‘Na verdade, a minha receita cresceu 117% ante 2006, e não apenas 81%, como aponta o Ibope, porque esse índice não capta as ações below the line, que cresceram além de filmes comerciais e de anúncios impressos’, explica Alexandre Gama, presidente da NeogamaBBH, agência que galgou sete posições aparecendo, agora na 13ª posição. ‘Em autorização de mídia, fomos a agência que mais cresceu no ano passado entre as 20 primeiras do ranking’, diz ele.
Quando fala em below the line, Gama se refere a eventos, ações em pontos-de-venda, marketing direto, relações públicas e outras iniciativas que não são registradas no resultado das agências do Ibope Monitor, mas que estão dentro do escopo de muitas delas. Em alguns casos, os grupos de comunicação, como o ABC, separam suas agências por atuação. A dele é a B/Ferraz, que sequer é auditada.’
OLIMPÍADAS
Austrália descarta controlar blogs
‘O chefe do Comitê Olímpico Australiano, John Coates, declarou ontem que não vai controlar o conteúdo dos blogs de atletas do país que participarem da Olimpíada de Pequim. Segundo as regras do Comitê Olímpico Internacional , atletas podem opinar em seus blogs durante os Jogos, mas não participar de manifestações políticas. ‘Não vamos amordaçar nossos atletas de nenhuma maneira e não vamos ler 476 blogs todas as noites’, disse Coates.’
CINEMA
Prêmio para filme ‘Tropa de Elite’ anima presidente
‘A premiação do filme Tropa de Elite foi comemorada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na Antártida, ele disse que o Urso de Ouro recebido pela produção brasileira é um reconhecimento ‘muito significativo’ e que o filme de José Padilha tem ‘qualidade extraordinária’.
Para o presidente, o filme premiado deve aumentar a projeção do País no exterior. ‘Vai projetar os problemas do Brasil, mas também vai projetar as eficiências e vai mostrar para o mundo que o Brasil não é apenas um País com lado ruim. O Brasil tem coisas ruins, o Brasil tem coisas boas, como qualquer país do mundo’, disse.’
Luiz Carlos Merten
Quanto vale o Urso da Tropa
‘Críticas como a da revista Variety demoliram Tropa de Elite. O filme de José Padilha foi chamado de fascista e o Capitão Nascimento, personagem interpretado por Wagner Moura, foi comparado a Rambo. Na noite de sábado, feliz da vida com seu Urso de Ouro, o diretor agradecia ao presidente do júri, Costa-Gavras, e ao Festival de Berlim por haverem entendido que não era nada disso. O produtor Marcos Prado, que subiu ao palco do Berlinale Palast na hora do agradecimento, reforçou o caráter de crítica do filme e disse que, de posse do Urso de Berlim, há mais disposição para lutar contra essa realidade marcada pela corrupção e pela violência.
Além da óbvia sobrevida que o filme ganha a partir de agora nas salas de cinema do Brasil, onde deve voltar ao cartaz com toda força nos próximos dias, Padilha e o distribuidor Harvey Weinstein, ex-Miramax e hoje Weinstein Company, já podem planejar agora com mais tranqüilidade a campanha de lançamento de Tropa de Elite nos EUA. A expectativa é saber se, a exemplo do que conseguiu com Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, Weinstein também vai conseguir emplacar Tropa de Elite em categorias importantes do Oscar no ano que vem. Na coletiva, após a premiação, Padilha fez questão de dizer que é um cineasta brasileiro e que sua vitória não é algo isolado, mas uma vitória do próprio cinema do Brasil.
É a mais pura verdade. Não vamos nos esquecer de algumas coisas. Embora o Urso de Ouro seja a estrela mais reluzente a destacar, o Brasil na Berlinale de 2008, o cinema brasileiro recebeu outros prêmios que não podem passar despercebidos. O longa Mutum, de Sandra Kogut, que já havia participado da seleção de Cannes no ano passado, foi convidado a participar de novo do Festival de Berlim – o que é raro – e ganhou uma menção na mostra Generation Plus. O curta Café com Leite, de Daniel Ribeiro, também foi considerado o melhor do formato na seção Generation 14Plus. E outro curta brasileiro, Tá, de Felipe Scholl, foi o melhor da mostra Teddy Bear, que contempla filmes de temática gay e lésbica. Três prêmios em diferentes formatos e seções, mais o Urso de Ouro, atestam a diversidade e vitalidade do cinema brasileiro.
Os ruidosos aplausos para Padilha na coletiva pós-premiação mostraram que a vitória, por mais surpreendente que tenha sido – o filme não estava na lista de favoritos, quase toda marcada por produções de língua inglesa – foi bem recebida. Considerando-se os problemas da sessão de imprensa, quando o filme passou numa cópia com legendas em alemão, Padilha tem todos os motivos para estar eufórico com sua acachapante vitória em Berlim.’
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Foi uma bela vitória do Brasil, mas também da América Latina
‘Havia, sim, expectativa pelos prêmios que Tropa de Elite poderia receber no 58.º Festival de Berlim. O próprio diretor José Padilha, ainda no Brasil, dizia que a simples seleção do filme para concorrer em Berlim já era uma vitória para ele e um reconhecimento a um trabalho que, no País, foi analisado como um fenômeno, mas pouco pensado e valorizado como cinema. A crítica negativa de Variety não desanimou o cineasta. No sábado, ele foi convocado para a cerimônia de encerramento, sinal de que estava entre os premiados. Os prêmios se sucediam e nada de Padilha subir ao palco do Berlinale Palast. Chegou um momento em que restava o Urso de Ouro.
O Urso de Ouro! O segundo que o cinema brasileiro recebe em Berlim. Há exatamente dez anos, Walter Salles, com Central do Brasil, foi o primeiro diretor brasileiro a vencer o Golden Bear. Padilha é agora o segundo. Tendo feito antes somente documentários, ele recebe um dos mais importantes prêmios do mundo por sua primeira ficção. Padilha tem alma de documentarista. Queria fazer outro documentário, depois de Ônibus 174, mas percebeu que jamais conseguiria os depoimentos para corroborar o que queria dizer sobre a corrupção e a violência da polícia e da sociedade brasileiras. A ficção salvou-o para fazer a obra que queria, o indispensável complemento de Ônibus 174.
