A matéria que o Jornal Nacional levou ao ar na quinta-feira (15/6) sobre fazendeiros do Pará que estão formando milícias para defender suas terras de contrabandistas de madeiras nobres foi pequena em relação ao tamanho do problema. Ignorou a declaração do fazendeiro sobre a absoluta falta de providências quanto às inúmeras queixas às autoridades policiais locais. Ignorou ainda a declaração de que o tráfico de madeira é um braço do crime organizado.
Limitou-se a comentar a origem das armas que guarnecem as milícias, buscando para isso personagens que pareciam ter saído da campanha estatal do plebiscito do desarmamento. Mais esclarecedor teria sido o delegado que recebeu as denúncias, explicando por que nada foi feito para resguardar o patrimônio, a lei e a ordem. Ou ainda uma autoridade do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), ligado à Presidência da República, que consome orçamento considerável, para explicar como é feita essa proteção, que não protege nem a propriedade particular, nem as reservas de madeiras em extinção, nem os territórios de agricultores ou reservas indígenas.
Atrás das toras
Aí, quando acontece uma reação, seja de índios defendendo limites territoriais de sua reserva ou fazendeiros e agricultores que agem apenas em defesa de suas propriedades, alguém dá espaço na TV a um burocrata declarando que as armas em poder dos fazendeiros deveriam ser utilizadas exclusivamente para a caça. Longe de estar aqui defendendo que fazendeiros ou índios se armem para defender a Amazônia, pergunta-se por que a TV Globo não perguntou.
O que há de escondido por trás das toras de madeira que saem do Brasil sem que quaisquer olhos as vejam? Das matas devastadas nascem clareiras para pouso de aeronaves que também ninguém vê. Visíveis nessa operação são as empresas madeireiras. A partir delas se lava dinheiro de origem duvidosa, e que, com o negócio ‘licito’ da madeira, ganham fachada oficial.
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Jornalista