Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Levantando a sobrancelha

Lendo um artigo do Observatório da Imprensa intitulado ‘Para desengessar o telejornal’, escrito pelo jornalista Robson Terra e cujo assunto é a nova tendência do JN para a ‘leveza’ e a ‘descontração’, lembrei da minha própria estranheza ao ver o que estava acontecendo.

Estranheza, sim. Afinal, quem não estranharia ver o sisudo William – ‘todo poderoso’ – Bonner esboçando um meio sorriso ou levantando a sobrancelha como reação expansiva diante de um fato? Ou melhor, quem não ficaria perplexo ao ver a dupla de apresentadores mais conhecida da TV brasileira tentando fazer algo informal, um papo amigo?

Seguindo a linha proposta em telejornais americanos, a nova tendência no Brasil é a de romper a seriedade engessante e chata que domina os nossos noticiários. Na verdade, veio um pouco tarde, já que nas salas de aula aprendemos que a transmissão da notícia deve ser o mais próximo possível de uma conversa. Um diálogo a ser estabelecido com quem assiste ou consome o produto informativo, como diz Robson Terra.

Na Globo, ainda dá para ver algumas dificuldades, como uma certa descrença com a idéia, demonstrada por pequenos indícios, como os cenários. No caso do Jornal Hoje, onde já se faz a prática de desconstrução da seriedade, os cenários são pesados. Sérios demais. Quase um JN da tarde.

Outras caras e bocas

No caso do JN em si, onde há a ameaça constante de sua exclusividade na formação da opinião pública, existe a desconfiança e o desconforto dos próprios apresentadores em se arriscarem a mostrar falhas que antes seriam inconcebíveis. Antes, seriedade era sinônimo de credibilidade. Essa era a regra nos tempos áureos de exclusividade. Agora, seriedade, sim, mas nem tanto. O JN continua poderoso, mas nem tanto. Hora de ceder um pouco no que diz respeito ao formato.

Hora de praticar o exercício de trocas de palavras. De parceria com quem assiste o telejornal. Hora de praticar – e muito – o levantamento de sobrancelha e mais algumas outras caras e bocas, só para aumentar o repertório.

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Jornalista, São José do Barreiro, SP