Padilha estava feliz da vida no sábado à noite. Ele rejeitou a definição de que filmes como Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, e o dele pudessem estar criando um novo cinema brasileiro, que um jornalista, um tanto provocativamente, chamou de slum, ou favela, movie. Padilha acha que seria muita presunção querer criar um novo cinema do Brasil. O cinema brasileiro não é só violência e favela, não é só pobreza. Por mais importante que seja esta vitória, ele insiste: ninguém faz cinema sozinho. Ele pertence a uma cinematografia. A vitória é de todos. Do seu amigo, o produtor Marcos Prado, do grande diretor de fotografia Lula Carvalho – filho de Walter Carvalho, que fotografou Central do Brasil -, de Wagner Moura.
Padilha foi recebido na coletiva como o vencedor que é. Gritos, aplausos, ele era o homem. Mas no quadro de cotações do festival, Tropa de Elite não era um dos filmes melhor colocados. O número um, com o maior número de estrelas, era Sangue Negro (There Will Be Blood), de Paul Thomas Anderson, que teve de se contentar com dois Ursos de Prata, o de melhor direção e o de melhor contribuição artística, para o compositor Johnny Greenwood. Não se pode dizer que Anderson tenha ficado satisfeito. Quando lhe perguntaram se tantos prêmios – Globos de Ouro, Ursos de Berlim -o deixavam satisfeito, sua resposta foi sucinta. ‘Não.’ Ele com certeza queria mais.
Outro quase vencedor, segundo no quadro de cotações dos críticos, era o inglês Happy-Go-Lucky, de Mike Leigh. O filme que o diretor de Segredos e Mentiras fez para celebrar o otimismo consagrou a atriz Sally Rawlings. Ela é boa, mas com certeza não representa. Sally é igualzinha à personagem que interpreta. Ri à toa, faz o gênero louquinha mansa.
Para Padilha, receber o prêmio do júri presidido por Costa-Gavras aumentava a honra. ‘Seus filmes políticos são referências muito importantes para nós, cineastas da América Latina’, disse o diretor de Tropa de Elite. O júri ousou – deu seu prêmio especial a Standing Operation Procedure, de Errol Morris, primeiro documentário a concorrer em toda a história do Festival de Berlim, e retirou de Daniel Day-Lewis um prêmio que parecia certo (por Sangue Negro), preferindo premiar o ator iraniano Reza Najie, de The Song of Sparrows, de Majid Majidi. Reza mal conseguia se conter. Ele beijou diversas vezes seu Urso de Prata de interpretação, o que levou a que os jornalistas pedissem que todos os demais premiados fizessem o mesmo. Errol Morris foi o único que fugiu à regra. ‘Beije-o você’, ele respondeu para o jornalista que insistia no gesto.
Os prêmios de Morris e Padilha foram os mais políticos da Berlinale de 2008. O filme de Errol Morris discute os abusos sofridos por prisioneiros iraquianos na prisão norte-americana de Abu Ghreib. Morris já fez outro documentário para discutir o militarismo – A Névoa da Guerra. ‘Não aprendemos nada com as lições do passado’, ele critica. Standing Operation Procedure discute a fotografia como evidência, porque na verdade foram as fotos tiradas por soldados e oficiais em Abu Ghreib que chocaram o mundo com a exposição da humilhação dos iraquianos face a seus verdugos norte-americanos.
Morris não responsabiliza aqueles homens e mulheres pelo horror. Se há um criminoso, ele está acima. É o próprio establishment militar dos EUA. ‘O que ocorreu em Abu Ghreib é motivo de vergonha para todos nós’, ele diz. Justificando a premiação, o presidente do júri disse que seus colegas e ele discutiram exaustivamente cada um dos filmes concorrentes. ‘Nossos votos foram sempre dados por maioria’, ele observou. Nunca foi necessária segunda votação. No caso de Tropa de Elite, o júri tinha consciência de estar premiando um filme forte, crítico e que nos ajuda a entender graves problemas do mundo contemporâneo.
Foi uma bela vitória do Brasil e da América Latina. O mexicano Fernando Eimbcke havia recebido na sexta-feira o prêmio da crítica por seu minimalista Lake Tahoe. O júri lhe deu o que não deixa de ser um prêmio de consolação – o Alfred Bauer Preis, que homenageia o criador da Berlinale e destaca um filme por sua capacidade de inovação. O discurso de agradecimento de Eimbcke parece que já antecipava a vitória de Tropa de Elite. ‘Todos os prêmios que nós, latinos, recebemos em festivais como este são importantes porque chamam a atenção para cinematografias que necessitam desta exposição.’ Ele disse que o México está pertinho dos EUA, mas o cinema mexicano, felizmente, está distante de Hollywood. O júri teria feito melhor dando um prêmio mais importante para Lake Tahoe. Mas foi um deslize pelo qual Costa-Gavras será perdoado.’
O que significa o Urso na vida de um cineasta?
‘José Padilha está prestes a ingressar no seleto clube de diretores brasileiros que levam hoje carreiras internacionais. Ele já está sendo sondado pelos norte-americanos, mas tudo depende do projeto certo. Padilha, que já demonstrou sua habilidade nas cenas de violência de Tropa de Elite, não quer virar um diretor de ação.
O que representa um Urso de Ouro na carreira de um cineasta? No sábado, ao agradecer seu prêmio de roteiro, o chinês Wang Xiaoshuai poderia estar falsando em nome de seus colegas latinos. Um prêmio desta dimensão ajuda a dar exposição a um filme, ou a um diretor, mas não é nenhuma garantia de que este filme será visto. É uma ferramenta que pode ser útil, isso sim.
Há dez anos, Central do Brasil recebeu o Urso de Ouro. Fernanda Montenegro foi premiada como melhor atriz e terminou indicada para o Oscar da categoria. Walter Salles virou um diretor de prestígio, alternando projetos autorais (Diários de Mortocicleta) com outros mais comerciais (Dark Water). Vinicius de Oliveira, que fazia Josué, o garoto, tentou carreira na TV e no teatro. Não ganhou a exposição que seu talento mereciam, mas ele está no elenco do novo filme que Walter salles dirigiu em São Paulo com Daniela Thomas.
