Às 19h15 de segunda-feira (15/8), a segunda maior rede de televisão do país voltou a ter um programa jornalístico – o SBT Brasil, apresentado por Ana Paula Padrão. A notícia auspiciosa é que voltou mostrando um noticioso de boa qualidade. Melhor ainda é que forçou seu principal concorrente, o Jornal da Band, que entra no ar cinco minutos depois, a melhorar bastante seu conteúdo (embora ali o novo cenário seja pior que o anterior).
Pela primeira vez em muito tempo, talvez pela primeira vez na história, as quatro grandes redes comerciais de televisão no país (SBT, Band, Globo e Record) ostentam telejornais de grande qualidade no seu horário nobre. Este é um fato a comemorar.
Descaso explícito
As oscilações jornalísticas do SBT fazem parte do anedotário da televisão brasileira. Do impagável Noticentro, nos anos 1980 (que chegava a reprisar o jornal diário no dia seguinte); da incrível Semana do Presidente (um relato oficial e ufanista dos atos do Executivo), passou sem escalas para o Jornal do SBT, com Boris Casoy, que introduziu a figura de um âncora responsável no telejornalismo brasileiro.
No início dos anos 1990, o SBT chegou a ter ao mesmo tempo um telejornal com Boris Casoy, outro com Lilian Witte Fibe, o Jô Soares 11 e Meia (na época bem mais jornalístico do que voltado para o entretenimento), o Documento Especial e, na faixa mais popular, o Aqui Agora, que no seu gênero fez história.
Acabou com tudo, e mais de uma vez Silvio Santos revelou, em entrevistas a jornais e revistas, com a franqueza que lhe é característica, o descaso explícito que tinha com o jornalismo. Colocou isso na prática, promovendo recentemente o que ficou conhecido como ‘Jornal das Pernas’. Jornalismo, no SBT, parecia carta fora do baralho.
O alcance do fôlego
Mas o que se viu nesta segunda-feira exprime bem o vetor ciclotímico do empresário. O SBT Brasil estreou com um sofisticado desenho formal envolvendo um conteúdo de grande qualidade. O cenário espetaculoso é, ainda assim, de bom gosto e valoriza a importância que se quer dar à apresentadora. As vinhetas, sobretudo as passagens feitas por meio de grandes monitores postados no alto do estúdio, são bastante engenhosas. E Ana Paula estreou segura, dialogando com firmeza e simpatia com os repórteres, passando convincentemente o recado de que estava lá para comandar um noticiário que se propõe abrangente e isento.
Foi boa a cobertura de Brasília, assim como a profusão de correspondentes internacionais – como Paula Schitt falando de Beirute sobre os acontecimentos de Gaza. A Band respondeu em grande estilo, tendo correspondente não em Beirute, mas na própria Faixa de Gaza. O acordo feito com a BBC Brasil – que inclui a transmissão por internet com qualidade quase aceitável – foi altamente benéfico para a emissora do Morumbi.
Mesmo em tempos de grandes conflitos internacionais, nunca a televisão brasileira pôde contar ao mesmo tempo com tantos correspondentes falando com áudio e vídeo de tantos lugares diferentes fora do país.
Na sua primeira edição, o SBT Brasil caminhou no sentido de ganhar rapidamente a credibilidade da qual a emissora inesperadamente tantas vezes abriu mão. É o mínimo que se poderia esperar de uma rede que há muito tempo detém a vice-liderança da audiência no país. Manter a isenção ao longo dos próximos meses é tarefa difícil, mas o fato é que durante vários anos essa prerrogativa foi concedida a Boris Casoy. Não se pode deixar de torcer para que haja continuidade no trabalho iniciado agora – o que, aliás, é um dever constitucional da emissora que o abriga.
A boa estréia do SBT Brasil não apenas forçou a Band a melhorar, não apenas ajudou a construir o cenário de quatro telejornais de boa qualidade em horário nobre, mas lembrou que uma rede do tamanho do SBT não pode fugir ao compromisso de ofertar informação de qualidade a cerca de 15% de todos os telespectadores brasileiros que acompanham a sua programação.
Os próximos dias é que vão determinar o seu fôlego. O SBT Brasil parece estar equipado para isso. Seu começo levanta a torcida para que desta vez a experiência não seja efêmera.