Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O jornal e o júri

Recentemente, um juiz de Nova York teve de acabar com um dos maiores julgamentos de corrupção empresarial da história dos EUA, envolvendo ex-executivos da companhia Tyco, porque jornais publicaram a identidade de uma das juradas, Ruth Jordan, uma ex-professora de 79 anos, que teria feito um sinal de ‘OK’ para os acusados quando entrava no tribunal. Ela recebeu uma carta ameaçadora e estava se sentindo pressionada.

Em sua coluna de 11/4/04, o editor público do New York Times, Daniel Okrent, observa que o diário não esteve entre os que primeiro identificaram a jurada. Houve discussão na redação, pois alguns repórteres acreditavam que a atitude de Ruth seria o suficiente para que seu nome fosse publicado. No entanto, a decisão final do editor de negócios Lawrence Ingrassia foi que, enquanto o julgamento não fosse encerrado, ela não seria identificada.

Contudo, no dia 29/3, quando seu nome já se tornara público, o diário publicou uma matéria em que o zelador do edifício em que Ruth mora a acusava de não dar caixinha de Natal aos funcionários do prédio, entre outras informações negativas que nada tinham a ver com o julgamento de corrupção na Tyco. ‘Vejo milhões de nova-iorquinos descendo aos saguões para dar mais gorjetas aos funcionários de seus prédios, para que, no futuro, caso sejam jurados, o Times não possa falar mal de seu caráter’, ironizou um leitor.

Okrent escreve que o hábito de reportar sobre quem compõe um juri, ao contrário do que se possa imaginar, é algo recente na imprensa americana. Só se tornou algo comum nos anos 80. O ombudsman defende que um jurado só deve ser identificado se concordar pessoalmente com isso, porque, ao contrário de um político, ele não entrou na vida pública por opção. O público não ganha nada em saber o nome de jurados, mas a justiça tem muito a perder. Possivelmente, após um caso como o de Ruth, algumas pessoas podem tentar evitar participar de julgamentos ou, talvez, não votem com sinceridade, por medo de serem execrados posteriormente.