José Padilha vai virar diretor internacional, Wagner Moura vai para o Oscar do ano que vem? Tudo vai depender do lançamento norte-americano de Tropa de Elite, que o experiente distribuidor Harvey Weinstein, ex-Miramax, já deve estar preparando com o diretor. Fernanda é hors-concours, mas outras duas atrizes que também receberam o Urso de Prata de interpretação em Berlim não foram muito além do prestígio que o prêmio lhes conferiu. Marcélia Cartaxo, por A Hora da Estrela, e Ana Beatriz Nogueira, por Vera, mostram que um Urso de Berlim não é garantia de nada. Mas a emoção de receber o prêmio é grande. Como disse Padilha – Thank you, obrigado, danke. Não importa a língua. Nenhuma delas dá conta da emoção de ser considerado. Nem que seja pelo breve espaço de um festival, como o melhor do mundo.’
Jornais reagem com surpresa à premiação
‘LÁ FORA: A imprensa internacional recebeu com surpresa, e sentimentos mistos, a vitória de Tropa de Elite em Berlim. O New York Times relembrou o filme anterior de José Padilha, Ônibus 174, como um ‘inteligente documentário’ sobre a desigualdade social no Brasil – mas afirmou que Tropa de Elite, ‘retrato violento’ do mundo das drogas no Rio, ‘narrado do ponto de vista da polícia’, acaba sendo mais uma glorificação do que uma crítica à atuação do Bope. No Le Monde, o tom foi parecido. O crítico Thomas Sotinel, para quem o filme segue ‘a receita do neoconservadorismo hollywoodiano’, escreveu ontem que Tropa de Elite faz apologia da tortura e das execuções extrajudiciais, apelando às sensações – e não à reflexão intelectual – das platéias. O Washington Post analisou a vitória como símbolo do interesse desta edição do festival por temas políticos, mas questionou os ‘métodos e mensagens’ do filme de José Padilha. Já a alemã Deutsche Welle entendeu a vitória como fruto do interesse crescente na produção latino-americana. Kirk Honeycutt, do Hollywood Reporter, afirmou que a questão não é exatamente a vitória de Tropa de Elite – para ele, a presença do filme e de outras produções ‘pouco audaciosas esteticamente’ são símbolo da necessidade de reavaliação do festival de Berlim. A Variety, que publicou uma das mais violentas críticas ao filme, preferiu tratar da divisão entre os críticos alemães sobre a premiação, não sem que seu crítico Jay Weissberg reiterasse sua opinião de que se trata de um filme fascista.’
TELEVISÃO
Terceiro Tempo vai para Band
‘A última edição do Debate Bola, atração de Milton Neves na Record, vai ao ar no dia 29 e a emissora ainda não definiu o que entrará no horário. Garantido mesmo é que Neves começará na Band dia 2 de março, no comando do debate esportivo Terceiro Tempo – programa conhecido do público, que nasceu no rádio em 1982 e ganhou espaço na Record. A atração será aos domingos, às 21 horas, terá duas horas de duração e, se depender de Neves, Renata Fan estará de novo ao seu lado.
Por que mudar de canal se o formato do programa continua o mesmo?
Porque a Record está sem futebol. A Globo, em vez de fazer um casamento com a Record, fez com a Band. Como ela vai manter um programa esportivo sem as imagens?
Como surgiu a proposta de ir para a Band?
Trabalhei na Record com o Hélio Vargas como diretor e o contrato dele não foi renovado. Quando o Justus teve a idéia de abrir uma produtora, convidou o Hélio para ser sócio. Como somos antigos parceiros, ele me chamou para fazer o programa.
Você espera mais visibilidade na Band?
A Bandeirantes é a Rede Globo do futebol. Então pode ter certeza de que o Terceiro Tempo será um grande sucesso.
Terá muito merchandising?
Vai ter ‘muuito’. Quero bater o recorde de merchandising.
Você vai apresentar mais algum programa na Band?
Além do debate aos domingos, farei outro programa sobre temas variados, que deve estrear em abril. Ele será transmitido à noite, de segunda a sexta. Além disso, terei boletins no programa da Renata (Fan) sobre jogadores antigos. Se der certo, ela vai apresentar comigo o programa de domingo.’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
CINEMA
Missão cumprida
‘O cineasta José Padilha desembarcou ontem à tarde no aeroporto de Congonhas, com o Urso de Ouro de melhor filme dado ao seu filme ‘Tropa de Elite’, no sábado, no Festival de Berlim. ‘O mais importante para mim é a vitória do cinema brasileiro. Na equipe de ‘Tropa de Elite’, estavam pessoas que trabalharam em ‘Central do Brasil’, em ‘Cidade de Deus’; uma equipe técnica que se formou ao longo da retomada [da produção nacional, a partir de 1994]. Esse prêmio não é para mim, é para o cinema brasileiro’, disse.
Foi a segunda vez na história do festival -um dos três mais importantes do mundo, ao lado de Cannes e Veneza- que o Brasil ganhou o prêmio máximo. ‘Central do Brasil’, de Walter Salles, venceu em 1998.
A vitória de ‘Tropa de Elite’ inverteu o final de uma história que começou cheia de atropelos. Dos 21 concorrentes ao Urso de Ouro, nenhum apanhara da crítica tão violentamente como o concorrente brasileiro.
O filme de Padilha foi também o único da disputa a enfrentar um problema técnico na exibição para a imprensa.
Depois de um inexplicado sumiço da cópia legendada em inglês, ele foi projetado com legendas em alemão e tradução mais consecutiva do que simultânea, acompanhada pelos jornalistas em fones de ouvido.
‘Eu fiquei chateado, é claro. E os americanos de fato não entenderam o filme. Tanto que perguntavam por que aqueles policiais trabalhavam numa oficina. As críticas foram todas negativas. Depois de uma segunda exibição [com legendas em inglês], as críticas melhoraram muito’.
A sessão oficial ocorreu no primeiro e menos nobre horário da agenda (às 16h), para uma platéia desfalcada, que reagiu friamente ao filme.
Mas o júri da disputa teve ‘completa aceitação’ a ‘Tropa de Elite’, como salientou seu presidente, o cineasta grego radicado na França Constantin Costa-Gavras, quando anunciou a vitória do longa.
