Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Big Brother e as alunas-misses

Não terá o leitor, neste artigo, críticas individuais ao jornalista global Pedro Bial, ao programa Big Brother Brasil (BBB), às novelas também globais, ao escritor Mário Prata ou às alunas-misses que, ano após ano, invadem os cursos de Jornalismo país afora. Terá o leitor, então, ilações que permeiam esses itens. Felizmente, vivemos em uma nação sob o sistema democrático e cada um faz o que bem entende e todos assistem somente ao que desejam também.

De pronto, creio que vale a pena dizer que o jornalista Pedro Bial, aquele que correu o mundo apresentando espetaculares reportagens e que agora se deplora semanalmente na tela da televisão brasileira, pode ser tomado como o maior ídolo dessa geração de meninas que adentram as faculdades de Jornalismo com o sonho maior de se tornarem profissionais do primeiro time da imprensa brasileira ou, melhor, do primeiro time do telejornalismo nacional. Em qualquer sala de aula deste país elas estão presentes e, volta e meia, são alvo de comentários jocosos de professores e colegas.

O que aparentemente não se percebe é que tais alunas-misses têm exatamente o perfil que a maior parte dos telespectadores quer ver nas telas da TV, ou seja, a mera capacidade de sorrir e falar asneiras a qualquer momento, de modo a criar um clima de festa em cada vez que forem ao ar. Ou será que se espera algo mais de Bial quando ele entra em cena para travar diálogos com os eleitos do BBB?

Desesperança e culpa

Aparentemente, aqueles que tanto criticam programas como o BBB não notam é que esse mesmo Big Brother é uma mera variação das novelas. Talvez a grande diferença esteja no fato de que, agora, o telespectador participa do desenrolar da trama, votando para eliminar alguém. A essa participação se pode denominar ‘interatividade’, ‘interação’ ou uma alcunha qualquer. Digo que seja mera variação das novelas em virtude de que a qualidade deplorável de um BBB é semelhante à de uma Bang-Bang, por exemplo, cujos erros históricos e geográficos são grotescos, risíveis mesmo. E pensar que Mário Prata foi o mentor intelectual de Bang-Bang, o mesmo Prata autor de obras de entretenimento da melhor espécie, como Meus homens e minhas mulheres e Mas será o Benedito?.

Talvez seja a hora de iniciarmos um processo de revisão de nossos pontos de vista sobre algumas características dos cursos de Jornalismo no Brasil. Talvez seja a hora de os críticos (professores, estudantes ou estudiosos) repensarem de fato algumas opiniões, deixando a amargura e a desesperança de lado, e passando a entender melhor os anseios da sociedade.

Talvez, a partir daí, com o material humano que temos em nossas classes universitárias, seja possível praticar um ensino melhor e com resultados melhores, sem que tenhamos de participar da colação de grau de uma turma com aquele ar de desesperança e culpa parcial, pensando ‘puxa, como é que fui colaborar para formar um jornalista assim?’. Pois talvez seja um jornalista assim – o Pedro Bial de agora, e não aquele que outrora nos encantou como correspondente internacional – que a sociedade esteja com vontade de ver na próxima vez em que ligar a TV.

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Jornalista e professor universitário no Paraná