Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

“Mataram” o bom jornalismo da Cultura

Que saudades do professor Heródoto e do Celso nas noites da TV Cultura. Com postura crítica e independente, comandavam um jornal que nos permitia construir nossa opinião sobre os fatos divulgados, mesmo quando expressavam opiniões pessoais. Infelizmente, acabaram com o jornalismo sério da TV Cultura. No jornal da Cultura da segunda-feira, Alexandre Machado e Salete Lemos torceram por Geraldo Alckmin descaradamente, sem respeitar aqueles que assistiam ao programa e que buscavam informações que permitissem a escolha de um candidato (eu e meu pai, por exemplo).

Jogo transparente

Este não é o único caso que me decepciona, mas é emblemático de como o tucanato tomou de assalto a programação da TV Cultura, que como um todo está muito ruim. Mesmo o OI está longe de seus melhores dias, e para nós, que ainda acreditávamos na seriedade do programa, mostra-se por demais complacente com os candidatos do PSDB e os escândalos que os envolve.

Penso que as duas últimas enquetes mostram como o OI está distante do público que se acostumou a assistir ao programa. Primeiro porque a parcial que vi mostrava que o público discordava de Dines sobre a publicação do Dossiê dos Tucanos pela revista IstoÉ. Segundo porque, como se percebe, a mídia brasileira, na opinião do público da enquete seguinte, tem utilizado dois pesos e duas medidas na cobertura dos escândalos políticos que assolam o país. Afinal de contas, o suposto dossiê deve ou não ser investigado? Aquela idéia de que onde há fumaça, há fogo deve ser levada a sério? Por que ninguém pediu que se investigasse o conteúdo da matéria, que nada mais é do que uma entrevista dos envolvidos no escândalo? E o vazamento das imagens do dinheiro, nas vésperas da eleição?

Se me permitem uma sugestão, gostaria de assistir a um programa de vocês discutindo a filiação da mídia brasileira ao PSDB e outro sobre o declínio do jornalismo da TV Cultura.

Por último, acho louvável a postura de meios de comunicação que assumem publicamente o apoio a determinados candidatos, como fazem o Estadão e a CartaCapital. Para nós, leitores, fica transparente o jogo político dos envolvidos. Insuportável é assistir a uma programação em emissora pública e ter que conviver com o partidarismo não-declarado, mas indisfarçável, de determinados jornalistas e comentaristas políticos, fazendo o jogo do partido que comanda o estado e que, portanto, os emprega. Devo dizer que votarei no Cristovam Buarque, para que meus comentários não sejam analisados como de alguém que votará no presidente Lula.

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Professor, São Paulo