Padilha ouviu o anúncio sentado numa das primeiras fileiras do Berlinale Palast, o palácio-sede do festival, ao lado da mulher -a quem mais tarde mandaria do palco um recado: ‘Jô, eu te amo!’.
O ator Wagner Moura (Capitão Nascimento), que esteve na estréia do filme em Berlim, já havia voltado ao Brasil. Acompanhavam Padilha seu sócio e produtor do filme, Marcos Prado, a atriz Maria Ribeiro, o produtor-executivo James D’Arcy e o co-produtor argentino, Eduardo Constantini Jr.
Na sexta-feira, a organização do festival sondou a equipe sobre sua permanência em Berlim, para se certificar de que iriam à premiação, dando a entender que ‘Tropa de Elite’ receberia algum troféu.
O aviso prévio não diminuiu a emoção de Padilha com seu Urso de Ouro. A voz do diretor oscilava quando ele agradeceu, em português, inglês e alemão: ‘Muito obrigado! Thank you! Danke! É muito difícil explicar o que estou sentindo agora’.
Constantini Jr. contou à Folha que investiu no filme 50% de seu orçamento. ‘Tropa de Elite’ custou R$ 10,5 milhões. ‘O projeto me interessou desde o primeiro dia em que ouvi falar nele, há dois anos e meio. Eu havia visto ‘Cidade de Deus’, um filme muito importante para a América Latina, e achei que ‘Tropa de Elite’ também teria essa importância.’
A Argentina é o próximo país em que ‘Tropa de Elite’ será lançado, no próximo 2 de abril. A estréia nos Estados Unidos deve ser a seguinte, em maio.
Na noite da premiação, Padilha classificou seu Urso de Ouro como ‘a vitória de um jeito brasileiro de filmar’. O rótulo de filme ‘hollywoodiano’, que alguns críticos aplicam a ‘Tropa de Elite’, é equivocado, na opinião do diretor.
‘Procuramos usar nesse filme características da linguagem documental. Ele é feito com câmera na mão e improvisação dos atores. Não há nada de hollywoodiano nisso.’
Depois da premiação, Padilha e sua equipe foram jantar no Borchardt, um restaurante famoso por sua cozinha francesa e seus clientes VIPs. A confraternização reuniu todos os premiados, o diretor do festival, Dieter Kosslick, e o presidente do júri.’
Eduardo Scolese
Na Antártida, Lula festeja vitória do longa nacional
‘Durante viagem à Antártida, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva festejou o Urso de Ouro conquistado pelo filme ‘Tropa de Elite’ em Berlim, anunciado anteontem.
‘O fato de o Brasil ter ganho o prêmio em Berlim é uma coisa significativa pra nós. Há muito tempo, a gente não ganhava um prêmio internacional. Ganhamos agora. Eu acho que o filme tem qualidades extraordinárias e eu penso que vai projetar um pouco mais o Brasil, vai projetar os problemas do Brasil, mas também vai projetar as eficiências e vai mostrar para o mundo que o Brasil não é apenas um país com lado ruim. O Brasil tem coisas ruins, o Brasil tem coisas boas, como tem qualquer país do mundo e, no fundo, no fundo, nós trabalhamos para que as coisas boas se sobressaiam sobre as coisas ruins’, afirmou o presidente.
Silvana Arantes
‘Primo’ de ‘Tropa’ leva 2º lugar
‘O documentário ‘Standard Operating Procedure’ (operação padrão), de Errol Morris, que levou o Grande Prêmio do Júri em Berlim, era o filme tematicamente mais próximo de ‘Tropa de Elite’ na disputa.
Morris aborda os abusos aos direitos humanos cometidos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, pela perspectiva dos soldados norte-americanos julgados e condenados pelos crimes contra os prisioneiros suspeitos de terrorismo. O foco do documentário são as fotos dos abusos, reveladas em 2004.
Nas entrevistas a Morris, os soldados envolvidos no escândalo afirmam que as práticas de tortura aos prisioneiros eram do conhecimento de todos os militares que serviam em Abu Ghraib. Nenhum oficial de alta patente foi condenado.
‘O filme pontua que as pessoas que foram presas e condenadas pelos abusos em Abu Ghraib não são as únicas envolvidas nessa questão’, disse o diretor anteontem.
No dia de sua primeira exibição em Berlim (12/2), Morris definiu ‘Standard Operating Procedure’ como ‘um filme de horror não-ficcional’. O cineasta afirmou que fez o longa, dentre outras razões, por seu ‘interesse pela fotografia’ e pelo ‘horror à política americana atual’. Esse foi o primeiro documentário a participar da corrida pelo Urso de Ouro.
Reconhecimento latino
O mexicano Fernando Eimbcke, que recebeu o prêmio Alfred Bauer (inovação da linguagem cinematográfica) por ‘Lake Tahoe’, destacou o valor do reconhecimento que a premiação desta 58ª edição de Berlim deu à cinematografia latino-americana. ‘Isso é importantíssimo para nós, pois é difícil competir [pelo público] com os filmes dos grandes estúdios nas salas de cinema.’
Entre os vencedores, a mais emocionada era a atriz britânica Sally Hawkins, protagonista de ‘Happy-Go-Lucky’. ‘Honestamente, não consigo contar o que sinto. Não existem palavras para expressar’, disse Hawkins na entrevista coletiva subseqüente à premiação.
O diretor chinês Wang Xiaoshuai, premiado pelo roteiro de seu longa ‘Zuo You’ (acreditamos no amor), confessou certa tristeza. ‘Estou feliz por mim, mas também triste pelos atores, que não foram premiados.’
Premiado como melhor diretor por ‘Sangue Negro’, Paul Thomas Anderson disse estar ‘muito feliz e cheio de champanhe’. Quando um repórter sugeriu a troca do título em inglês, ‘There Will Be Blood’ [haverá sangue], por ‘There Will Be Prizes’ [haverá prêmios], Anderson brincou: ‘Vamos esperar o próximo domingo [dia da entrega do Oscar; ‘Sangue Negro’ tem oito indicações]. Mas acho que o título está bom assim’.’
Imprensa recebe escolha do júri com surpresa
‘‘Surpreendente’, ‘controversa’, ‘sábia’. A entrega do Urso de Ouro a ‘Tropa de Elite’ foi vista por diferentes ângulos pela imprensa.
