Em meio à mais grave crise de audiência do “Fantástico”, a Globo promete uma fase mais dinâmica, interativa e “próxima do público” para o programa, que pode ser conferida a partir de hoje [domingo, 27/4].
Aos 41 anos, a revista eletrônica aparecerá “de cara e de casa nova”, com um estúdio de 500 metros quadrados, onde também funcionarão a Redação, um telão interativo de 25 metros quadrados e um totem sensível ao toque onde os correspondentes nacionais e internacionais aparecerão.
As alterações, no entanto, serão apenas visuais. A Globo informa que o conteúdo continuará com o “mesmo equilíbrio” entre jornalismo, entretenimento e serviços.
“O que está mudando é o formato de apresentação. O Tadeu [Schmidt] e a Renata [Vasconcellos] vão conduzir o programa de qualquer espaço e tornar a apresentação mais natural”, diz o diretor Luiz Nascimento no texto divulgado pela emissora.
As mudanças são uma tentativa de resgatar o prestígio de outrora. Desde 1º de janeiro deste ano até o último domingo, o “Fantástico” atingiu média de 18,7 pontos no Ibope (cada ponto representa 65 mil domicílios).
Há dez anos, o cenário era bem diferente: o programa marcou média de 35,8 pontos em 2004 (queda de audiência de 48% em uma década). Apesar disso, a revista eletrônica que desde agosto de 1973 vai ar às 20h45 do domingo ainda mantém a liderança no horário. É seguida pelo “Domingo Espetacular”, da Record (média de 11 pontos no acumulado deste ano) e pelo “Programa Silvio Santos”, do SBT (9,4 pontos).
Mundo da convergência
Quando foi ao ar pela primeira vez, o programa se propunha a ser um mosaico de todos os departamentos da Globo. “Queríamos fazer uma síntese da emissora, com dramaturgia, entretenimento, circo, jornalismo, humor, balé, música”, disse à Folha o criador do “Fantástico” e então diretor de Operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Na produção, havia nomes como Ronaldo Bôscoli, Manoel Carlos e Daniel Filho.
Para Boni, essa ideia se perdeu nos anos 1990, quando a emissora optou por focar no jornalismo. “O programa seguiu outro rumo, tornou-se menos abrangente. Algumas coisas deveriam ser recuperadas, como os clipes que apoiavam a música de qualidade. Isso faz falta, o programa ficou muito pesado”, diz. “Não dá para dizer se é melhor ou pior, mas não é mais o programa que foi criado. Não é mais Fantástico’.”
Analistas afirmam que o “Show da Vida” não aprendeu ainda a tirar partido das chamadas novas tecnologias.
“O Fantástico’ poderia ter produtos específicos para o Facebook, o Twitter, para a vida além da TV. Não sei se a audiência iria melhorar, mas haveria uma renovação em termos de linguagem”, diz Igor Sacramento, professor da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Para esse professor, o programa de domingo se perdeu na sua própria fórmula de inovação. “Nos anos 1970, o Fantástico’ era muito esperado, tinha o clipe, a abertura. Com o passar do tempo, não conseguiu se oxigenar, virou um telejornal um pouco mais informal. A coisa mais diferente que fez nos últimos tempos foi usar reality shows como o quadro Medida Certa’”, diz Sacramento.
Com ele concorda Arlindo Machado, professor de semiótica da PUC e de Rádio e TV da USP. Falta à revista eletrônica global fazer mudanças radicais, “entender o mundo da convergência”. “Estão acontecendo coisas interessantes. O Porta dos Fundos, por exemplo. O ‘Fantástico’ tem que prestar atenção a isso”, diz Machado, referindo-se ao grupo de humor que faz vídeos na internet.
A reportagem tentou por várias vezes ouvir a equipe do “Fantástico” e chegou a ter entrevistas marcadas com diretores e apresentadores, desmarcadas depois por dificuldades de agenda, segundo a assessoria do canal. (Colaborou Beatriz Montesanti)
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Isabelle Moreira Lima, da Folha de S.Paulo