Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Gêmeos de pais diferentes

No Brasil, os telejornais assumem um importante papel na vida das pessoas. Num país que vive intensamente a cultura do ‘ver’ em detrimento da cultura do ‘ler’, nada poderia ser diferente, a receita é simples: cada vez mais pessoas sentem a necessidade de receber informação através dos telejornais, e a maioria tem neles a primeira e muitas vezes única fonte de informação.

Levando-se em consideração que a TV é imagem (já ouvi falar que imagem é tudo), o telespectador fascinado pelo fenômeno desse espectro eletromagnético é atraído, ou traído, pelas informações que recebe; não tenha dúvida de que isso acaba tendo influência na tomada de decisões, no comportamento, nas crenças e valores e desejos das pessoas.

Um pouco mais

E foi atraído pela informação que assisti na quarta-feira (1º/2) ao Jornal da Record. Fiquei sabendo da novidade telejornalística dois dias após sua estréia, em comentários e artigos nos jornais. Não resisti e fui conferir. Assisti ao tão comentado telejornal e cheguei à seguinte conclusão: é mais uma tentativa de bombardeio, uma artilharia pesada ao consagrado padrão global.

A saída de Boris Casoy juntamente com o seu jornal falado, que há tempos vinha definhando e não tinha mais nada de novo daquele paradigma de telejornalismo brasileiro do século passado, que, convenhamos, abalou um pouco os alicerces do imbatível Jornal Nacional, trouxe uma revolução e uma promessa de um padrão de telejornalismo. Imaginei uma verdadeira cruzada para a queda da bastilha global. Dito e feito. Foram remanejados e contratados novos soldados-jornalistas com bons salários, advindos do ‘gorducho’ provento do velho Boris. Bem-equipados, foram todos à luta.

Mas, sinceramente, esperava um pouco mais de criatividade do núcleo de jornalismo da Record, não apenas um Ctrl+C / Ctrl+V, mais conhecido como ‘copiar e colar’. Não esperava que profissionais renomados e com vasto repertório jornalístico pudessem trabalhar com tanta similaridade, mesmo imaginando ser por uma boa causa econômica. Depois, alguns coleguinhas culpam a nós, professores, pela falta de incentivo em fazer o aluno pensar e criar.

Ver para crer

Não está sendo fácil para os telespectadores encontrar alternativas do bom jornalismo. A fórmula, infelizmente, continua sendo a mesma, e está nas mãos da turma do ‘plim-plim’. Se ela é boa ou não, é outra história. Sabemos apenas que há 36 anos milhões de telespectadores assistem diariamente ao JN. Acho que isso não é nada bom. Existem poucos telejornais alternativos, e um bom exemplo é o Jornal da Cultura que, apesar dos parcos recursos tecnológicos, consegue fazer o que podemos identificar como um jornalismo interpretativo e próximo ao público.

No mais, ainda resta uma última análise daquele que espero não ser outro natimorto telejornal. A Record investiu pesado no seu núcleo de jornalismo. Esse é um fato positivo que temos que levar em consideração. A nova versão do Jornal da Record promete oferecer aos telespectadores uma opção informativa cujas principais características são a agilidade na apresentação das notícias, com matérias exclusivas e investigativas, além de investir em equipes de reportagem pelo mundo afora; nada de novidade que o principal concorrente não conheça, ou não tenha feito.

Agora é ver para crer. O novo ‘casal 20’, Celso Freitas e Adriana Araújo, podem ter o futuro de Bonner e Fátima. No entanto, o perigo está em recorrer à retórica de maneira abusiva e manipuladora, utilizando a embalagem para atrair o telespectador.

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Professor