A revista ‘Variety’, que havia feito a crítica mais dura ao longa de José Padilha, classificando-o como ‘um filme de recrutamento de seguidores fascistas’, noticiou que o prêmio foi dado ao ‘sangrento e controverso filme de ação brasileiro sobre o crime’. Em seguida, menosprezou a qualidade dos competidores. ‘O vencedor do Urso de Ouro pegou de surpresa críticos, dada a disparidade das resenhas [que o filme teve]. Alguns, no entanto, acharam bem-vinda a decisão de premiar o único filme de ação numa seleção que muitos […] viram como sem inspiração.’
A revista inglesa ‘Screen’ disse que ‘Tropa de Elite’ foi o surpreendente vencedor, mas lembrou que o elogiara quando ele estreou na competição.
A ‘Hollywood Reporter’ também falou em ‘surpresa’, citou a boa acolhida das platéias no Brasil e uma declaração de Padilha: ‘Eles [o público] estão mandando uma mensagem: querem o fim da corrupção policial e da violência’.
A imprensa alemã mostrou-se dividida. Para o diário ‘Berliner Morgenpost’, foi ‘a mais sábia escolha em anos’. Já o ‘Der Tagesspiegel’ não gostou: ‘Não é um bom filme, com sua mistura de linguagem documental e de novela’.’
Sérgio Rizzo
Produção entra para a seleta trinca de brasileiros
‘‘Tropa de Elite’ passa a formar com ‘Central do Brasil’ (1998), de Walter Salles, e ‘Cidade de Deus’ (2002), de Fernando Meirelles, a trinca de filmes brasileiros de maior trânsito, visibilidade e prestígio internacional nos últimos dez anos. Talvez não seja casual que os três se ambientem, parcial ou totalmente, no Rio, o mais forte de nossos cartões-postais.
Parece razoável supor que parte do apelo exercido sobre os espectadores europeus e americanos -ao menos sobre a restrita parcela deles habituada a acompanhar filmes estrangeiros- esteja relacionado ao contraste entre as paisagens de sonho e a miséria (impactante para o Primeiro Mundo) que se esconde por trás delas.
Além disso, os três são também habilidosas e bem acabadas incursões por gêneros industriais reconhecíveis pelo espectador médio, como o melodrama, o filme de gângster e o policial, facilitando o ‘empacotamento’ do produto. A ambientação responderia, no exterior, pela carga de novidade.
‘Central do Brasil’, igualmente catapultado no mercado internacional pelo Urso de Ouro em Berlim, foi ainda mais feliz do que ‘Tropa de Elite’ e voltou para casa com outros dois prêmios -de atriz (Fernanda Montenegro) e de melhor filme do júri ecumênico.
O empurrão decisivo na trajetória de ‘Cidade de Deus’ ocorreu em Cannes. Exibido fora de concurso, não recebeu prêmios, mas a recepção positiva da imprensa internacional e o frenesi entre distribuidores renderam dividendos superiores aos da maioria dos títulos da mostra competitiva de 2002.
Em ambos os casos, a disputa do Oscar representou o ápice. ‘Central do Brasil’ foi indicado para filme estrangeiro (perdeu para ‘A Vida é Bela’, de Roberto Benigni) e melhor atriz (Gwyneth Paltrow por ‘Shakespeare Apaixonado’, que recebeu outras seis estatuetas, inclusive a de melhor filme).
‘Cidade de Deus’ não obteve vaga entre os cinco indicados a filme estrangeiro em 2003. No ano seguinte, porém, disputou o prêmio em quatro categorias: direção, roteiro adaptado (Bráulio Mantovani, co-roteirista de ‘Tropa’), fotografia (César Charlone) e montagem (Daniel Rezende, de ‘Tropa’).
À época no controle da Miramax, os irmãos Bob e Harvey Weinstein foram os responsáveis pela distribuição de ‘Cidade’ nos EUA e pela bem-sucedida campanha que levou ao Oscar. Agora à frente da The Weinstein Company, tentarão repetir o feito com ‘Tropa’, do qual são co-produtores.
Não há mais por que lamentar, aliás, que ‘Tropa’ não tenha sido escolhido para representar o Brasil no próximo Oscar. Se ele estivesse no lugar de ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’ e conseguisse lugar entre os cinco finalistas, de pouco adiantaria o prêmio em Berlim: como a votação se encerra na próxima terça, o número de eleitores ainda a influenciar seria reduzido.
Exultantes ficaram as locadoras e a Universal com essa ajuda de Costa-Gavras e seus colegas de júri em Berlim: o DVD de ‘Tropa’ chega ao mercado no dia 27, por R$ 29,90.’
Mônica Bergamo
Depois do inverno
‘‘Fala, Benjamin. É frio lá [em Berlim]! É frio!’, dizia o diretor José Padilha ao empresário Benjamin Steinbruch, da CSN, ao desembarcar ontem em Congonhas, trazendo da Alemanha, numa sacola preta, o Urso de Ouro do Festival de Berlim por ‘Tropa de Elite’. Steinbruch é patrocinador do filme. Os empresários Flavio Rocha, da Riachuelo, e João Cox, da Claro, que também apoiaram ‘Tropa’, aguardavam na sala VIP do aeroporto.
Depois de 15 horas de viagem, Padilha desembarcou disposto a não alimentar polêmica com os críticos. ‘Quando eu estava lá [em Berlim], eu não lia os jornais brasileiros.’ Não leu sequer a crítica da revista norte-americana ‘Variety’, que definiu ‘Tropa’ como ‘um filme de recrutamento de seguidores fascistas’? ‘O cara [Jay Weissberg, crítico] não entendeu o filme. Foi um problema de legenda, de tradução.’ Mas o prêmio não é um ‘tapa na cara’ de quem falava mal do longa? ‘Não, olha, por favor. Não coloque palavras na minha boca.’
Invocando o testemunho da mulher, Josane, Padilha dizia: ‘Nós estamos fazendo de tudo para fugir de confusão, né, Jô?’.
