TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Celular comanda casa digital made in Brazil
‘Aquilo que era ficção nos desenhos animados dos Jetsons, a família do século 21, começa a tornar-se realidade, em São Paulo. Ainda no escritório, antes de retornar à casa, o executivo aciona a função chegar na tela de seu celular e, com apenas uma ligação, transmite instruções codificadas ao painel de controle doméstico, checando sistemas de segurança, câmeras de vídeo, persianas, iluminação, ar-condicionado ou a banheira de sua residência. Se preferir, pode pedir ao sistema que prepare seu banho, na temperatura preferida, para que tudo esteja pronto exatamente no momento de sua chegada.
Eis aí a mais recente idéia de utilização do celular: como um supercontrole remoto para comandar todas as funções da casa inteligente. E, para surpresa de muita gente, o Brasil é pioneiro nessa área, graças à contribuição tecnológica da Ihouse, empresa fundada e dirigida por Leonardo Senna.
‘Com suas múltiplas funções, o celular supera tudo que já foi inventado para controle da casa automatizada. As novas tecnologias digitais permitem que o telefone celular seja utilizado com sucesso nessa nova aplicação de supercontrole remoto da casa inteligente. E nisso, estamos lançando uma inovação mundial’, explica Senna.
Na realidade, o celular se transformou numa espécie de canivete suíço eletrônico: sempre acolhe novas funções e utilidades. Por isso, milhares de empresas em todo o mundo desenvolvem novas aplicações e conteúdos para seus usuários, incorporando coisas tão diversas quanto acesso à internet, câmera fotográfica ou de vídeo, música MP3, games, recepção de TV ou serviços de localização via satélite (GPS).
A Ihouse colhe hoje os frutos de muitos anos de investimento em pesquisa e desenvolvimento. Sua linha de produtos vai muito além dessa utilização do celular, abrangendo, especialmente, a área de automação predial e produtos e sistemas para a casa digital. Nos últimos meses, a empresa lançou os primeiros apartamentos desse padrão nos edifícios inteligentes mais avançados de São Paulo.
Senna diz que sua proposta é atender a clientes que buscam conforto numa casa à frente do seu tempo, associando os recursos do celular e da internet.
A Ihouse projeta e instala todos os sistemas exigidos pelas casas digitais ou pelos edifícios inteligentes residenciais de alto luxo.
Nessas residências, não há interruptores convencionais, mas painéis gráficos do tipo touchscreen, instalados na cabeceira da cama ou na parede, que permitem a comunicação com toda a casa via internet, celular (tanto CDMA quanto GSM), computador pessoal (PC) ou pocket PC, possibilitando aos moradores comandar portas, ar- condicionado, iluminação, banheira, chuveiro ou sauna.
‘Morar em um apartamento de alto padrão, diz Senna, é desfrutar de facilidades e mordomias que vão muito além da imaginação. E não estamos falando de protótipos, mas de tecnologias que já estão acessíveis aos moradores de diversos prédios recém-concluídos e inaugurados.’
CENTRAL DE CONTROLE
Equipamentos inteligentes podem ser utilizados individualmente ou integrados em um sistema central, o Smartcontrol, nome comercial registrado pela Ihouse. A grande tendência da casa digital, aliás, é usar um servidor doméstico para controle de todas as funções.
O Smartcontrol tem uma tela sensível ao toque, com informações claras e amigáveis, com gráficos e ícones, que permitem ao usuário simplificar diversas funções com um único comando. A função acordar permite, com um único toque, abrir a persiana, regular a temperatura ambiente, abrir as cortinas ou ligar o chuveiro.
A banheira desenvolvida pela Ihouse é comandada pelo controle Smartshower, por meio do qual o usuário escolhe a mistura de água quente e fria, o fluxo da ducha e, se quiser, pode até acompanhar o preparo do banho em tempo real. Se estiver distante do banheiro, assim que tudo esteja pronto, o usuário recebe um aviso, com um toque especial em seu celular.
