Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mudamos a TV. Mudamos? Mudamos!

Os meios de comunicação estão passando por diversas transformações. As novas tecnologias têm influenciado, não somente o conteúdo veiculado, mas a maneira como essas informações são recebidas, interpretadas e disseminadas pelo outro ponto do sistema de comunicação (saímos de um modelo receptor/emissor para emissor-receptor/emissor-receptor). Podemos identificar vários acontecimentos que contribuíram para modificar a maneira como assistimos TV.

Um desses marcos foi a série americana Lost, produzida pela ABC, que “ampliou” o conteúdo da trama levando informações da história para a internet. A série virou uma experiência coletiva-interativa, pois a trama se desenvolvia para além dos episódios transmitidos na televisão. O espectador podia vasculhar na internet e encontrar, por exemplo, o site de uma empresa que fazia parte da história. Até mesmo grupos de discussões foram criados para tentar desvendar os mistérios por trás da ilha onde os personagens se encontravam presos.

Segundo a revista Superinteressante, “com sua trama enigmática, a série virou uma experiência coletiva que extrapola o horário de exibição e os limites do televisor. Isso porque é neo-TV é um fluxo, ou seja, é informação gerada continuamente, sem limite de espaço ou tempo. E a pessoa pode entrar e participar quando der na telha”.

Podemos destacar ainda, nessa evolução da TV, os novos concorrentes da programação fixa, as quais o telespectador deveria se conformar. Seguindo a mesma linha, recentemente o B9 fez um post sobre a chegada da HBO NOW à Apple TV. Depois de mudar para sempre a indústria musical, a revolução digital está transformando a relação do telespectador com a televisão e o conteúdo que assistimos.

Netflix entrou de sola

Podemos citar vários exemplos dessa evolução:

>> A série Porta dos Fundos, que saiu de um canal do YouTube e foi parar na grade de programação da FOX. Com vídeos curtos (entre dois e sete minutos) o canal já conta com mais de 1.582.993.996 visualizações (isso mesmo, mais de 1 bilhão e meio) e 9.771.126 pessoas inscritas (quase 10 milhões).

>> A Websérie The Lizzie Bennet Diaries, uma adaptação da obra Orgulho e Preconceito, que foi uma maneira extremamente nova de contar a história do livro. A série durou 100 episódios, sendo que cada um dele possuía de dois a cinco minutos de duração, e era apresentado como um vídeo blog. Além disso os personagens “secundários” possuíam canais no YouTube e contas nas redes sociais, como a Charlotte Lu que possuía um Tumblr.

>> E o grande protagonista dessa modificação (atualmente, porque você já percebeu como isso tudo está bem dinâmico, né?) é o Netflix. A revista Exame deste mês traz algumas informações sobre a empresa que virou uma febre mundial. Até o Silvio Santos está fazendo propaganda do serviço. Segundo a reportagem, a indústria da TV movimenta anualmente mais de 200 bilhões de dólares, somente em publicidade.

E a Netflix entrou de sola nesse mercado, pois por uma mensalidade fixa (menos de 20 reais no Brasil) o assinante tem acesso a uma quantidade infinita (exagero da nossa parte) de conteúdos. A empresa possui 54,5 milhões de assinantes em quase 50 países e ela corresponde por 34% do tráfego de banda larga no horário nobre da televisão americana.

Mudamos praticamente tudo

O mundo digital cria novas oportunidades e cada vez mais são os consumidores quem ditam as regras. Quando pensamos no poder da internet (e lembrando dos aspectos da Cauda Longa, principalmente a questão dos nichos) percebemos que as oportunidades aumentam a cada nova tecnologia inserida na sociedade.

Se pensarmos no YouTube, por exemplo, veremos que a cada mês mais de 1 bilhão de pessoas de todas as partes do mundo acessam o serviço. E o interessante do Netflix é que ela se tornou produtora de conteúdo. São diversas as séries e os documentários originais produzidas pela empresa. Outro ponto que deve ser ressaltado são as conexões estabelecidas pelo serviço. Ele te indica conteúdos similares, você pode fazer uma classificação dos seus programas favoritos e etc.

Mas esse texto não pretende exaltar nem falar das facilidades que a tecnologia oferece. Devemos pensar na maneira como o conteúdo é criado e disponibilizado e como todas essas inovações estão influenciando o produto que é oferecido ao público. Se antes eram exibidas histórias simples e lineares, hoje a web estimula enredos complexos e que giram 360º (não para voltar ao mesmo lugar, mas para abrir várias possibilidades de consumo), onde você escolhe o que quer assistir. Os programas de TV, de cinema e das mídias eletrônicas, cada vez mais se expandem para além das suas plataformas originais. Sendo recriados, recontados e compartilhados pela sociedade. É dessa forma que mudamos a TV. Mudamos a TV, não, mudamos praticamente tudo.

Fontes

Super Interessante – Lost, o passado da TV, e o futuro da diversão.

B9 – HBO Now chega a Apple TV

Revista Exame – Edição 1085 – Ano 49 – Nº5Ode à TV Brasileira

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Felipe Tessarolo é professor universitário