Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Mudando de tom

“Hoje é um novo dia de um novo tempo” (Rede Globo)

De cara nova, o Jornal Nacional tenta recuperar o público deixado para trás em mais de quarenta anos de história. Esse cenário é uma realidade que afeta telejornais de todo o mundo. Estima-se que a audiência do JN desabou, sentindo o peso da “âncora” da revolução digital, que puxa para baixo os números da audiência e que hoje chega a pouco mais de 20%. Coisa bem diferente da década de 70, quando tinha a hegemonia na TV brasileira. Mas, é um problema mundial.

Porém a Globo tem dado passos largos para recuperar o espaço nos lares. Já estava em tempo de buscar uma transformação para um padrão tão ultrapassado e maçante de se transmitir informação. O slogan que a Record utiliza, “aberta para o novo”, se encaixa bem mais condizente com a realidade que vemos na proposta que a cinquentona carioca está tentado emplacar em rodopios no seu padrão de qualidade.

Nova programação; a bancada bizarra de décadas saiu da passividade; apresentadores circulam e dialogam entre si. Mas se engana quem acredita que a Globo desceu do salto e se tornou popular. O que se percebe é que não cabe mais na TV o dilema do caminhar para o popularesco, quando a audiência não vai bem. Beirar o sensacionalismo é um erro que mais cedo ou mais tarde, pede as contas. Em se tratando de jornalismo não dá para ser irresponsável, uma coisa primordial entra em jogo: a credibilidade.

A audiência migrou para outras plataformas, e com isso, não se encontra o aparelho televisor sendo usado da mesma forma que décadas atrás. A população que antes tinha o aparelho na sala apenas com o sinal aberto, hoje dispõe de mais opções. Com o progresso social, o número de famílias que têm acesso à TV por assinatura e internet aumentou; o que diminui foi o tempo que o brasileiro passa assistindo. Com a internet e canais por assinatura que transmitem informação 24h por dia, ficar informado ficou mais interessante e dinamizado. A linguagem é outra.

Recuperar público e credibilidade

O repórter não é robô, mas também não se assemelha a um animador de auditório e muito menos a humoristas eufóricos recém-chegados na mídia. Jovens na telinha, é uma das tentativas de resgatar o público que mais se distanciou nos anos de conservadorismo. A programação informativa com entradas do G1, portal de notícias da Globo na internet, faz uma conexão de linguagem com a TV à la VJs, da MTV.

Dá para resgatar os telespectadores perdidos? Bom! Quando há uma mudança de hábito, é complicado se certificar de uma retomada de público, se não é simplesmente pelo fato de um formato de abordem que se escolhe um meio, mas a plataforma. O fato é que pessoas não deixaram de se informar, apenas mudou a forma de procurar informação.

O público migrou, e quem ficou assistindo telejornal, almeja que a notícia mude de tom. O telejornalismo da Globo está disposto a inovar – deu o primeiro passo. Se a espontaneidade não está presente nesta renovação, pode ser apenas uma forma de análise. Pelo que parece, o bordão que a programação jornalística global usa, quando o negócio é descer do salto e colocar definitivamente os dois pés no chão, é o “Não estou disposta”. Isso representaria sair da linha pomposa e dar margem para uma postura popular. Ter os dois pés fincados na popularidade, também pode representar a saída do tom tradicional da credibilidade. Como falei, credibilidade é uma coisa que nenhum jornalista ou meio de comunicação quer perder. Recuperar público é possível, a credibilidade também, porém é uma coisa muito mais complicada.

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Francisco Julio Xavier é jornalista