Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Falta sintonia com o público

Após inúmeras tentativas de recuperar a audiência, em constante queda, o que incluiu até mudança de cidade, fica clara a falta de empatia entre a apresentadora Ana Maria Braga (Mais Você, Rede Globo) e o público que a consagrou. Nove anos depois de estrear na Rede Globo, completados na última sexta-feira, ela não tem o que comemorar e está colecionando razões para lamentar.

Ana Maria Braga traz em sua biografia televisiva o mérito de ter reinventado os programas femininos num momento em que não se acreditava mais no êxito neste gênero, nem junto ao público e nem com anunciantes. Durante os sete anos que ficou a frente do Note e Anote (Rede Record) – no qual acumulava as funções de apresentadora, produtora e diretora –, conseguia índices de audiência inéditos para o horário, para a emissora e, sobretudo, para o gênero de programa que conduzia. Enquanto esteve na Rede Record, vários foram os prêmios e sua performance lhe rendeu até uma vaga na versão brasileira do Guiness Book, como apresentadora com mais tempo de permanência no ar em um programa ao vivo. Nesta época, expressivos também eram os valores que podia faturar entre salário e merchandising! Em seu auge na Record, Ana Maria Braga era responsável por cerca de 50% do faturamento total da emissora.

Em pé de igualdade

No início da década – visando a obter mais ganhos e mais público – trocou a Rede Record, e tudo o que havia conquistado até em então, pelo prestígio de trabalhar na maior emissora do Brasil. Foi para Rede Globo em 1999, acreditando ser capaz de repetir ou até ampliar seus êxitos (Mais você, Rede Globo). Nos primeiros anos de Rede Globo, conseguiu manter intocável sua trajetória. Entretanto, a base do público que afinava com apresentadora nos tempos da Record era composta por mulheres das classes C e D: donas de casa com pouca ou sem qualificação profissional, que encontravam nas dicas dadas pelo programa, nas aulas de culinária e de artesanato, a possibilidade de aprender e faturar uma independência – fosse ela financeira o de auto-estima – que até então não sabiam ser capazes de conquistar.

E o verdadeiro segredo do sucesso de Ana Maria Braga estava na capacidade de fazer suas telespectadoras acreditarem ser capazes de fazer uma mudança em suas vidas. Ao descobrirem habilidades que não sabiam ter, muitas passaram a ganhar com elas. Muitas revolucionaram as próprias vidas. A Ana Maria de então era uma apresentadora que se colocava em pé de igualdade com seu público, aprendendo junto, valorizando o crescimento dos milhares de mulheres que a acompanhavam. E foi nesta época que criou, com muita propriedade, o bordão: ‘Acorda, menina!’ que, ao ser dito, naquelas tardes da Record, soava como um chamado. E quantas acordaram…

‘Acorda, menina!’

Contudo, desde a mudança para Rede Globo, em outubro de 1999, Ana Maria foi perdendo a cumplicidade com suas meninas. O clima de improviso – que de improvisado nada tinha – que exalava do Note e Anote era mais aconchegante para o perfil de seu público. O Mais Você já estreou elegante, clean, e foi aos poucos deixando de ser o programa da ‘Ana’ para ser o programa feminino da Ana Maria Braga na Rede Globo. Sofisticado, o Mais Você é muito mais a cara de donas de casa das classes A e B, com dicas de moda, beleza, viagens. Uma realidade muito distante da das donas de casas, as meninas, que a acompanhavam na Record. Com a diferença que as meninas, geralmente, estavam em casa para ver o programa…

É por esta razão que não há um quantitativo dentro do universo para qual se dirige o Mais Você atualmente, capaz de reverter as constantes quedas de audiência que colocaram Ana Maria Braga no pior momento de sua carreira. Existem aqueles que preferem afirmar que Ana Maria Braga estaria perdendo em audiência devido ao fato de seus oponentes estarem mais vigorosos na disputa. Entretanto, seu maior oponente é ela mesma. O grande adversário de Ana Maria Braga é o rumo que deu à sua carreira depois da mudança de emissora. E uma lamentável falta de sintonia com o seu público.

‘Acorda, menina!’

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Crítica de TV, Brasília, DF