Silvio Berlusconi, além de ser presidente do Conselho de Ministros da Itália, é dono da maior rede de televisão italiana, a Mediaset.
Apesar de ter levado às urnas um número de eleitores poucas vezes visto (na Itália o voto não é obrigatório), e de ter sido o único primeiro-ministro na história da República (1946) a cumprir integralmente seu mandato, Berlusconi não conta com a ‘simpatia’ da mídia dita ‘progressista’. Entre os motivos para isso está o de ser considerado americanófilo, algo meio fora de moda na península, e tudo piora pelo ter enviado tropas ao Iraque.
Os soldados que estão acantonados na cidade Nassirya sofreram um ataque ‘kamikaze’ em 13/11/2003, que deixou um saldo de 22 carabineiros, 5 soldados do exército e 2 civis mortos, além de 20 feridos. Claro que foi um grande abalo para a opinião pública, reforçado pelos constantes fracassos das tropas estadunidenses no Iraque.
Em agosto de 2004 foi realizada uma batalha para a tomada de algumas pontes sobre o rio Eufrates, e as ações forma filmadas por um soldado. Foi a terceira vez que tropas italianas participaram de combates diretos. São 11 minutos de filmagem, tiroteios, imprecações, xingamentos; alguém exulta ao atingir um inimigo, outro grita: ‘acaba com ele!’; enfim, é a guerra em que se deve matar para não ser morto.
São vozes que nem o fragor dos projéteis conseguem cobrir. Vozes de jovens amedrontados não só pelo temor de serem mortos, mas também pela reação emotiva de seus parentes com a notícia, que certamente seria lida nos jornais do dia seguinte.
‘Atenção àquele bastardo’, grita alguém. Tudo parece um filme de cinema, com uma diferença: na ficção, no final as vítimas se levantam e vão para casa, mas nas imagens registradas pelo soldado os caídos estão realmente mortos.
Vil e burra
Essa filmagem seria uma furo de reportagem do programa Le Iene (As hienas), algo como um Casseta & Planeta sério. Tudo estava pronto quando chegou uma ordem da direção do canal Itália 1 (Mediaset) para que não fosse ao ar, com a seguinte alegação: ‘Tratam-se de imagens muito confusas dos nossos soldados sob ataque, comentadas por um representante de uma organização denominada ‘Observatório Militar Defesa’ [o comentarista é o suboficial Domenico Leggiero], em não conformidade com nossos padrões jornalísticos , que mostram os militares italianos no Iraque distantes da realidade’.
Jamais tinha acontecido que Mediaset censurasse o programa Le Iene. A censura é a violência mais vil que pode ser feita contra a imprensa; Neste caso, além do mais é burra, pois ocorre às vésperas de um ano eleitoral em que Berlusconi disputa sua permanência no governo.
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Jornalista