Ao assinante do sistema por assinatura Sky, uma informação. Você acabou de se livrar da possibilidade de ver entrar no line-up da operadora mais um canal inútil e que tornaria o preço da mensalidade um pouco mais salgadinho. Trata-se da vexatória derrocada da TVCOM de Porto Alegre, canal de TV em UHF pertencente ao grupo RBS. Foi noticiado recentemente que ‘a TVCOM reviu seu projeto estratégico e decidiu concentrar as suas transmissões nas áreas de cobertura da RBS no Rio Grande do Sul e Santa Catarina’. Não tenho condição de auferir se isto é 100% verdadeiro, mas comenta-se nos bastidores que houve uma questão envolvendo valores. Ou talvez um lapso de senso do ridículo.
Quando a novidade foi anunciada no começo do ano, a RBS TV exibiu reportagens empolgadas (e um tanto quanto deslumbradas) nos seus telejornais alardeando que o sinal da sua emissora UHF poderia ser captado em todo o país e que os gaúchos de todos os estados poderiam acompanhar as notícias da terra… Francamente, conhecendo bem a RBS como conheço isto não passou de bravata. Como a empresa está querendo se expandir para outros estados, a exposição da TVCOM em todo o país, somada à exposição já existente do Canal Rural, faria com que fosse fortalecida a marca RBS como ícone nacional do ramo de comunicações.
Talvez os executivos da Rede Brasil Sul tenham percebido que a TVCOM está longe de ser um produto tão interessante assim e acabaria por ‘queimar o filme’ da empresa, sobretudo a julgar pela qualidade mambembe de boa parte de suas produções. Cabe frisar que, para a cúpula da RBS, a TVCOM cumpre uma meta meramente institucional: a de produzir uma programação inteiramente local, não importando quão ruim seja o que vai ao ar. ‘Está sendo feito. Não importa se está ruim para o telespectador desde que esteja bom o suficiente para o departamento comercial’, já diria a previsível doutrina a gerentes e diretores da RBS.
Em linhas gerais, não existe valorização artística na programação. As supostas ‘atrações’ são todas realizadas pela equipe de jornalismo, e a linha de produção é feita a toque de caixa, com recursos mínimos, o que torna o produto final deplorável, se pararmos para analisar.
Ora é a batidíssima fórmula dos burocráticos debates em estúdio – que se apóiam unicamente na presença de convidados, sem reportagens, entradas ao vivo ou qualquer ousadia –, ora programas em que se pega uma câmera, grava-se uma reportagem interminável na rua, colocam-se alguns efeitos primários de edição, uma musiquinha e faz-se o telespectador acreditar que é um programa de TV autêntico. É de fazer qualquer aluno de faculdade de Rádio e TV se arrepiar. A iluminação do estúdio é ‘tosca’ e deixa sombras duras nos apresentadores e nos cenários do estúdio – que por sinal ostentam marcas de mão freqüentemente. Isto, claro, quando existem cenários, já que a parede do estúdio é usada como pano de fundo em vários programas. No geral, a emissora não faz uso dos recursos fantásticos que o meio televisão prevê, mesmo sendo muito bem equipada tecnicamente. Não se vê uma vinheta mais elaborada, um gráfico, um efeito legal. Tudo quadradinho e sem graça.
Do colégio para a TV
‘Sem graça’… Está aí um adjetivo que bem define boa parte da programação, como o pretensioso telejornal de fim de tarde, Manchetes do dia, onde se tenta imitar a Fox News e a Bloomberg Television, dividindo a tela entre o apresentador e um painel recheado de indicadores financeiros, previsão do tempo etc. O grande problema é que a arte do tal painel chega a ser infantil e visivelmente produzida para internet, e não para TV. Editorialmente, o Manchetes nada mais faz do que repetir o que a RBS TV já noticiou, somando os destaques dos jornais impressos da RBS para o dia seguinte. Peca também no apresentador, o estranho Oziris Marins, que, à primeira impressão, já deixa claro que não nasceu para ser apresentador de TV. Sua voz é fraca e suas feições são fora do comum para o vídeo.
Na RBS, o informativo é tratado como a oitava maravilha do mundo, segundo se sabe. É tido como a consagração do projeto de acúmulo oficial de funções instituído pela RBS, conhecido também como ‘projeto multimídia’. Aquele em que o funcionário tem de executar várias funções e para mídias diferentes. Consagradamente, é o legítimo paraíso sindical, levando-se em conta a altíssima taxa de irregularidades trabalhistas que o tal projeto vem executando em todos veículos do grupo.
Outro que me deixa intrigado como telespectador é Rafael Mônaco, apresentador do Jornal TVCOM. Pressupõe-se que um âncora de telejornal deva ostentar uma imagem que gere confiança e credibilidade. É o justo o oposto com Mônaco. Dono de um jeito tipicamente adolescente, parece ter 15, 16 anos e, desta forma, faz com que a credibilidade do que tenta noticiar seja enterrada abaixo de zero. Acho que de tarde ele vai pro colégio e de noite apresenta o jornal. No campo jornalístico, nada inova. No geral, as pautas de todos os jornalísticos da emissora apenas repetem o que a RBS TV já levou ao ar. Nada de ofuscar, claro. No esporte, temos o já famigerado TVCOM Esportes, que brinda diariamente os telespectadores durante uma hora com a fala gritada de Jader Rocha, bem como suas piadas sem graça. O outro apresentador, Maurício Saraiva, é quem salva a parada. É aquela velha fórmula de programa esportivo de TV: fazer como o rádio esportivo faz e ficar enchendo lingüiça enquanto for possível.
Bela lição
Acho que a melhor definição da TVCOM é ‘rádio com imagem’. Faz jus inteiramente a isso. O que a emissora deveria tentar fazer é traduzir a linguagem de seus programas para uma que seja inteiramente de televisão. O resultado teria mais valor e causaria um impacto superior tanto no público quanto nos anunciantes. A emissora é independente e tem plenas condições de fazê-lo.
Estive lendo esses dias entrevista dada a uma revista americana por Gwen Marder, que integra a equipe de diretores de arte do canal americano Fox News, que lá é líder de audiência entre os noticiosos – tendo desbancado a CNN em 2002. Quem assiste à Fox News percebe claramente a preocupação em tornar o produto atraente para o telespectador, lançando mão de recursos que exploram por completo o conceito de comunicação por televisão. A luz é impecável, as vinhetas ultramodernas e os links ao vivo persistentes. É uma combinação revigorante que apenas faz o conteúdo deles se destacar ainda mais. ‘TV é um meio basicamente visual e nós achamos que dar atenção a todos os aspectos da produção é importante. Iluminação, vinhetas, trilha musical, cenários e, claro, figurino. Isso tudo completa o impacto de sucesso da Fox News’, explica Marder.
Está aí uma bela lição para a TVCOM aprender. Por enquanto, a emissora nada mais é do que uma imitação barata do conceito de TV local que se vê no exterior.
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Gerente de comunicação, Novo Hamburgo, RS