Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Polêmica pela Paixão

Dezenas de leitores escreveram furiosos ao Washington Post por causa de artigo do crítico Tom Shales sobre o filme de televisão Judas, em que ele faz duras referências ao longa-metragem The Passion of Christ, de Mel Gibson, que tem causado polêmica por supostamente retomar uma idéia, até já abandonada oficialmente pela Igreja Católica, de que os judeus são culpados pela morte de Jesus Cristo. Essa crença é muito controvertida porque serve de argumento para ideologias anti-semitas. É tida, inclusive, como um dos fatores motivadores do Holocausto.

Para dar apoio às críticas que Shales faz ao filme de Gibson, ele cria diálogos fictícios entre os personagens de Judas. Em certo ponto, cita fala da mulher de Pôncio Pilatos em que ela sugere ao marido que a morte de Jesus seja tramada de forma que os judeus sejam tidos como responsáveis. Na continuação, inventada pelo colunista do Post, Pilatos tosse e pergunta: ‘Quem acreditaria nisso?’. ‘Sempre se encontram alguns intolerantes e idiotas que acreditam em qualquer coisa’, responde ela. Em seguida Shales comenta: ‘A Grande Mentira nasceu e, dois milênios mais tarde, Gibson encontraria uma maneira de reciclá-la e faturar mais de US$ 200 milhões com ela. Certamente sua vaga no estacionamento do inferno já foi reservada’.

Como observa o ombudsman do Post, Michael Getler, em sua coluna de 14/3, vários leitores acharam o texto ignorante, inflamado e ofensivo. Um deles escreveu: ‘Ele efetivamente rotulou todos os cristãos de ‘intolerantes e idiotas’ por acreditarem no que está escrito na Bíblia’. Getler conversou com o editor da seção em que saiu o texto de Shales, Eugene Robinson, e ele discordou das reclamações. Para ele, está claro que os ‘intolerantes e idiotas’ são aqueles que crêem que os judeus devam ser eternamente considerados os assassinos de Cristo, usando isso como justificativa para discriminação religiosa. Segundo Robinson, The Passion tem uma ‘voz alta e apaixonada’, e o crítico respondeu no mesmo tom, sem intenção de ofender aos cristãos.