A empresa Norte Energia, por meio de seu superintendente de assuntos institucionais, dirigiu-se à GloboNews para manifestar estranheza e inconformidade com a parcialidade de três reportagens sobre a usina hidrelétrica Belo Monte veiculadas no Jornal das Dez nas edições dos dias 18, 19 e 20 de maio. A íntegra do texto é a que se segue.
***
Desde a chamada da série de reportagens sobre a hidrelétrica Belo Monte e a cidade de Altamira, ficaram muito claros a absoluta parcialidade e o desequilíbrio editorial adotados sobre todos os projetos e ações que estão sendo desenvolvidos na região do empreendimento. Em todas as falas, entrevistados contrários ao projeto tiveram tempos generosos, sem que fosse assegurado aos porta-vozes da Norte Energia o mesmo espaço para falar dos temas em questão.
É lamentável, principalmente porque a equipe da GloboNews foi prontamente atendida pela Norte Energia quando manifestou interesse em visitar as obras da usina e dos projetos condicionantes estabelecidos no Plano Básico Ambiental (PBA).
Pessoas que se manifestaram desde o início contra a UHE Belo Monte, mesmo que não apontassem razões razoáveis para suas posições contrárias ao projeto, tiveram longas e repetitivas falas nas reportagens, mas investimentos, por exemplo, de mais de R$ 1 bilhão em projetos sócio ambientais apenas em Altamira, seis vezes o orçamento anual da cidade, foram solenemente ignorados. Imagens e textos foram contextualizados de forma a sugerir, por exemplo, responsabilidades da Norte Energia pelo lixo acumulado ao longo de décadas de ocupação irregular em áreas de risco, nos igarapés. Igarapés estes, ocupados há décadas por palafitas na quase totalidade das suas áreas.
Mais grave ainda foi a edição do dia 20, uma vez a que a empresa foi procurada para que fosse ouvida “sobre possíveis observações que a Norte Energia queira fazer depois da exibição das duas reportagens exibidas na GloboNews”. Foram mais de quatro minutos de gravação com o presidente da empresa sobre as ações e obras na região da UHE Belo Monte, mas foi ao ar apenas uma fala desconectada dos temas abordados na reportagem, especialmente aqueles que foram divulgados com base em pronunciamentos de pessoas notoriamente contrárias ao projeto.
Casos de malária foram reduzidos em 94%
Até mesmo edições semelhantes a pegadinhas, típicas de programas humorísticos, foram largamente utilizadas, sobrepondo-se imagens com falas descontextualizadas de porta-vozes da Norte Energia. Em um momento, divulga-se, por exemplo, declaração seca de diretor da Norte Energia falando sobre “impacto zero”, sem esclarecer que o impacto zero a que se refere é que nenhum centímetro de terra indígena será alagada em decorrência da UHE Belo Monte. A reportagem esquece de informar, por exemplo, que foi construído um canal de derivação, a custo de U$ 1 bilhão, para que as terras indígenas fossem totalmente preservadas.
A parcialidade e os desequilíbrios ficam mais nítidos na reportagem exibida no dia 19. Com duração de 12 minutos e 44 segundos, o tempo dispensado à Norte Energia, somando falas descontextualizadas e citações em off, mais trechos de uma nota enviada pela empresa naquele dia, chegou a 2 minutos e dez segundos, enquanto diversos entrevistados têm mais de dez minutos para apontar a Norte Energia como responsável por problemas históricos de Altamira e região, como palafitas, acúmulo de lixo, falta de esgoto, déficit habitacional, falta de água tratada, extração ilegal de madeira e outros.
As reportagens se desenvolvem em tom sensacionalista gratuito contra o empreendimento, na maior parte com imagens que não mostram as realizações e o cumprimento de responsabilidades por parte da Norte Energia, que está investindo R$ 3,7 bilhões em projetos socioambientais de cinco municípios da área de influência direta da UHE e em outros seis municípios de influência indireta.
Somente Altamira recebeu sete Unidades Básicas de Saúde e um hospital totalmente equipado com salas cirúrgicas e demais equipamentos e 104 leitos, sendo 10 de UTI.
