‘Através da história, tem sido a inatividade daqueles que poderiam ter agido; a indiferença daqueles que deveriam saber melhor; o silêncio da voz da justiça quando ela mais importava; que tem tornado possível ao mal triunfar’ (Haile Selassie)
Assistindo ao programa jornalístico da TV Ric Record durante o meio-dia, que é apresentado por Graciliano Rodrigues, temos uma certeza: não há nada de errado acontecendo em Itajaí. Nada mesmo! Só vemos notícias, vez ou outra, quando há algum acidente, algum assalto, ou coisa do gênero. A Ric Record parece ter-se mudado de Itajaí. Provavelmente não estão mais no Morro da Cruz, onde fica (ficava?) sua sede. Pois me parece impossível estar em Itajaí e não noticiar (veja, estou dizendo ‘noticiar’, o simples ato de informar, o básico do jornalismo) os 120 mil reais pagos sem licitação a uma empresa para dobrar as roupas doadas durante a enchente de novembro de 2008. Estar em Itajaí e não noticiar estas roupas, depois de dobradas etc., terem sido enterradas na surdina, e, investiga-se, enterradas em local inapropriado pela prefeitura de Itajaí. Não, isto não é notícia para a Rede Ric Record.
O mesmo Graciliano Rodrigues, famoso mais pelas suas propagandas (dentro do programa) do que por qualquer outra coisa, simplesmente esqueceu – não, vou mudar para esqueceram, pois não é justo culpar ‘apenas’ o ‘apresentador’, ou é? – de noticiar que uma empresa criada em janeiro, ainda no mesmo mês, ganhou uma polpuda soma, sem licitação, para limpar unidades de educação (coisa que já fora feita antes pelos próprios funcionários da educação). Provavelmente (pois não assisti nesse dia), nem falaram nada do primeiro pedido de CPI, que foi negado pela situação. E, para completar o estrago, não falaram nada novamente sobre os 400 mil reais recebidos pela tal empresa que é de um marido de uma diretora da Educação. Para a Rede Ric Record de Itajaí (é de Itajaí ainda?), nada disso tem a menor importância.
Volta para o jornalismo
Como eu disse no começo, bastava noticiar os fatos. São fatos de importância jornalística, mesmo que a situação bata os pés dizendo que nada está errado, que tudo é imaculado na nova gestão. À imprensa, cabe divulgar – e nem é preciso opinar; à Justiça, comprovar os fatos, se verídicos ou não. O silêncio, nestes casos, só serve para demonstrar que a emissora escolheu o seu lado na história, o que contrasta com a Record nacional, que tem feito um excelente trabalho jornalístico nos últimos tempos (tudo bem, excelente talvez seja um exagero) e isso coloca uma pergunta na minha cabeça: será que a matriz sabe o que sua filial está fazendo? Sabe como são próximas (demais) a parte comercial da parte jornalística desta emissora? Ou será que estou conjeturando demais?
Creio que o leitor/telespectador pode pensar por si só nestas questões. Porém, seria interessante saber a opinião da matriz sobre estes assuntos. Enquanto isso, nós, aqui, vamos aguardando que a emissora volte para Itajaí. Volte para as questões importantes, ou para as básicas, como o jornalismo, nem que ele seja parcial (porém, assumido). Mas que seja jornalismo, antes de tudo.
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Escritor, Itajaí, SC