‘Após dois anos de mudanças prometidas e postergadas, e algumas semanas de estréias adiadas, foi ao ar finalmente a nova programação de jornalismo da TV Cultura. Ufa!
Agora sob o comando do experiente Albino Castro, que aos poucos monta a sua equipe, o jornalismo da Cultura parece ter vencido a primeira batalha – contra o marasmo. Pelas informações que tenho, a palavra trabalho passa a fazer parte do vocabulário e da rotina diária dos profissionais da casa, o que já é, em si, um avanço. Albino, como todo o mercado sabe, é do ramo e do trampo.
Nunca fiz comentários sobre estréias, pois sei que o nervosismo do primeiro dia às vezes prejudica as melhores intenções. E o que mostraram no segundo dia (terça-feira, 6 de junho) os novos telejornais da noite, às19 e às 22 horas? Algumas boas novidades, algumas promessas não cumpridas e também alguns equívocos.
O Jornal da Cultura, das19 horas, foi criado para abordar os principais assuntos do dia. E teve a sorte de contar, na terça-feira, com um fato importante e grave, ocorrido no início da tarde – em tempo, portanto, de ser bem aproveitado: a depredação da Câmara dos Deputados por um bando de facínoras travestidos de membros de movimento social. Esse episódio demonstra que a Cultura não pode continuar a descoberto em Brasília. As imagens do quebra-quebra eram impressionantes, o repórter Rinaldo de Oliveira fez o que pôde, mas o conjunto do material não foi suficiente. Por sorte, no mesmo dia foi divulgada mais uma pesquisa Ibope de intenção de votos para presidente, o que permitiu à Cultura mostrar um novo grafismo, mais moderno, atraente e funcional. Pena que os mesmos recursos de computação gráfica não tenham ainda melhorado a apresentação da previsão do tempo, que continua pobre.
O novo visual do Jornal da Cultura é bem melhor que o anterior, mas não inova. Apenas coloca a Cultura próxima do padrão exibido pelas demais emissoras. Na bancada, uma nova dupla de apresentadores formada por Márcia Dutra e Celso Zucatelli não compromete, mas precisa melhorar. Principalmente Márcia, que necessita urgentemente das atenções da fonoaudiologia para aprender a abrir a boca quando falar. A propósito, por que tiraram do ar a apresentadora anterior, Valéria Grilo, uma das melhores vozes do Brasil? Márcia é boa repórter, mas no quesito apresentação de notícias não traz nenhuma vantagem sobre a sua antecessora.
Detalhes como esse podem ser corrigidos, e se espera que o sejam. O que não pode se repetir é o erro de incluir em um jornal, que pretende ser quente, matéria como aquela que foi ao ar, sobre a escrita e os pincéis chineses, totalmente oposta a uma receita que promete hard news.
Já o Cultura Noite, às 22 horas, no mesmo cenário, tem um grande trunfo: a experiência e a credibilidade da apresentadora Salete Lemos. Ela é segura, domina com naturalidade o seu papel na bancada e, além de tudo, é boa jornalista. Mas, o Cultura Noite ficou devendo. Anunciado como um telejornal mais ‘reflexivo’, perdeu dia 6 uma grande oportunidade de dizer a que veio. No dia em que aqueles vândalos praticaram uma gravíssima afronta ao estado democrático de direito, pelo menos metade do jornal deveria ocupar-se desse assunto. No entanto, a ‘reflexão’ ficou limitada à participação do comentarista Alexandre Machado, chamado à bancada para analisar também a pesquisa Ibope.
Hora e meia depois, no Jornal da Globo, o apresentador William Waack abriu o jornal com um editorial severo, indignado, seguido do noticiário e do comentário ainda mais veemente de Arnaldo Jabor. A Cultura poderia ter feito algo parecido, até levando algum convidado para o estúdio, mas aparentemente não avaliou bem o episódio – o que é grave. O público da Cultura espera que as novidades do jornalismo não se limitem ao novo visual, mas que tragam conteúdos de melhor qualidade.
O novo telejornal do meio-dia, que também estreou esta semana, fica para um próximo comentário.’