A home networking, ou rede que conecta todos os equipamentos da casa digital, associa as tecnologias Ethernet e Controller Area Network (CAN). A Ethernet é utilizada amplamente em escritórios, fábricas e residências para comunicação entre computadores, enquanto a CAN é usada em aeronaves e carros de última geração.
Um dos grandes desafios da casa digital era, até hoje, obter dos fornecedores assistência técnica rápida e manutenção adequada dos sistemas e equipamentos. Leonardo Senna diz que a Ihouse garante não apenas a pronta solução dos problemas e com uma vantagem adicional: na maioria dos casos o proprietário não precisa nem ligar para assistência técnica em caso de falha ou defeito. Como estão conectados via internet com a central da Ihouse, os equipamentos fazem um autodiagnóstico e enviam automaticamente um chamado para assistência técnica, o que reduz o tempo de reparo porque o técnico já se dirige para residência com a peça defeituosa para substituição.’
RÚSSIA
Um diário russo contra a indiferença
‘Provavelmente foi uma coincidência mórbida. O assassinato de Anna Politkovskaya aconteceu no ano passado, em 7 de outubro, dia do aniversário do presidente russo Vladimir Putin, seu alvo obsessivo e furioso. Ela era uma jornalista sem medo, apesar de viver em um ambiente perigoso, de intimidação e cercada de inimigos nos círculos de poder por seu trabalho investigativo na Novaya Gazeta, uma pequena mas corajosa publicação, envolvendo reportagens e comentários ácidos sobre corrupção, os horrores da guerra na Chechênia, abusos dos direitos humanos, roubalheiras eleitorais, as mentiras do governo e o crescente mando imperial de Putin.
Pouco antes de ser baleada no elevador do edifício onde morava em Moscou, Anna Politkovskaya, que tinha 48 anos, terminara seu diário sobre um período sombrio da história do seu país, entre dezembro de 2003 e agosto de 2005. Movida por altos preços do petróleo e cinismo popular, a Rússia de Putin continua no escuro, mas este testamento de Anna Politkovskaya, Um Diário Russo (Rocco, 360 págs., R$ 43), ilumina os descaminhos de um país.
Que coisa patética. Ao lado de Putin em uma entrevista coletiva à imprensa, em junho de 2001, George W. Bush disse que olhara na alma do presidente russo e vira um bom homem. Anna Politkovskaya olhou muito mais profundamente e viu um déspota. Desde que ele assumiu o poder em 2000, 13 jornalistas foram assassinados na Rússia. Infelizmente, Putin tem razão em um ponto. O presidente afirmou depois do assassinato de sua adversária, que ela exercia ‘mínima influência’ no país. É verdade. O impacto das denúncias de Anna Politkovskaya sempre foi maior no exterior. Na tradição de um Soljenitsyn, seu testemunho não é para consumo doméstico. Isto não quer dizer que a história não esteja do lado desta que ficou conhecida como a ‘consciência moral perdida da Rússia’.
Curiosamente, Anna Politkovskaya se esconde na narrativa, embora como jornalista seu hábito fosse escrever na primeira pessoa. Obviamente não se trata de medo pessoal. No posfácio com o título-pergunta Estou com Medo?, Anna Politkovskaya relata seu temor pelo o que vai acontecer na Rússia e não com ela. Mas vamos ao início.
O diário começa em 2003 quando o partido nacionalista de Putin, Rússia Unida, atropela a oposição e vence as eleições parlamentares. A prisão do magnata do petróleo Mikhail Khodorkovsky, que chegara a ser o homem mais rico do país e ousara desafiar o poder do presidente, é um alerta definitivo sobre o que se passava na alma política de Putin.