Em toda a região de influência da UHE Belo Monte, foram ou estão sendo construídos quatro novos hospitais, outros três foram reformados ou passaram a ter novos e modernos equipamentos, 30 unidades básicas de saúde foram construídas, além de prédio para abrigar a futura Escola de Medicina em Altamira. Por investimentos da Norte Energia, os casos de malária foram reduzidos em 94%. Impressiona que nada disso chamou a atenção da equipe da GloboNews enviada a região.
Extração ilegal de madeira
Também não despertaram interesse da equipe da GloboNews as 270 salas de aulas construídas ou reformadas, R$ 485 milhões investidos em projetos de saneamento básico para tratamento de água e esgoto e cerca de R$ 100 milhões já investidos na área de segurança pública em benefício da região de influência da UHE Belo Monte.
A reportagem da GloboNews ignorou praticamente todas as condicionantes cumpridas ou que estão em execução. E procurou atribuir ao empreendedor todos os problemas seculares de Altamira, cidade que foi fortemente impactada pela construção da Rodovia Transamazônica e que até a chegada da Norte Energia não dispunha de um milímetro sequer de tratamento de esgoto. São 103 anos de esgoto a céu aberto correndo para o Rio Xingu.
A Tecnologia implementada pela Norte Energia para tratamento de esgoto de Altamira é a mesma utilizada em Paris, uma das mais modernas e eficientes disponíveis em todo mundo. A Norte Energia também instalou em Altamira a maior Rede de Reservatório de Água Potável (RAPs) de todo o estado do Pará. São oito RAPs, construídos a partir de aço vitrificado, em substituição ao concreto, que reduz os custos de manutenção. Estas tecnologias, que põem Altamira na relação das cidades brasileiras com os mais modernos sistemas de tratamento de água e de esgoto não despertaram a atenção da equipe da GloboNews.
Não satisfeita, a equipe da GloboNews, na última das três reportagens, atribuiu responsabilidades à Norte Energia pela extração ilegal de madeira.
Transformações sociais jamais vistas
Sobre este tema, seguem informações, que, esperamos, sejam uteis à GloboNews quando abordar novamente a questão da extração de madeira na região. Esta prática, lamentavelmente, ocorre desde a década de 70, conforme registros públicos elaborados naquele período.
As mesmas fontes usadas pela GloboNews para atribuir o problema à construção de Belo Monte comprovam em documentos anteriores à implantação do empreendimento que crimes ambientais e intrusão nas áreas são conhecidos de autoridades e ambientalistas há pelo menos 30 anos.
O Instituto Socioambiental, por exemplo, constatava em 2009, dois anos antes do início da construção de UHE que “quase um quarto da área de Cachoeira Seca estaria ocupada por invasores”. O texto pode ser facilmente encontrado em uma pesquisa simples na rede mundial de computadores e consta no “Atlas de Pressões e Ameaças às Terras Indígenas na Amazônia Brasileira”, publicado em 2009 pela ONG. Portanto, um ano antes do contrato de concessão de Belo Monte.
Da mesma forma, antes do início da construção da usina, em março de 2011, a Fundação Nacional do Índio, chamava atenção para o problema iniciado “na década de 1970 com a abertura da BR 230”. O Plano Emergencial de Proteção às Terras Indígenas do Médio Xingu, elaborado pelo órgão, é claro sobre os problemas vividos pelo povo arara: “A atividade madeireira é praticada na terra Indígena Arara desde a década de 1980, embora de maneira não tão devastadora quanto à observada nas Terras Indígenas Apyterewa e Cachoeira Seca”.
A Norte Energia SA lamenta o tratamento irresponsável adotado pela GloboNews nas questões envolvendo a construção de Belo Monte, um empreendimento sustentável e inovador que irá gerar, além de energia, transformações sociais jamais vistas na área de influência da UHE Belo Monte.
***
Aguinaldo Nogueira Lima é superintendente de assuntos institucionais da Norte Energia SA