Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Que venham as câmeras e os urubus

A bomba da semana, sem dúvida, foi a volta de José Luiz Datena para a Record. Ok, pode ser a bomba e o bafo da semana, mas também não era nada que já não fosse esperado.

Nos últimos tempos, a trajetória do apresentador não era marcada exatamente pela estabilidade em seu local de trabalho. Não por suas andanças e negociações, que o levavam a escutar uma proposta ou outra, mas sim, pela frequência com que isso lhe era oferecido e claro que nas últimas semanas a frequência com que essas informações vinham a público já não deixavam mesmo grandes dúvidas. Sua saída da Band e sua volta para a emissora do bispo estavam a apenas um passo.

Que ninguém se engane: ele merece as propostas de trabalho que tem. José Luís Datena é o melhor no que faz e o retorno do seu trabalho provavelmente vale os investimentos feitos diante da promessa de um público cativo. Ignore sua má fama e seu modo ranzinza de ser no trato com seus colegas enquanto está no ar. Datena é um bom investimento, mas o que sua presença significa dentro da Record?

Significa um monte de coisas não necessariamente boas. Não falando contra o seu trabalho, mas significa uns bons passos para trás em relação a tudo que a emissora quis ser. Ignore que o apresentador tenha saído brigado da emissora– aliás, quase todo mundo que sai de lá, sai da mesma forma – e com uma bela multa contratual nas costas, mas essa não é a questão. O fato é que o Cidade Alerta, programa do qual Datena era o rosto e a voz, foi extinto por dois motivos: audiência abaixo da esperada e também por estar abaixo do padrão de qualidade desejado pela Record. Agora, com sua volta, o que podemos dizer?

O mundo cão é lucrativo

Há algum tempo a linha editorial da Record investe em crimes para fisgar sua audiência. Crimes no café da manhã, no almoço, lanche da tarde e jantar. São operações policiais e crimes banais contados em seus mínimos detalhes em programas de tanto apelo humano que fazem a definição comum de sensacionalismo se esvair. Isso passa longe de ser um padrão de qualidade comum. E agora, com Cidade Alerta voltando ao ar com o seu novo velho apresentador para tentar alavancar sua faixa nobre, para onde esse padrão foi? Que critérios de qualidade são esses?

Talvez esse seja mais um dos mistérios mais bem guardados da humanidade, tal como a origem da paciência e do sangue frio do telespectador para aguentar demagogia disfarçada de senso de justiça. Tudo isso vociferado por horas a fio e sem descanso maior do que os minutos dos intervalos comerciais.

O fato é que o mundo cão é bastante lucrativo, não somente para o lado dos bandidos. Os urubus e as câmeras sempre estarão à espreita em busca de sua parte da carniça.

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[Emanuelle Najjar é jornalista, São José do Barreiro, SP]