O triunfo despótico se consolida nas eleições presidenciais do ano seguinte. Capítulos adiante, Anna Politkovskaya abandona a análise política e mergulha na reportagem, detalhando o caos da guerra da Chechênia, um processo de corrosão que culminou em setembro de 2004 na tomada da escola em Beslan por separatistas, que deixou mais de 400 mortos, mais da metade crianças. O massacre foi a justificativa para Putin cancelar eleições para governador. É nos relatos sobre Beslan que Anna Politkovskaya poderia ter sido mais pessoal, embora seja pungente o espaço que ela fornece aos parentes das vítimas. Mas sua experiência direta foi marcante, inclusive com seu alegado envenenamento durante um vôo para a região para que não pudesse cobrir e mediar a crise.
Embora Putin fosse o principal adversário, Anna Politkovskaya teve perspicácia para perceber que a condição doente do seu país não é trabalho sujo de apenas um homem. Ela distribui a culpa com irritação e condescendência. A impaciência com a oposição liberal e o povo em geral é repetitiva. Exasperada, Anna Politkovskaya escreve: ‘Parece que o povo simplesmente desistiu, como se dissesse: e daí? A Rússia recaiu na hibernação sociopolítica, em um novo período de estagnação, cuja profundidade pode ser julgada pelo fato de que nem mesmo a tragédia de Beslan, um cataclismo de proporções bíblicas, pôde incomodá-la’.
O ranço de Anna Politkovskaya também incomoda, mas é difícil não compartilhar sua repulsa pelo ‘bacanal de indiferença’ que assola a Rússia. O relato é apimentado por doses de humor negro. No último dia do diário, 31 de agosto de 2005, ela escreve que ‘nossa revolução, se vier, será vermelha porque os comunistas são quase a mais democrática força no país e porque será sangrenta’.
O diário não termina com ritualísticas palavras de otimismo. Ela observa o seguinte: ‘As pessoas freqüentemente me dizem que eu sou uma pessimista; que eu não acredito na força do povo russo; que eu sou obcecada na minha oposição a Putin e não vejo nada além daquilo. Eu vejo tudo e este é o problema todo’. Anna Politkovskaya via tudo e por esta virtude pagou com a vida.’
MERCADO EDITORIAL
…e Harry Potter vazou na internet
‘Na semana passada, alguém com acesso a um exemplar do último volume da série Harry Potter colocou o livro contra um chão acarpetado e fotografou cada uma de suas páginas com uma câmera digital Canon Rebel 350D. As imagens foram divulgadas pela internet na noite de segunda-feira, cinco dias antes do lançamento mundial.
Ao todo as editoras da série gastaram US$ 20 milhões para proteger o segredo até o sábado. Instalaram rastreadores de satélite nos caminhões de distribuição, contrataram advogados para tirar sites com o material pirateado do ar. ‘Mas, não há o que fazer’, escreveu em seu blog Bruce Schneier, um dos maiores especialistas em segurança digital dos EUA. ‘É impossível evitar que algo assim vaze na internet.’
O resultado é que Harry Potter, o último, já havia sido resenhado pelo New York Times na edição de quinta-feira. O livro de J. K. Rowling não é sequer o único exemplo recente. Sicko, último filme do documentarista Michael Moore, vazou na internet três semanas antes de estrear nos cinemas de seu país.
Para a maioria de seus usuários, a rede mundial de computadores se restringe à web pela qual se navega atrás de informação e aos e-mails trocados. Quando muito, ela está presente no cotidiano das mensagens instantâneas. O submundo da internet, no entanto, a rede invisível para quem não está atento, aquela na qual filmes, discos e livros são trocados, corresponde a 60% do tráfego de dados em todo o mundo.
Em 1999, não chegava a 10%.
A história desta internet paralela começou no dia 1º de junho de 1999, quando um estudante de 18 anos chamado Shawn Fanning lançou um pequeno programa chamado Napster. Quem o utilizasse poderia compartilhar os arquivos de música em seu computador com outras pessoas pela internet. Em menos de um ano, já contava com 60 milhões de usuários. As gravadoras entraram em pânico e, através de ações milionárias na Justiça, puseram o sistema Napster abaixo.
