Na quinta-feira (24/3), no auditório da Assembleia Legislativa de Goiás, seria realizada a segunda e última audiência pública para discussão do modelo que a TBC News seguirá. [N. da R.: Trata-se da transformação da emissora estatal TV Brasil Central em um canal de TV all news.] Equivale a dizer que essa audiência pública contribuiria para o formato gerencial que definirá o conteúdo da programação da TBC News e o modo como essa programação será construída.
Diante da minha experiência como consultor de comunicação de organismos internacionais de cooperação, gostaria de apoiar o governo Marconi Perillo a promover um modelo democrático de gestão dos meios de comunicação públicos. É um modelo que tem respaldo da Unesco e pode ser desenvolvido pelo governo em total parceria com a sociedade, buscando a participação da população e a inclusão social, em todas as instâncias.
A Organização das Nações Unidas embasa este modelo democrático como o melhor – não só para o povo goiano. Seria também um modelo pioneiro no Brasil, capaz de projetar a gestão democrática dos meios de comunicação públicos no estado de Goiás como um exemplo nacional e internacional a ser seguido. Ou seja, seria muito vantajoso que o governador Marconi Perillo percebesse que o modelo democrático também lhe vai trazer uma projeção incontestável.
Sem legitimidade ou credibilidade
Acontece que os ventos têm soprado em direção oposta à democratização da gestão dos meios de comunicação públicos. Prova disso é a ausência dos cidadãos na primeira audiência pública, realizada na Agecom, no dia 17 de março. Nenhum parlamentar goiano compareceu, nem estadual, nem federal. Membros do Ministério Público do estado de Goiás também tomaram a mesma dose de chá de sumiço. A OAB-GO e outros representantes da sociedade civil organizada não deram as caras, exceto o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Goiás, que foi e cobrou mais transparência.
Preocupante também é que boa parte de um debate sobre a comparação entre dois modelos bem distintos de gestão de meios públicos de comunicação tenha sido transferido para o ambiente virtual da internet, através do uso de Twitter e Facebook. Não tenho nada contra esses dois instrumentos de comunicação, que fazem parte de uma coleção de programas semelhantes comumente chamados de ‘redes sociais’. Só considero que não são mecanismos propícios ao debate para questões que vão influenciar a vida de todo o povo goiano.
Primeiramente, esses programas não foram criados para debate de ideias, mas sim, troca de informações. Em segundo lugar, são ambientes em que tudo e todos que deles participam também são caráteres virtuais. Não há transparência nem sobre a veracidade da existência das pessoas, que são identificadas por apelidos nessas redes. E, finalmente, os perfis criados para a discussão da TBC News receberam inscrições de pouquíssimos interessados em debater o assunto. Não porque o assunto seja desinteressante, mas porque o espaço criado para o debate não tem legitimidade e muito menos credibilidade.
Tédio ou frustração
Outra história dá conta que o governo do estado está abrindo mão de contrato de transmissão da TV Cultura para um modelo de notícias 24 horas. Somente nessa atitude governamental, o povo goiano já sai perdendo muito, em termos de conteúdo de programação. A TV Cultura é certamente uma televisão pública cuja programação atende às necessidades de informar, entreter e educar. São programas de alto nível de qualidade, com genuíno alcance social, que deixarão de ser exibidos para todo o estado de Goiás.
Por outro lado, fala-se que a TBC News representa o ‘jornalismo puro’ e a ‘massificação do acesso à informação’. Duvido muito sobre essas duas únicas justificativas apresentadas até agora na defesa da criação de um canal de notícias 24 horas. E o que o povo goiano vai ganhar com isso além de uma bela conta para pagar? A que nossas crianças vão assistir na TBC News além de apadrinhados políticos fazendo proselitismo ou bajulando o governo estadual? O que as comunidades do interior do estado vão ter de voz em um projeto de comunicação que não é orientado ao interesse social?
O governo do estado tem hoje mais de 1,5 mil homens e mulheres de comunicação trabalhando às expensas da população. Boa parte dessa tropa exerce ainda atividades como repórteres, editores, chefes de reportagem, colunistas, âncoras e articulistas em meios de comunicação privados. Há uma questão de ética e sobrevivência profissionais embutida nessa situação, sem dúvida. E com a TBC News essa situação só vai piorar: a ética vai acabar morrendo de overdose de notícias e a esmagadora parte do povo goiano, de tédio ou frustração.
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Jornalista e ex-consultor de comunicação do PNUD, Unesco e Banco Mundial