Foi ao ar na noite na quinta-feira (16/2) a primeira edição do programa Ver TV, um espaço para discussão do papel da televisão na sociedade brasileira. Com a apresentação de Laurindo Leal Filho, jornalista e pesquisador da área de políticas de Comunicação da Universidade de SãoPaulo (USP), o programa levará semanalmente três especialistas da área para tratar de temas antes ausentes na tela pequena.
‘Sempre achei que a TV brasileira tinha uma grande lacuna: ela não se analisava. E como no Brasil as pessoas praticamente só se informam pela televisão, isso era uma lacuna muito séria. Ela critica todas as áreas, discute todos os assuntos, menos a própria televisão’, afirma Leal. O Ver TV vai ao todas as quintas-feiras, às 22h30, na TV Câmara, e é produzido em parceria com a TV Nacional, com apoio da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Segundo o apresentador, o presidente da Radiobrás, Eugênio Buicci, foi um dos principais responsáveis pela sua implementação. ‘A idéia é antiga. Quem sempre procurou viabilizá-la foi o Eugênio Bucci. Ele sempre tinha a idéia de viabilizar um programa que analisasse a televisão. Foram dois anos difíceis até que se conseguisse uma parceria com a TV Câmara e a Comissão de Direitos Humanos para se levantar os recursos necessários’, conta.
Em sua avaliação, o Ver TV deve dar mais visibilidade àqueles que são os dois eixos do programa: a democratização da comunicação e a ética na televisão. Temas como os critérios de distribuição das concessões, a concentração dos meios e a propriedade cruzada devem ser rotineiros nas discussões. ‘Também vamos discutir a qualidade da televisão, a questão da classificação por faixas estarias, a questão da propaganda para crianças, a TV digital.’
A necessidade de levar à população essas informações estimula os produtores a tentarem ampliar o acesso ao conteúdo produzido. ‘Temos um objetivo ambicioso: oferecer o programa às escolas. Os professores de primeiro e segundo graus têm mostrado preocupação em como discutir a TV em sala de aula’, destaca. A disponibilização se daria através da TV Câmara, que distribuiria cópias dos debates para exibição nas instituições de ensino.
Considerando que o novo espaço colocará luz sobre assuntos pouco conhecidos do grande público, Leal concorda que o programa deve ‘incomodar’ a mídia hegemônica. Entretanto, garante que eles também terão espaço para expor suas posições. ‘O objetivo é que também os incomodados se manifestem. O programa tem que garantir a maior pluralidade possível’, destaca.
Noite de estréia
A primeira edição do Ver TV contou com a participação do pesquisador Venício A. de Lima, do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília (UnB), da crítica de televisão e presidente da Associação Paulista de Críticos de Artes, Leila Reis, e de João Alegria, autor e diretor de programas do Canal Futura.
Suas participações foram precedidas de uma reportagem que contou a história da TV no Brasil. No início de cada um dos dois blocos seguintes, foram exibidos depoimentos de cidadãos na rua sobre o tema em debate.
Em suas falas, Leila lembrou que a TV ‘é a única janela para o mundo’ de boa parte dos brasileiros. No país, há mais residências com receptores do que com geladeiras. ‘Tamanho poder precisa ter algum controle’, alertou.
Venício Lima afirmou que a mídia desempenha funções sociais que deveriam estar a cargo de outros atores. ‘Ela aumentou sua participação e poder na socialização das crianças, em detrimento de instituições como a igreja, a família e a escola.’ Também criticou a concentração da propriedade das concessionárias nas mãos de elites regionais, proporcionando o chamado ‘coronelismo eletrônico’, e disse que ‘sem televisão não há política’, argumentando que uma das características do meio é ‘tornar as coisas públicas’.
Alegria focou suas contribuições na questão do conteúdo transmitido ao telespectador. Para ele, é preciso dar ênfase ao estudo da recepção e estar atento às diferenças entre fato e versão, tendo sempre presente que os telejornais nos dão acesso a versões, não fatos. ‘A TV precisa explicitar seus propósitos’, ressaltou, dando a oportunidade de o cidadão identificar elementos que influenciam na produção das notícias.
Na quinta-feira (23/2), o programa deverá o deputado federal Orlando Fantazzini (PSOL-SP), a psicóloga Rachel Moreno, presidente do conselho da Sociedade Brasileira de Pesquisadores de Mercado, e o publicitário Lula Vieira, integrante do Conselho de Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) para tratar da qualidade da programação.
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Da Redação FNDC