A resposta dos programadores foram novos sistemas de troca de arquivos bem mais complexos do que o de Fanning. Um dos mais populares, o BitTorrent, está em operação desde 2001. Diferentemente do Napster, os sistemas utilizados por jovens em todo o mundo atualmente não exigem um computador central que ligue os computadores pessoais de quem troca os arquivos. Sem tal computador central, não há como desligar a rede. Ela funciona descentralizada e está sempre de pé.
Aquilo que ela precisa são sites que publiquem endereços especiais, como links, para filmes, discos ou livros. O mais conhecido e utilizado deles se chama Pirate Bay. Tais sites podem ser derrubados – e de Hollywood à indústria fonográfica, todo mundo o tenta arduamente.
Pirate Bay é o 274º site mais visitado da internet. Criado por um grupo de ativistas contra as leis de copyright suecos, ele é comandado por homens conhecidos e com a ficha policial limpa. Para eles, o direito autoral interrompe o livre fluxo da informação no mundo, principalmente quando está nas mãos de grandes corporações. Por conta da flexibilidade das leis de direito à livre expressão da Suécia, argumentos para encerrar a operação são difíceis de levantar. Em 2005, a polícia chegou a fechar o site. Ele estava de pé, novamente, três dias depois.
Em novembro último, uma empresa especializada colocou nesta rede paralela uma cópia de boa qualidade de um filme que estava estreando nos cinemas americanos. O rastreamento nas duas semanas seguintes deste arquivo, feito a pedido da revista The Atlantic Monthly, contou 30.408 downloads nos cinco continentes. Cópias daquele mesmo arquivo foram baixadas, inclusive, em 23 dos 27 estados brasileiros.
Foi justamente na Pirate Bay, ao longo da última semana, que leitores de Harry Potter puderam encontrar o exemplar do sétimo episódio da série, devidamente fotografado página a página em sua edição americana. No Pirate Bay, estavam links para o download do conjunto no sistema Bit Torrent e, o que é raro, links para quem quisesse lê-lo na própria web.
Tanto a editora americana Scholastic quanto a Bloomsbury, editora do original britânico, passaram a semana perseguindo estas cópias online. As que estavam em páginas da web puderam ser derrubadas, mediante liminares. Os advogados viraram a noite. Cópias na rede paralela, no entanto, como filmes, como discos, podem ser rastreadas, mas não há um computador que, desligado, interrompa sua distribuição. A única opção seria desligar a internet. Não vai acontecer.
Durante todo o processo de escrita de Harry Potter e as Relíquias da Morte, nunca uma única cópia do rascunho foi enviada por e-mail pela escritora J. K. Rowling para seus editores. Rowling imprimia o texto, um dos poucos autorizados a lê-lo ia à Escócia pegar pessoalmente a versão. A segurança rígida funcionou, inclusive, para os editores americanos – que foram a Londres buscar, em papel, os originais para revisão. Nenhuma das editoras que traduzem Harry Potter pelo mundo tiveram acesso a uma cópia antes da data para venda.
Mas, em um momento, os livros precisaram ser impressos, encadernados, distribuídos aos milhões pelas principais cadeias de livrarias em todos os EUA, Reino Unido e mesmo países de Europa, Américas, Ásia, África e Oceania que não falam inglês. ‘O problema é que há gente demais na qual se deve confiar para garantir que o segredo seja mantido intacto’, escreveu Schneier , o especialista em segurança digital. Schneier é conhecido o suficiente no ramo para ser citado em romances como O Código Da Vinci como referência. ‘Basta uma única pessoa que decida quebrar esta confiança – um motorista de caminhão, um livreiro, um empregado de algum depósito, por exemplo – e o livro vazará.’
