Quantas vezes lemos na imprensa esta acusação contra os judeus tirados dos Protocolos dos Sábios do Sião e do Judeu Internacional, de Henry Ford. O primeiro, um documento dado como apócrifo, e o segundo uma interessante acusação para uma religião e um povo sem pátria. Por culpa justamente da diáspora provocada pelos romanos em 70 depois de Cristo. Durante todo o tempo da supremacia do cristianismo não conseguiram sossego e uma terra sua. Teriam um perverso objetivo de dominar o mundo. Para fazer o que, não se sabe. Afinal, não é uma religião que viva de porta em porta convertendo ou impondo a sua fé. Nós outros nunca fomos o povo escolhido pelo Deus judeu. Nunca tivemos um messias da Casa de Davi para levarmos ao poder novamente. Apesar da enorme inveja causada por esta mitologia aos demais.
Mas interessante que este objetivo foi perseguido desde o início pelo cristianismo, principalmente pelo catolicismo, que eliminou os outros ramos do mesmo para impor a ferro e fogo na Europa, no Oriente Médio e nas Américas o domínio católico. Desde o início passou a atacar as demais religiões com este objetivo. Atingido o poder em Roma como o Deus da Guerra, eliminaram do panteão romano todos os outros credos no local criado justamente para abrigar com tolerância a todos. No ano passado, conseguiu privilégios junto ao presidente Lula não dados a outras religiões, voltando novamente a uma ‘oficialidade’ que perdera com a República em 1889. Republicanos inspirados pela Revolução Francesa e a Revolução Americana. Os ideais iluministas de tolerância religiosa e respeito aos divergentes dentro do estado laico. O mesmo desejo de poder ocorrendo com o Islamismo desde a sua criação por Maomé até os dias de hoje pelo crê ou morre.
O mito e o objetivo
Nenhum dos dois reconhece seu objetivo perseguido, apesar de séculos de luta pelo domínio das sociedades em que se introduziram. Católicos, através da Inquisição na Europa e nas Américas, obrigaram os judeus a se converterem à força. Obrigou os povos americanos a abandonarem suas crenças impondo à força a fé cristã, tentando criar Estados católicos, chamados de reduções, dominando os mesmos como tutela.
Nestes dois milênios em que cristãos e muçulmanos espalharam guerras ao redor do mundo, reinos e califados, ungidos no poder pelas religiões, o povo judeu pouco cresceu pelas perseguições sofridas nesse tempo, em que o Holocausto foi apenas o auge. Apesar de acusarem os alemães de anti-semitismo, a vida de judeus nos Estados Unidos era dura, e em Porto Alegre jovens filhos de emigrantes alemães iam para o Bairro Bom Fim, onde moravam muitos judeus, para dar um ‘corretivo’ nos mesmos em apoio à Alemanha sob o nacional-socialismo. Mesmo na URSS, os judeus tiveram várias crises com os internacionais socialistas no poder até mesmo depois da criação do Estado de Israel.
Este mito construído na mídia contra os judeus, portanto, não demonstra ser uma exclusividade deste povo no mundo; apenas existem faltas de evidências disto. Todas as religiões monoteístas tiveram este objetivo, e inclui-se aí o próprio budismo politeísta que foi introduzido em várias regiões pelas conquistas militares indianas, chinesas e japonesas. A própria maçonaria, organização mística secreta, se espalhou ao redor do mundo nos últimos séculos derrubando inúmeros governos.
Fim totalitário e messiânico
Mas quem realmente deseja fazer isto são os socialistas internacionalistas unindo todos os povos do mundo no credo coletivista messiânico e eliminando os direitos humanos em prol do Estado único, do socialismo internacional ensaiado no século 20 e unificados em 1848 pelo Manifesto Comunista – o espectro que rondava a Europa naquela época e hoje o mundo. Onde a sociedade baseada em interesses de Estado é governada por um ditador pelo partido único em que não se adere voluntariamente, mas se é escolhido depois de uma enorme análise. Depois de verificar a fidelidade ao líder e à religião oficial, que agora unge os dirigentes. A crença onde duvidar, vacilar, questionar é punido com a pena de morte por sair da linha traçada pelos lideres mortos há tempos.
Os teóricos do socialismo ‘científico’ que se consideravam donos da verdade para se considerarem donos do poder por destino ‘científico’. Onde todas as formas alternativas de sociedades, culturas, pensamentos, meios de produção devem ser eliminadas em prol da fé única. Para tal, a tudo se leva mão para atingir o objetivo de eliminar a liberdade do espírito humano, a lavagem cerebral, a educação das crianças, a eliminação dos divergentes, dos derrotistas, dos relutantes, em seções de autocrítica, Gulags, revoluções culturais para levar o esquecimento do povo da sua história, hospitais psiquiátricos para interná-los, prisões distantes para puni-los e silenciá-los, campos de concentração para o trabalho e reeducação à força onde a morte gratuita é exercida para este fim totalitário e messiânico.
A doutrina que visa a conquistar o mundo
Todo o crime paga a pena para os fins messiânicos propostos para eliminar os pecadores e o pecado. A volta da auto-gerência. Da autodeterminação do povo. A eliminação da liberdade de leitura, a eliminação da essência do jornalismo e dos livros, da crítica e da inspiração de novas idéias que não saia do meio da nova elite. A supressão do direito de defesa pela argumentação livre, pelo pregar de novas sociedades e criticar os erros da mesma. Tortura é um crime contra a humanidade, levantam as vozes à imprensa, os intelectuais, os jornalistas. Mas nunca levantam, estes mesmos pensadores, as vozes para condenar o socialismo como um dos maiores crimes contra a humanidade e o espírito humano. Contra os seus direitos fundamentais. Contra a liberdade de pessoas existirem, de pensar livremente, de empreender, de se organizarem, de se manifestar, de acusar e criticar contra os crimes cometidos pelo pensamento único. Pelas novas inquisições e expurgos de sangue, pelos que caíram em ‘desgraça’.
Apesar de ser tudo contra o que é ser em essência um ser humano, jornalistas silenciam ou fazem a propaganda sem alertar sobre o perigo nesta fé que promete dominar todo o mundo. Eliminar a liberdade em prol de uma elite religiosa colocada no poder para manter o cabresto social a qualquer custo, sem vacilar. Em que o ditador passa a ser o elemento determinante dos três poderes reunidos novamente na mão de uma pessoa só, como nos impérios e monarquias. Onde se cria a nova nobreza com os fins de manter o poder nela mesma negando a sociedade o direito de se autogerir. De se auto-organizar. De decidir por si mesma que rumos e que lideres fora da elite partidária, do partido único que não se entra e da supressão da imprensa para tirar a voz do povo e a sua fiscalização. Tolos acham que esta elite algum dia irá se reformar e devolver ao povo, agora sucumbido ao poder, o direito a exercer este mesmo poder e perder os privilégios que conquistaram cometendo toda a espécie de crime contra a humanidade, contra a liberdade, contra a população como donos da verdade. Nenhuma monarquia fez isto. Nenhum país socialista fez isto. Nenhum poder central admitirá que o povo volte a mudar de rumos que fuja das suas idéias traçadas. Esta é a real doutrina que visa conquistar o mundo. Pois ela não pode existir em harmonia com a liberdade e outras formas de produção coletivas ou individuais.
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Médico, Porto Alegre, RS