Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Já existem, sim, razões para comemorar!



‘Só quero que os negros sejam vistos como parte integrante, e não como diferentes!’ (Milton Gonçalves)


Celebrado há 30 anos em dia 20 de novembro, no Dia da Consciência Negra deste ano já há razões para comemorar no que diz respeito à presença de atores e atrizes negros em televisão no Brasil. Por mais que não se tenha o cenário ideal desejado pelos que sempre lutaram por esta inserção. Entretanto, no momento, e sem nenhuma produção de época, contabiliza-se em novelas – em três das quatro maiores emissoras do país, as mesmas que mantêm produção sistemática do gênero – quase cinqüenta atores negros em atuação. Um quantitativo tão expressivo, quanto inédito que – somado à participação valiosa de atores do Bando de Teatro Olodum em episódios do excepcional Ó Pái ó (Rede Globo) e a participação em outros formatos de programas, no jornalismo e em shows – concretiza uma realidade de mudança.


Surgimento de nova geração


Houve um tempo em que a presença de atores negros em televisão se restringia a uma meia dúzia de insistentes pioneiros que se impunham em uma realidade que limitava seu talento, mas que não foi suficiente para os afastar de sua vocação. E, únicos, iam se revezando, repetindo personagens, obrigados a reforçar estereótipos. Mas todos com a firme determinação de ver as mudanças que já começavam a tomar forma. Destes pioneiros, em atuação neste momento, Milton Gonçalves vive um momento único em sua longa carreira, dando vida ao corrupto Romildo Rosa (A favorita, Rede Globo).


O ator e diretor, acostumado à polêmica ao ineditismo, foi o primeiro ator negro a interpretar um personagem de terno e gravata, um pedido seu atendido pela autora Janete Clair, que criou para ele o ‘Dr. Percival’ da novela Pecado Capital em 1975 (Rede Globo). Dirigiu a novela Escrava Isaura (Rede Globo), a novela brasileira mais vista no mundo, participou de inúmeras produções, entre elas estrangeiras. Contudo, sua rica biografia e competente atuação como o político corrupto, um vilão humano, como afirma o próprio ator, gera insatisfação entre aqueles que se esquecem que o trabalho do ator – negro ou branco – é feito de sua capacidade de dar vida aos mais distintos tipos e personagens, trafegando, assim, pelo bem e pelo mal. São os mesmos que acreditam que a inserção de atores negros deve estar vinculada à presença da imagem do negro, muitas vezes em detrimento do trabalho do ator.


Mas nem sempre será possível levantar bandeira. Sobretudo se for priorizado o exercício da atividade do ator, independentemente de cor. Instala-se aí uma eterna insatisfação e incompreensão mútua. De um lado, a vigilância daqueles que lutam pela consolidação da democracia racial, passando pela da fixação da imagem da positiva do negro e, do outro lado, quem cria o personagem negro, a quem cabe retratar e contar histórias baseadas na realidade ou não. O certo é que teremos um quantitativo numérico capaz de fixar a presença do ator negro como uma realidade em nossas produções, possibilitando o surgimento de uma nova geração de atores negros, entre eles grandes atores e atrizes. Contudo, não será possível que o ator negro seja sempre o fio condutor de uma luta que tem de ser lutada, essencialmente, na realidade.


Atores em novelas


Atores e atrizes negros em atuação em novelas – novembro/ 2008


Água na Boca (TV Bandeirantes)


Alexandre Moreno (Kim Gonçalves)


A Favorita (Rede Globo)


Cleide Queiroz (Antônia)


Fabrício Boliveira (Eduardo Rosa / Didu)


Milton Gonçalves (Romildo Rosa)


Taís Araújo (Alícia Rosa)


Chamas da vida (Rede Record)


André Luiz Miranda (Lincon)


Denise Orthis (Maria da Glória)


Rafael Queiroga (Leo)


Roberta Santiago (Gildete)


Vanessa Pascale (Verônica)


Malhação (Rede Globo)


Fabrício Santiago (Cleiton)


Ícaro Silva (Rafa)


Isabel Fillardis (Rita de Cássia)


Mulheres apaixonadas (re-exibição)


Camila Pitanga (Luciana Rodrigues Ribeiro Alves)


Elisa Lucinda (Pérola/ Rita de Cássia Rodrigues)


Lica Oliveira (Adelaide)


Renata Pitanga (Shirley)


Roberta Rodrigues (Zilda)


Sheila Mattos (Celeste)


Mutantes – Caminhos coração (Rede Record)


Ana Carbatti (Beatriz)


Antônio Pitanga (Newton Carvalho Pinto/ Nil)


Déo Garcez (Benedito Gama/ Bené)


Gabryela Moreira (Graziela)


Jonathan Haagensen (Miguel Ângelo)


Maria Ceiça (Rosana Magalhães)


Marina Miranda (Marisa Gama)


Patrícia de Jesus (Perpétua Salvador)


Rafael Zulu (Zulu de Andrade)


Rocco Pitanga (Armando Carvalho Pinto/ Dr. Carvalho)


Sérgio Malheiros (Aquiles Magalhães)


Toni Garrido (Gustavo/ palhaço Gudigrude)


Negócio da China (Rede Globo)


Zezeh Barbosa (Semíramis)


Três irmãs (Rede Globo)


Aílton Graça (Jacaré/ Clodoaldo)


Créo Kellab (Anacleto)


Kenya Costta (Iracema)


Roberta Rodrigues (Neidinha)


Solange Couto (Janaína)


Ó Pai ó (Rede Globo)


Aline Nepomuceno (Dandara)


Lázaro Ramos (Roque)


Lyu Arisson (Yaolanda)


Tânia Toko (Neusa da Rocha)


Bando de Teatro Olodum

******

Crítica de TV, Brasília, DF