A pessoa que fotografou cada página do último Harry Potter apoiou o livro contra um carpete cinza mesclado com preto. Ela nunca aparece – apenas seus dedos, prendendo as páginas. Mas, em cada fotografia, sem que esta pessoa desconfiasse, um número estava sendo registrado. Toda câmera digital deixa em toda foto que tira esta identidade. É por isso que, a essas alturas, a Canon já sabe que modelo foi e onde foi vendida nos EUA, três anos atrás. O dono da câmera pode, possivelmente, ser rastreado.
O submundo digital tem mistérios que escapam, até mesmo, àqueles que trocam arquivos na internet paralela.’
TELEVISÃO
Como sobreviver a seu bebê
‘‘Paidecendo no Paraíso’, que estréia em agosto no GNT, mostra a vida dura de um pai recém-nascido
Suas peladas com os amigos serão trocadas por noites em claro. O jogo de futebol na TV, interrompido por choros estridentes e fraldas sujas. Sexo com a sua mulher? Quem sabe um dia… É assim, com esse olhar ‘otimista’ da paternidade que o casseta Hélio de La Peña encara, e quer ensinar aos marmanjos de plantão, a maratona de ser pai.
Não satisfeito em ter seus sábios e hilários ensinamentos sobre o tema publicados, o humorista levou-os para a TV. A nada cor-de-rosa vida de um grávido é o tema de Paidecendo no Paraíso, série de quatro episódios, que estréia dia 9 no canal pago GNT.
Baseada no Livro do Papai, de Hélio, retrata, com muito humor, a figura do pai de primeira viagem vivido por Ernesto Piccolo, e sua mulher Maristela (Sylvia Buarque). Idas ao ginecologista, sexo na gravidez, aniversário de criança, não faltam temas para esse ‘suco concentrado de desespero’, como o próprio casseta – que tem três filhos – define. Escracho do bom em homenagem ao mês do pais.
Best-seller
PÉROLAS DO ‘LIVRO DO PAPAI’
‘Se for a um ginecologista, nunca faça mais perguntas que a sua esposa. Pode dar a impressão que você não manja nada de mulher.’
‘Evite passar seus vícios para seu filho. Se não consegue parar, fume escondido no banheiro. Se o bebê desconfiar, diga que você só fuma para disfarçar o cheiro.’
‘ As grávidas só trabalham com dois neurônios durante a gestação: os que acionam o choro e o das broncas no marido’
‘ Seu ordenado não desaparece por conta de fraldas, o sujeito vai à míngua comprando papinha para o turbilhão de visitas a que o jovem casal passa a dar abrigo.’’
***
‘Ser pai é uma viagem sem volta’
‘Hélio de la Peña e seu jeito casseta de lidar com grávidas e filhos
Como surgiu a idéia da série?
Quando eu estava escrevendo O Livro do Papai já achava que muita coisa tinha cara de esquete, muitos diálogos poderiam funcionar na boca de atores. Aí, pensei numa série. Eu tinha também uma outra viagem de escrever para pessoas que não fossem os cassetas. Então, apresentei o projeto para o GNT e busquei a parceria da Rosane Svartman na produção.
É mais difícil escrever para os outros?
Estamos há 15 anos escrevendo para nós mesmos, a gente já desenvolveu uma linguagem própria. Eu estava buscando uma linguagem que fosse diferente do Casseta. A série também é essa coisa caricata, mas tem um pezinho na realidade. As pessoas acreditam mais, consideram aqueles personagens mais parecidos com elas. Em algum momento, a mulher vai puxar o marido e dizer: ‘Olha lá na TV, parece até você’.
A série passa por todos os momentos da gravidez?
Vai do momento em que o casal está na dúvida se vai fazer o filho, e a mulher decide que vai (risos). Passa pelos percalços da gravidez, a ida ao ginecologista, o problema do sexo na gravidez. Tem ainda o parto, que é aquela situação em que o pai fica ali, com aquela cara de….
De idiota?
