Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Não teremos passe de mágica

Fiquei feliz em constatar que os radiodifusores decidiram apoiar o projeto do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD). A imprensa escrita também se manifestou favoravelmente. Antes tarde do que nunca… Não se iludam os senhores de que a TV digital virá logo, como num passe de mágica, mesmo que venhamos a adotar um padrão estrangeiro in natura. Para se ter uma idéia do desafio, faço um paralelo ao que está acontecendo nos Estados Unidos. Os EUA conduzem a sua transição há oito anos. A TV aberta concorre com a TV a cabo e a TV via satélite; juntas correspondem a 85 % da audiência nacional de televisão.

A TV via satélite digitalizou-se totalmente, por ser esse meio extremamente econômico. Não há pressa em digitalizar a TV a cabo. O sistema analógico ainda dá bons dividendos; os investimentos na TV digital a cabo vão de acordo com a demanda do consumidor. A TV de alta definição ainda é um ‘nicho de mercado’. Somente quando os preços dos telões caírem violentamente, a demanda pela TVD vai aumentar (dilema do ovo e a galinha…). A grande vantagem da TVD é percebida no telão! Atualmente, os radiodifusores americanos estão mais interessados na multiprogramação do que em alta definição. (Aqui na terrinha, temos conteúdo suficiente?).

A grande pressão pela transição dos sistemas de TV aberta nos EUA diz respeito à falta de canais para outros serviços, como rádio-comunicação de emergência, comunicações móveis, celulares, banda-larga etc. Embora apenas 15% da população tenham acesso somente à TV aberta, domicílios servidos pela TV a cabo ou satélite também têm TVs com antena interna, na cozinha, no quarto ou na garagem. Cerca de 70 milhões de aparelhos recebem sinais de TV exclusivamente por antenas (interna ou externa). No Brasil, são 60 milhões. A adesão da TV digital pelo ar atinge 7% (7% dos 15%…) dos lares, algo em torno de 1 milhão de receptores.

Pressa artificial

O governo americano ‘dilatou’ o prazo para o desligamento da TV analógica. O apagão vai mudar de 2006 para 2008. Vão proibir a fabricação de TVs analógicas em 2007. Vão obrigar à afixação de selos de advertência em receptores analógicos (TVs, vídeos, combinados, portáteis) vendidos no comércio. (‘Essa coisa vai deixar de funcionar…’). Vão subsidiar a compra de conversores da primeira geração (ruinzinhos, cujas patentes caducaram).

Essas ações, estranhas à economia de mercado, trazem conseqüências funestas. Isso vai provocar uma desorganização nos preços dos equipamentos de consumo. Já é possível notar o aumento do contrabando de TVs analógicos no país. Não se acaba com um padrão por decreto. Historicamente, a transição de sistemas de televisão demanda 20 anos. (Patentes duram 15.).

Voltando ao Brasil, a ‘pressa’ pela TVD é artificial; ela ainda não ‘colou’ em lugar algum. Vamos dar aos nossos cientistas o tempo necessário para a formulação do padrão ideal para o povo brasileiro. Vamos dar o tempo necessário para o desenvolvimento de um sistema digital tão robusto quanto o PAL-M. Vamos dar o tempo necessário para a concepção de um conversor de custo realmente acessível.

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Técnico em eletrônica, Jundiaí, SP (http://sbtvd.anadigi.zip.net)