O diretor chegava a dizer que o prêmio não foi assim aqueeeela surpresa. ‘A gente percebia uma reação boa do público alemão e da crítica européia. Então a gente não tinha uma sensação ruim.’ Já a atriz Maria Ribeiro, que interpretou a mulher do capitão Nascimento, dizia que a surpresa foi, sim, enorme. ‘A gente não esperava nunca, nunca! A gente nem ia ficar prá ver a premiação. A gente ia pegar um vôo para o Brasil.’ Marcos Prado, sócio de Padilha, confirma: ‘Nós íamos voltar, mas eles [organização do festival] avisaram que tínhamos ganhado um prêmio. Eles fazem isso porque senão todo mundo debanda, né?’.
Um cinegrafista do ‘Fantástico’ se aproxima. ‘Vamos pedir aplausos para ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’, brincava Maria Ribeiro, referindo-se ao filme que foi indicado para representar o Brasil no Oscar, desbancando ‘Tropa’. O ator Caio Blat, marido de Maria Ribeiro, repetia: ‘Alucinante! Alucinante’.
Padilha anunciava que vai terminar dois documentários e começar um longa de Marcos Prado, ‘Paraísos Artificiais’, sobre ‘a relação dos jovens com as drogas de hoje, que têm a ver com internet, com orkut’. Ainda não é certo que Wagner Moura fará o capitão Nascimento na minissérie de ‘Tropa’ na TV Globo. ‘Nem assinamos contrato!’ Certeza, Padilha só dava uma: o urso de Berlim será guardado ‘num lugar especial do quarto do meu filho, Gabriel, de 4 anos’.’
POLÍTICA
Ciro, Serra e 2010
‘SÃO PAULO – Ciro Gomes se submeteu nos últimos anos a uma dieta magra e rigorosa: nada de declarações públicas. Para quem tinha tanto apetite retórico, o silêncio não deve ter lhe custado pouco.
Derrotado em 2002 no primeiro turno, aderiu à campanha vitoriosa de Lula, tornando-se a seguir um ministro disciplinado e discreto, contra todos os prognósticos. Ele acredita que suas erupções verbais e acessos de agressividade foram decisivos para o fiasco de 2002.
Deputado mais votado do país em 2006, Ciro segue na coalizão lulista, mas não é mais do governo. E voltou a falar. É claro que a menção às ‘mãos às vezes sujas de cocô (mas não a cabeça)’, durante uma discussão com Letícia Sabatella, não é uma boa reestréia, sob nenhum aspecto. Sugere o retorno do mesmo personagem fora de controle depois de tão longa hibernação.
Se pudesse ser resumido a isso, Ciro seria só mais um político truculento e vulgar. Não é. Mesmo a comparação com Collor, tão freqüente, me parece uma facilidade (ou miopia) da arrogância paulista.
Tome-se a entrevista que Ciro concedeu à Folha. FHC e Lula -diz- são cúmplices da mesma frouxidão moral em troca de conforto nas relações com o Congresso; o país ainda assim avançou com Lula, mas desperdiçou oportunidades e não tem projeto; vive refém da figura carismática de seu líder.
O alvo de Ciro, porém, é José Serra, de quem ele diz ‘ter valor, mas não escrúpulos’. Falta tempo, mas a polarização que já se desenha para 2010 é essa: Ciro x Serra.
O primeiro é mais sangüíneo e solar; o segundo, soturno e melancólico. Os dois são personalidades arestosas, intransigentes e de inclinação autoritária, o que é uma novidade em relação a FHC e Lula -líderes que acomodam.
É improvável que um petista venha desbancar essa rivalidade. Mas, sendo o país o que é, uma figura astuta e tão sintomática das nossas qualidades e defeitos como Aécio Neves, o ‘bon vivant’, ainda é capaz de pregar uma peça nas feras.’
POLÍCIA
Moralismo fora de lugar
‘DUAS NOTÍCIAS RECENTES exigem mais reflexão sobre as práticas da Polícia Militar no Brasil. Uma, a premiação máxima do filme ‘Tropa de Elite’ no Festival de Berlim. Não foi apenas um prêmio à forma, mas ao conteúdo também. O Urso de Ouro diz que grande parte do mundo politizado espera que os problemas denunciados no filme sejam mais discutidos e finalmente superados.
A outra, notícia pequena mas muito reveladora dos problemas a enfrentar. Um alto oficial da Polícia Militar justificou a proibição de bailes funk afirmando que era preciso acabar com as orgias dos traficantes. Espera aí, orgia é crime? Não, é moralismo. Bailes funk incomodam os vizinhos, favelados ou não, pelo tremendo barulho que produzem em insuportáveis decibéis.
São também o cenário de sedução e corrupção de menores, assim como da venda de drogas ilegais e da promoção de demonstrações explícitas do poder masculino abusivo, acompanhado do uso de armas. Tudo isso é crime especificado no Código Penal.
Por que apontar para algo que foge da alçada policial? Dizem os historiadores da polícia no Brasil que o papel desta como prestadora de serviços aos homens livres a fazia uma espécie de prefeitura da cidade. Daí para meter-se em questões morais que não lhe diziam respeito foi um pequeno passo. Até hoje o juramento inicial de ‘proteger, assistir e socorrer’ o cidadão pode vir a significar colocar-se acima do bem e do mal, não exposto a leis e limites impostos aos comuns mortais, mas decidir simultaneamente sobre os seus costumes morais.
O policial passa a julgar severamente as parcelas mais vulneráveis da população e a acreditar que poderia desenvolver melhor sua atividade se não tivesse que se limitar pela lei vigente. Está aberto o caminho para o uso excessivo e descontrolado da força contra os mais pobres, assim como o da corrupção.
Mas a polícia não foi inventada para impor uma moralidade tradicional ou conservadora a toda população de um Estado-Nação. Foi para garantir a segurança dentro dos preceitos da lei. Reza a nossa Constituição que esta deve promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
No entanto, ainda a obediência à hierarquia e a conformidade aos rituais internos à corporação militar são mais importantes do que o controle da atividade policial. Pior, que a sociedade assim o deseja. Investigações falhas, arquivadas ou desviadas não punem os policiais que empregam violência desnecessária no trato dos cidadãos pobres. Até quando?’
TODA MÍDIA
Ultra-violência
‘O ‘Variety’ não se deu por vencido e noticiou o Leão de Ouro chamando ‘Tropa de Elite’ de ‘sangrento e controverso’ na primeira frase. Em destaque nos sites de busca de notícias, o despacho da Reuters apontou o filme como ‘ultra-violento’ na primeira palavra -e chamou o prêmio, não o filme, de ‘controverso’.