Exatamente (risos), o pai é um idiota. Não sabe exatamente qual é o seu papel no parto, fora, é claro, ser o papel moeda (risos). Pagar as coisas.
Quantos filhos você tem?
Tenho 3 meninos. Um de 15, um de 5 e um de 3 anos.
Então sua casa é um turbilhão?
(risos) É sim. Mas eu não sei fazer mulher, mulher é um bicho muito complicado.
O livro e a série são baseados em experiências suas?
Também. Mas são mais baseados em situações que me contaram e nessas revistas tipo Pais e Filhos, que eu lia muito. Coitadas daquelas pessoas desesperadas que escrevem para as revistas (risos). Eu ia pegando aquelas situações e colocando pimenta em cima.
Você então não é um pai desesperado?
(risos) Às vezes. Minha mulher diz que se ela fosse aquela mulher desesperada que eu falo, eu não teria tido tempo de escrever livros (risos), nem de fazer o Casseta. Esse é o álibi dela.
Você se lembra de ter passado por alguma dessas situações da série?
Ah, a situação do sexo na gravidez, a ida ao ginecologista com minha mulher e a primeira ida a praia com meu filho… Como eu digo no livro: ser pai é uma viagem sem volta.(risos)
Por quê?
Você tá acostumado a chegar na praia com seu chinelo, R$10 e o resto, o barraqueiro resolve. Agora, quando se tem um filho, você praticamente se muda para praia. (risos)
O Paidecendo é uma resposta ao Mothern?
Eu gosto do Mothern, mas nós temos objetivos diferentes. O Mothern quer contribuir para a formação dos pais, eles ajudam esse pai e essa mãe a encarar aquela situação, ver uma luz no fim do túnel. Eu já quero que o cara fique mais desesperado. (risos) O sujeito que não tem filho, se assistir ao meu programa, vai desistir. (risos)
Você vai contribuir para a queda da taxa de natalidade?
Exatamente (risos).
Em algum momento, com todo esse pessimismo de sua série, o pai vai achar que vale a pena ter filho?
Ah, vai sim. No final da série eles estão pensando em fazer um segundo filho… É complicado, mas é maneiro demais, eu mesmo tenho três.
O Paidecendo é machista, não é?
É, em nenhum momento tem um homem sensível ali. O Paidecendo é um pai antiquado, não tá ligado nessa coisa de paternidade. Mas ele é bem intencionado, só não sabe como ajudar (risos).
Você faz uma ponta na série?
Participo do primeiro e do último episódio, mais para tirar onda. Minha presença tá mesmo no texto, na produção… Por exemplo: foi sugestão minha o Tony Tornado como ginecologista. Você coitado tá ali, lidando com as encanações de ir ao ginecologista com sua mulher e, chega lá e dá de cara com o Tony, grandão, negão. Tem alguém mais perfeito que o Tornado para o papel de ginecologista? (risos)’
Mário Viana
Quem são os adoradores de Miúcha?
‘Desta vez, não foi e-mail, mas um telefonema do meu amigo L.S. Fã de Paraíso Tropical, ele não se conformava. ‘Você viu o diálogo entre os funcionários do Hotel Duvivier sobre o show da Miúcha?’, perguntou. Sim, eu vi. ‘Você não achou esquisito uma jovem de vinte e poucos anos dizer que adora a Miúcha?’ Realmente, L.S. tem lá sua razão. No afã de divulgar a próxima atração musical da novela – a primeira foi a sambista Mart’nália – Gilberto Braga e Ricardo Linhares deram uma forçadinha de mão.
