Criticados por alguns e venerados por outros, os reality shows, no Brasil, continuam chamando a atenção do público. O Big Brother Brasil, da TV Globo, é um exemplo. Há dez anos no ar, a fórmula é praticamente a mesma: em uma casa, é confinado um número de pessoas anônimas em busca de um prêmio milionário, onde emoção e competição se misturam. Mas afinal por que os reality shows conquistam audiências?
É exatamente esta pergunta o título do livro da professora e pesquisadora Cosette Castro, da Universidade de Brasília (UnB). Nele, a autora analisa a chegada deste tipo de programação ao Brasil e enfoca também a sua performance em outros continentes. Segundo Cosette, o Big Brother Brasil, da TV Globo, foi o primeiro programa do mundo a ser apresentado simultaneamente na tevê aberta (ao vivo e editado), 24 horas por dia em canais por assinatura (ao vivo e sem cortes) e na internet. ‘Possibilitando a identificação de diferentes camadas da população, independente de idade, gênero, religião, educação, língua, cultura ou nível socioeconômico’, complementa a autora.
Para Cossete, doutora em Comunicação e Jornalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona, já não é possível afirmar, ‘como tentaram apressadamente alguns pesquisadores latino-americanos’ – que quem assiste a reality shows são pessoas com ‘problemas’ econômicos, culturais ou educativos, pois o que se constata, na prática, é que o gênero seduz as audiências de diferentes idades, culturas e níveis socioeconômicos em mais de trinta países.
Papel do ombudsman
Em seu livro, a pesquisadora enumera algumas pistas que ajudam a compreender a fórmula do sucesso do programa. São elas: os participantes convivem em uma casa, em um grupo, em torno de um núcleo que recorda a família, o que reforça a ideia de algo conhecido e seguro; em geral, são agrupadas pessoas desconhecidas, portanto, trata-se de gente comum e anônima igual à audiência; os reality shows abrem as portas do mundo dos sonhos e da imaginação às audiências; reúne gente jovem, o espírito da juventude; a forma de falar, vestir, dançar ou portar-se é familiar a diferentes grupos sociais; utilizam diferentes tecnologias da comunicação para facilitar a interatividade; os programas trazem à tona questões do dia a dia universais, como o amor, o ciúme, a amizade, a inveja, a solidariedade e a competição; e espaço onde os participantes representam a si mesmos, possibilitando aos outros olhá-los como ‘modelos’, embora o que apareça na tela seja uma representação de como atuam, sentem e socializam.
Na opinião da coordenadora científica da The International Clearinghouse on Children, Youth and Media, na Suécia, Cecilia von Feilitzen, o sucesso dos reality shows pode ser medido a partir da audiência jovem, muito forte em alguns países analisados.
Organizadora do livro Young people, soap operas and reality show, que reúne pesquisas de vários cantos do mundo sobre a relação dos jovens com as novelas, seriados e os reality shows, ela afirma que, por meio dos reality shows, os adolescentes podem analisar o comportamento de pessoas comuns, suas emoções, relações interpessoais, sexualidade, mecanismos de inclusão e exclusão, de aceitação social etc.
‘Eles acabam se identificando com algumas pessoas que participam dos programas, muito mais devido a algum tipo de semelhança do que por um desejo de ser como elas. Alguns ‘personagens’ são vistos como amigos e outros não. Eles gostam de uns e censuram outros. Verificam o que funciona e o que não funciona para ser recompensado, o que é importante na construção da identidade de um jovem espectador. O reality show faz parte das rodas de bate-papo dos jovens’, destaca Cecília.
Para Cossete, coibir ou apenas criticar a presença dos reality shows na TV não garante a qualidade da programação, seja ela apresentada na TV aberta ou por assinatura. No entanto, a pesquisadora defende, sim, a figura do ombudsman – com o papel de ouvir as queixas e/ou sugestões das audiências e de crítico da programação – obrigatória nos canais de tevê.
E, você, leitor, o que acha?
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Jornalista