Na faculdade de comunicação, em aulas de roteiros televisivos, os professores sempre falavam sobre como a linguagem audiovisual é fugaz e, para facilitar a assimilação, deveríamos ser simples. Desta forma, ao preparar um roteiro, o conteúdo deve ser o mais simplificado para que o espectador consiga entender o que está passando – o ritmo não pode ser muito rápido, pois dificulta o entendimento (e a vontade de assistir). Para comprovar esta medida, o professor perguntava aos alunos o que eles assistiram na noite passada – alguns respondiam; depois, passava para duas noites anteriores – menos pessoas sabiam; e assim por diante. Quando perguntava sobre o que foi assistido, as respostas eram sempre gerais (quando respondidas), sem detalhes – o conteúdo assimilado era apenas o resumo do resumo do resumo.
O raciocínio obedece à seguinte lógica: telespectador não se esforça, tem dificuldades para assimilar um conteúdo complexo, portanto, a linguagem deve ser facilitada. Infelizmente, este modelo já está consolidado, se tentarmos alterá-lo, o índice de audiência despenca (e empresário nenhum vai trocar audiência – ou seja, espaço valorizado para publicidade – por um conteúdo inteligente).
Estabelecer um patamar linguístico possibilita atingir um maior número de pessoas. A comunicação de massa ganha em receptividade, mas perde em aprendizado. Exemplo claro é o que acontece com o jornalismo. As matérias não podem ser detalhadas, não há espaço para isso; e não podem ser complexas, ou quem assiste não entenderá (e sob risco de trocar de canal).
Pipoca de microondas
Assistir televisão é legal, no entanto não deve ser a única fonte de informação e entretenimento. A linguagem televisiva não nos obriga a pensar, a passividade existe e faz parte das entranhas da mídia televisiva – e não adianta colocar ‘interatividade’, pois nós assistimos televisão, não usamos televisão.
Ela é uma ótima fonte de entretenimento. E só. Sobre questões mais sérias, como educação, ela atua apenas de forma introdutória. Ninguém deve basear um argumento apenas em cima de algo que viu na TV. Quando uma mensagem é passada, antes de chegar a uma conclusão, outras fontes devem ser consultadas.
Não acho errada a existência de novelas ou qualquer formato boçal de informação. O problema está quando a televisão é a única fonte de informação do brasileiro. Só ver televisão é perigoso, pois sua linguagem somada a interesses publicitários (esta é uma outra questão que não discutirei aqui) geram um conteúdo instantâneo e beirando a inutilidade. Televisão é igual pipoca de microondas: fica pronta rápida, é gostosa, mas não alimenta.
Bom senso
Não faço campanha para mudar a linguagem da televisão. Ela é assim e pode continuar, mas da mesma forma que não podemos comer no McDonald´s em todas as refeições, não devemos ser monopolizados pela TV. Existem outras fontes de informação. Uma delas, e para mim, a melhor, é a leitura. Esta, sim, deveria ser a principal fonte de conhecimento do cidadão brasileiro.
Acredito que, ao contrário da televisão, a leitura estimula o cérebro, incentiva o raciocínio e exercita o pensamento crítico. Ao ler, você é obrigado a fazer conexões, comparações, valorações, que exercitam a inteligência e permitem cada vez mais o acúmulo de informação. Na TV, há informação, mas esta não se transforma em conhecimento ou sabedoria.
Muitos dos problemas da sociedade brasileira existem em função da falta de discernimento das pessoas. Assalto, lixo nas ruas, corrupção, agressão… Se a população tivesse mais respeito pelo próximo, tivesse noção que o público pertence a todos (e não a ninguém) nada disso aconteceria – diminuiria, pelo menos, pois temos que pensar nas pessoas que são assim por natureza. Podemos criar uma sequencia lógica para buscar uma solução: leitura gera educação; educação estimula o raciocínio; que por sua vez, possibilita um pensamento crítico; o pensamento crítico permite o bom senso; e o bom senso causa o respeito social.
Não afirmo que a televisão é culpada pelas mazelas da sociedade, nem que ela as estimula (com certeza, não contribui em nada para mudar este cenário). Ao invés de investirmos em TV digital, deveríamos criar políticas públicas de esclarecimento sobre a importância da leitura. Pais deveriam ensinar e estimular seus filhos a lerem. Poderia haver isenção fiscal sobre a comercialização de livros e periódicos.
Se nossos adultos começassem a ler e nossas crianças aprenderem e mantiverem-se no mundo da leitura, a sociedade iria, aos poucos, progredir. Não precisamos abdicar da televisão, ou qualquer entretenimento fácil. Também, o respeito social não precisa necessariamente vir da leitura, pode vir de várias outras formas. Fundamental e urgente é iniciarmos uma campanha de conscientização não somente pela leitura, mas pela busca do bom senso. Precisamos desligar a televisão e buscar por fontes que realmente possam contribuir para o nosso crescimento intelectual.
A sociedade brasileira precisa disto.
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Graduado em Rádio e TV, especialista em mídias digitais