Cantora rigorosa, de voz delicada e repertório impecável, Miúcha está a anos-luz do gosto jovem médio. Exceto um ou outro sucesso de trilha de novela, seu nome aparece sempre associado aos de Tom Jobim (com quem gravou dois ótimos discos nos anos 70), Chico Buarque (de quem é irmã) e João Gilberto (com quem foi casada). Mais recentemente, Miúcha tornou-se ‘a mãe da Bebel’, já que a estrela da bossa eletrônica é filha dela e João Gilberto. Não é difícil imaginar uma mocinha jeitosa cantarolando uma ou outra música de Miúcha – mas daí a acreditar que ela ‘adore’ a cantora…
Não há problema algum na frase ‘Eu adoro a Miúcha’, mas ela soaria muito melhor na voz docemente grave de Renée de Vielmond e surtiria um efeito positivo, já que o público gosta da elegante Ana Luísa. Ninguém estranharia ouvi-la anunciar a preferência por uma cantora mais refinada que as ‘Ivetes e Anas Carolinas’ das paradas de sucesso. Mas Ana Luísa anda ocupada demais beijocando o namorado ou candidatando-se ao enjoado título de ‘A Mais Simpática Ex-Mulher do Ano’.
Pelo andar da carruagem, o Hotel Duvivier vai se tornar uma versão glamourosa do Bar da Dona Jura, aquele das novelas de Glória Perez. Sai o lara-lará dos pagodeiros, entra o dim-dom-dim dos bossa-novistas. É um bom truque para esticar capítulo e divulgar a trilha sonora da novela. Mas convém ser mais criativo nas cenas que antecedem o show. Numa obra de diálogos primorosos, como tem sido Paraíso, qualquer cena boba destoa como um carro alegórico num beco sem saída.
Ainda um último tópico da conversa com o amigo L.S.: criticada no começo da novela, Alessandra Negrini está arrasando como a Taís que finge ser Paula. No olhar da vilã, o medo constante de pisar em falso faz a audiência praticamente torcer pela menina má.’
Etienne Jacintho
Elas estão descontroladas
‘Quando Marc Cherry apresentou suas Desperate Housewives, ele deixou claro: é um conservador, apesar de ser gay. Entendeu? Em uma conversa no set da série, em Los Angeles, Cherry fez questão de evitar comparações com Sex and the City e explicou que, por mais que suas donas de casa fossem ardilosas, as armações delas não ficariam impunes. E, quem assistiu ao último episódio desta temporada, sabe do que ele falava.
Quando Desperate estreou, as moradoras de Wisteria Lane pareciam pessoas normais, com quem qualquer dona de casa poderia se identificar. À medida em que a série avançou, ficou difícil espelhar-se nas protagonistas. Fora a vizinhança cheia de mortes bizarras e loucos à solta – Orson é o melhor deles. Aliás, Orson e Bree formam o casal perfeito para divertir o telespectador.
No capítulo final, lá estão os dois de volta. Claro que Bree não poderia faltar ao casamento de Gaby. E os roteiristas foram espertos ao incorporar a gravidez de Marcia Cross – que já deu luz à gêmeas – no enredo e com brilhantismo, mostrando mais uma loucura da mais descontrolada dona de casa. Quando ela tira a barriga falsa, que felicidade! Vê-la roubando a cena de novo vale o episódio.
Quem quiser conferir o ápice de Marcia Cross em Desperate, não pode perder o capítulo que a Sony reprisa esta quarta, às 22 horas: o primeiro desta temporada – e o mais incrível de todos. Bree é surreal e dá show em todas as suas cenas. Quem além de Bree se excitaria ao ver o noivo limpar com perfeição as manchas de uma taça de vinho? Neurótica e louca. Não há melhor mistura.’
Roberto Godoy
Perdidos no tempo
‘O episódio de Law & Order: SVU, reapresentado pelo canal Universal a meia-noite de quarta-feira, é antigo e campeão de repetecos. A atriz que interpreta a vítima, uma adolescente levada à prostituição, na vida real já deve ser uma gostosa vovó. As séries estão atravessando a safrinha, com poucas estréias e o fim de temporadas, mas, de novo, vale a pergunta: custa alguma coisa afagar a freguesia e informar de quando é o filmete em exibição? Segundo pesquisa do Ibope, o que mais incomoda ao menos 34% dos assinantes é a repetição excessiva de filmes e a insuportável carga de comerciais dos canais pagos – e muito bem pagos, que não se esqueçam disso. Duas boas notícias: 1) o GNT anuncia a volta do Late Show, de David Letterman, para pouco depois da meia-noite a partir de agosto; 2) primorosa a tradução do filme Cavaleiros do Céu, um Top Gun francês, exibido pelo Telecine. Até os palavrões foram bem tratados.’