No Brasil, foi a primeira manchete do ‘Jornal Nacional’ de anteontem, que noticiou como ‘festa de todo o cinema brasileiro’. Segundo a locução, ‘polêmico ou não, caiu no gosto popular’ e agora ‘começou a carreira internacional com o pé direito’. A carreira nacional, pelo que se noticia, segue agora com série na mesma Globo, que venceu a disputa com a Record.
‘CITY OF GUNS’
O ‘Guardian’, na reportagem ‘Cidade de Armas’, com galeria de fotos, podcast e vídeo (foto), seguiu o trabalho de Severino Silva, fotógrafo de ‘O Dia’ na ‘guerrilha urbana’ dos morros do Rio
NACIONAIS E ESTRANGEIRAS
O site do jornal ‘O Estado de S. Paulo’ noticiava ontem que a Polícia Federal deve ouvir ex-técnicos da Petrobras sobre o furto de informações vinculadas à descoberta do campo de gás de Júpiter. Cerca de 40 deles, do setor de exploração, deixaram a empresas por outras petroleiras, ‘nacionais e estrangeiras’, nos últimos quatro meses, após o anúncio do campo de petróleo de Tupi. Em viagem à Antártida, Lula suspeita de espionagem e até sabotagem.
A CORRIDA AO MAR
Segundo a BBC Brasil, por trás da viagem de Lula à Antártida está ‘a corrida ao fundo do mar’, por petróleo etc., entre ‘países que tentam garantir a soberania na plataforma ou o direito de explorar na zona internacional’. Vale para a costa brasileira e avança no alto mar, pelos oceanos onde já começa o ‘loteamento’.
EVO E O PESADELO
Das viagens de Lula, o ‘Financial Times’ destaca o encontro em Buenos Aires com Evo Morales e Cristina Kirchner para negociar o gás, em meio à especulação sobre ‘o pesadelo do racionamento’.
PRIVATIZAR?
Tanto quanto o furto, o noticiário de Petrobras no exterior envolve a Pemex e eventuais acordos de exploração e transferência de tecnologia. Ao fundo, a notícia do ‘Houston Chronicle’ ontem -e do ‘Wall Street Journal’ sexta- de que o presidente Felipe Calderón ‘pensa o impensável’: a privatização da estatal.
NACIONALIZAR!
Já a Grã-Bretanha decidiu fazer ‘a primeira nacionalização desde os anos 70’. Foi a manchete do site do ‘FT’, ontem, o banco ‘Northern Rock será nacionalizado’. Martin Wolf, o colunista, escreveu para o site sob o título ‘Nacionalizar foi a decisão certa’.
‘NUTS ABOUT BRAZIL’
O ‘Sunday Times’, de Londres, deu longa análise sobre investimento na coluna de Merryn Webb. Sob o título ‘Estou louco pelo Brasil’, lista a ‘terra fértil’, o presidente ‘pragmático e popular’, o petróleo do ‘gigantesco’ Tupi, água etc., para concluir sugerindo a aposta do investidor.
NOVA CLASSE MÉDIA
Já Moises Naim, editor-chefe da ‘Foreign Policy’, escreveu no ‘Los Angeles Times’ o artigo ‘O mundo pode agüentar uma classe média?’. É sobre o consumo crescente em países como China, Índia, Brasil etc. A classe média alcançaria 52% do total global em 2020, contra 32% hoje.
PAZ
Sob o título ‘Rio de perigo, rio de paz’, o ‘NYT’ deu longa reportagem feita na fronteira entre Brasil e Venezuela. É o rio Água Boa e, apesar de título e mapa, não aborda direito indígena, mas um pescador que se estabeleceu por lá’
ESPORTE
No Brasil, atletas dominam lista de VIPs da web
‘Esportistas brasileiros estão no topo de uma nova elite: a dos personagens mais freqüentes no noticiário on-line mundial. O mais célebre deles é o atacante Ronaldinho, citado ao menos 15 milhões de vezes na internet.
Seis dos dez principais WIPs (trocadilho com o termo VIP que significa ‘web important people’) nacionais militam no esporte, de acordo com a apuração de uma ferramenta on-line disponibilizada desde a semana passada pelo grupo espanhol Prisa, dono do ‘El País’, um dos jornais mais influentes do mundo, e que pode ser acessada no www.lalistawip.com.
O fenômeno de dominação de atletas (vivos, mortos ou aposentados) no noticiário on-line é incomum. Só Argentina e Portugal experimentam algo parecido. No país vizinho, o principal WIP é Messi. O companheiro de Ronaldinho no Barcelona é, por sinal, mais ‘famoso’ na web que o brasileiro.
Outro atacante, Ronaldo, é o segundo da lista no Brasil. Hoje, ele beira 11 milhões de referências. Foi o novo drama em sua carreira que consolidou a vice-liderança entre os WIPs brasileiros. Na véspera do jogo contra o Livorno -que terminou em outra grave lesão no joelho do atacante-, Ronaldo havia superado o presidente Lula, relegando o mandatário ao terceiro posto. Após a lesão, abriu vantagem.
O presidente possui quase 10 milhões de citações e é o único político nas 30 primeiras posições do ranking brasileiro.
Na web argentina, os esportistas dão as cartas com peso semelhante ao que ocorre no Brasil. Dos dez principais WIPs platinos, seis são ou foram jogadores de futebol (como Maradona, que escolta o jovem Messi) ou tenistas (casos da ex-atleta Gabriela Sabatini). Há, ainda, um ex-piloto de F-1 (Juan Manuel Fangio).
Em Portugal, são cinco futebolistas no topo do ranking, três deles no ‘pódio’ (Figo, Cristiano Ronaldo e Maniche).
E só. Na Itália, terra do ‘calcio’ que move multidões em torno de seus torneios de futebol, o interesse on-line por suas figuras é longe de ser o mesmo. Tanto que seu primeiro boleiro, além de treinador de uma seleção estrangeira (Fabio Capello, do ‘English Team’), aparece apenas na modesta 25º posição. Bem antes, em oitavo, o motociclista Valentino Rossi é o único esportista no top ten.