Renata Gallo
‘Não sou de outro planeta’
‘Se você pudesse aparecer de surpresa na casa de Lobão, por volta das 19 horas, iria encontrá-lo no sofá, com seus três gatos assistindo à novela: Maria Bonita debaixo do braço, Lampião em cima da cabeça e Dalila entre as pernas. ‘Fico lá ronronando. É delicioso’. Lobão foge da média, fala o que pensa, faz críticas como quem declama poesia – e se acha um incompreendido. Já até fez análise para entender por que a imagem que as pessoas têm dele não é a que ele vê no espelho.
Sua fama de encrenqueiro é injusta?
Sou encrenqueiro, mas tenho um estilo de fazer meu discurso, um humor, que nunca é refletido nas entrevistas. Acredito que toda crítica, se você não tiver humor, fica ‘botocudo’. Quando leio entrevista minha, se eu não me conhecesse, teria um desprezo profundo por minha figura. Nunca tive intenção de polemizar. Já fiz análise, discuti minha auto-imagem (risos). Pô, você se acha uma coisa e 100% das pessoas falam de você de uma maneira completamente diferente?
Então você é um bom moço?
(Risos) Não estou falando isso. Falo coisas que geram controvérsia. Mas tem frases que são monumentos à idiotice e, muitas vezes, colocam na minha boca. Tudo isso cria um estereótipo que fica muito longe do que sou e do que proponho. Não sou um Pedro de Lara, falo coisas pertinentes.
Você já se arrependeu de algumas opiniões?
Sempre. Pô, quando dou uma entrevista fico esperando uma tempestade no dia seguinte. Não só por ser afoito ou muito escancarado, mas porque não sei se a pessoa vai tirar algum partido disso.
Você parece ter opinião formada sobre tudo…
Não sou dono da verdade. Acredito que estamos num país, numa conjuntura, pô, críticas não faltam! Mas as pessoas querem impor um ritmo de gestão do cotidiano em que você seja o quê? Uma vaca de presépio? Um palhaço inofensivo? Não. Sou honesto com o que faço. Falo para minha mulher: nunca vou deixar de agir como sempre agi porque o erro não está em mim. Prefiro acreditar que um dia serei compreendido.
Você é um incompreendido?
Completamente. Não acho que seja compreendido se a síntese da minha personalidade ‘gravitaciona’ pela palavra ‘polêmico’. Não sou de outro planeta e não sou tão complexo.
Você assiste à TV?
Pra c… Adoro novela das 7, não importa qual seja. O que me interessa não é a novela, é o clima. É tudo muito descompromissado. Às vezes não está dando certo e mudam tudo (risos)! Fico lá com meus gatos vendo. Estou tentando ver a das 8, mas acho a das 8 sempre maniqueísta demais, muito séria e, pô, é muito bossa nova. Tenho uma raiva disso.
Prestes a completar 50 anos você é uma nova pessoa?
Sou. Chegaram a uma descoberta que de seis em seis anos você troca todas as células do corpo (risos). Às vezes fico pensando que, se eu visse minha pessoa há 20 anos, iria cuspir na cara dela e ela idem. Tento me melhorar muito, por isso não me sinto dono de nenhuma verdade e por isso sou muito traidor das minhas causas. Aprendi uma série de coisas, fiz análise, tomo remédios. Tinha convulsões epiléticas até 93. Quimicamente estou muito mais equilibrado.’
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