Na Espanha, outra terra de futebol estelar, o noticiário da web reflete o poder do bicampeão de F-1 Fernando Alonso, que capitaneia a elite WIP local. Pau Gasol, da NBA, e Rafael Nadal também aparecem entre os dez primeiros. Do futebol, só o madridista Guti (12º).
‘O caso de Alonso é excepcional. A informação esportiva monopoliza os meios de comunicação e não me surpreende que os principais cyberpersonagens brasileiros sejam jogadores de futebol. O Brasil é o país reinante nesse esporte’, afirma Ramón Salaverría, professor de comunicação digital da Universidade de Navarra, na Espanha.
A importância do esporte e de suas personalidades cai mais ao se analisar o ranking mundial dos WIPs, liderado por George Bush, presidente dos EUA, com impressionantes 279 milhões de citações.
O atleta mais bem posicionado na lista (Beckham, com mais de 32 milhões de referências e em 16º) também transita com eficiência na área de celebridades, na qual Britney Spears, Eminem e Paris Hilton ainda são os mais famosos.’
TELEVISÃO
Globo vence Record e leva ‘Tropa de Elite’
‘Melhor filme no Festival de Berlim deste ano, ‘Tropa de Elite’ vai virar seriado na TV Globo em 2009. A emissora venceu a disputa com a Record pelos direito de adaptar o longa-metragem. Era a preferida do diretor José Padilha.
O contrato entre a Globo e os produtores do filme (Padilha e Marcos Prado) deveria ter sido fechado em janeiro último. Mas a assinatura foi adiada devido a ‘filigranas jurídicas’. A premiação não deve interferir no que já foi acertado, acreditam executivos da Globo.
Na Globo, ‘Tropa de Elite’ deverá ter apenas cinco episódios na primeira temporada.
O modelo de negócio é o de co-produção, como, por exemplo, a parceria da Globo com a O2, de Fernando Meirelles, na realização de ‘Cidade dos Homens’, derivado de ‘Cidade de Deus’. Ou seja, José Padilha e Marcos Prado dividirão com diretores da Globo a tarefa de adaptar ‘Tropa de Elite’.
Há duas possibilidades para o seriado: retomar a história do ponto em que o filme termina ou explorar episódios com o mesmo universo e personagens do longa. Na primeira hipótese, André Ramiro (o André Matias do filme) seria o protagonista.
Já a exibição do filme na TV poderá acabar na Justiça. A Record diz que os direitos são dela, uma vez que tem exclusividade com a distribuidora Universal. Mas os produtores dizem que a exclusividade não abrange filmes nacionais.
GRITARIA 1
O marketing da Record pode fazer parecer que a emissora do bispo Edir Macedo está colando na Globo. Longe disso. Dos 30 programas mais vistos no Brasil em janeiro, segundo o Ibope, apenas um era da Record, a novela ‘Caminhos do Coração’. Todos os demais 29 foram exibidos pela Globo.
GRITARIA 2
A novela dos mutantes só aparece na 29ª posição no ranking dos campeões de audiência. Com 13,3 pontos, está bem atrás de ‘Vale a Pena Ver de Novo’ (12º lugar, 21,3 pontos).
GRITARIA 3
Mas a Record vai consolidando a virada sobre o SBT na disputa pelo segundo lugar. Dos dez programas mais vistos no país, sem contar os da Globo, sete são dela e só três do SBT.
SOTAQUE
O SBT contratou dois atores portugueses para o elenco de ‘A Revelação’, novela escrita por Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos, a estrear em maio. Joana Solnado foi protagonista de ‘Morangos com Açúcar’ (exibida pela Band) e atuou em ‘Como Uma Onda’ (Globo, 2005). O outro lusitano é Diogo Morgado. A novela terá gravações em Lisboa.
ATRASOU
Inicialmente previsto para dezembro e depois para janeiro, o sinal da TV Brasil só deve chegar a São Paulo em abril.
DANÇOU
A cantora Paula Toller demorou a responder ao ‘Domingão do Faustão’ se participaria ou não da nova edição da ‘Dança dos Famosos’. Acabou substituída por Mariana Weickert.’
Cristina Fibe
Warner volta a exibir inéditos de 11 títulos
‘Nesta semana, a Warner volta a exibir episódios inéditos de 11 séries cujas temporadas foram interrompidas em dezembro. Hoje, ‘Cold Case’, ‘Cane’ e ‘Without a Trace’ ‘reestréiam’ no canal pago.
Em sua sexta temporada, ‘Without a Trace’ traz hoje, às 20h, o episódio ‘Fight/Flight’. ‘Cold Case’, que está no quinto ano, tem, às 21h, o episódio ‘It Takes a Village’ exibido.
‘All Bets Are Off’, da primeira temporada de ‘Cane’, vai ao ar hoje às 22h. Todas elas são retomadas no oitavo episódio do respectivo ano.
Amanhã, ‘Californication’, em seu primeiro ano, ‘Smalville’, no sétimo, e ‘Supernatural’, no terceiro, voltam ao Warner Channel com inéditos.
Na quarta-feira, a morena Rachel Bilson, a Summer de ‘The O.C.’, participa de ‘Chuck’, na volta da primeira temporada da série, em mais um troca-troca de atores, que já virou onda entre as séries.
A atriz chega para piorar um pouco a relação do protagonista com Sarah, no episódio ‘Chuck Versus the Truth’ (Chuck contra a verdade), no ar às 20h. No mesmo dia, voltam os inéditos da primeira temporada de ‘Moonlight’. Por fim, a quinta-feira reserva uma boa safra de novos episódios: ‘ER’ (em sua 14ª temporada), ‘Gossip Girl’ (1ª) e ‘Men in Trees’ (2ª) são retomadas pelo canal.
WITHOUT A TRACE, COLD CASE e CANE
Quando: hoje, a partir das 20h
Onde: no Warner Channel’
Folha de S. Paulo
‘Roda Viva’ estréia aoresentador e cenário hoje
‘O jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva assume hoje o comando do programa ‘Roda Viva’ (TV Cultura), no lugar de Paulo Markun. Na estréia (em novo cenário), ele recebe o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, para falar sobre as investigações acerca do uso dos cartões corporativos por funcionários do governo federal. O ‘Roda Viva’ vai ao ar às 22h40.’
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