A minissérie JK, que estreou na terça-feira (3/1) na Rede Globo, mostra a trajetória política e o lado humano de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976), mineiro pobre nascido em Diamantina que se elegeu presidente do Brasil em 1956, há 50 anos, e morreu há 30 num desastre de automóvel na Via Dutra.
Os quase 50 capítulos escritos por Maria Adelaide Amaral, Geraldo Carneiro e Alcides Nogueira vão retratar a vida de Juscelino, o Nonô. Minisséries históricas como esta, pelo seu grande poder didático conjugado ao alcance da TV, têm um papel meritório na divulgação de momentos relevantes da história do Brasil – embora não raro sua realização embuta o risco de suprimir, ou tratar ligeiramente, passagens históricas decisivas.
Para Alzira Abreu, pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, do Rio, a reconstituição histórica dos capítulos aos quais ela assistiu corresponde à realidade, tendo em vista que na primeira semana de exibição da minissérie ainda não é retratada a vida política de JK, que é a mais contestada historicamente. ‘Até agora, pelo o que pude acompanhar, os acontecimentos da vida dele estão de acordo com o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro do CPDOC’, afirma Alzira. ‘Pode ser que haja um certo romanceamento, mas os fatos – o casamento de sua irmã, como ele se forma em medicina, como seu cunhado o ajudou na profissão – correspondem aos depoimentos dele e de amigos.’
Historiadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e doutora em história social pela USP, Mônica Pimenta Velloso também acredita que os primeiros capítulos mostraram cenas interessantes que valorizam a reconstituição histórica, como a chegada dos modernistas a Belo Horizonte, referenciada pela convivência de Juscelino com Pedro Nava na faculdade de medicina. ‘A fala de Mário de Andrade, segundo a qual seria necessário ‘descobrir a verdadeira alma do Brasil’, repetida em off por Nonô, é seguida por sugestiva imagem do universo rural e interiorano de Minas Gerais’, diz Mônica. ‘A recitação de trechos do poema ‘Noturno de BH’ e a fala de Tarsila do Amaral valorizando a cultura caipira dão uma boa contextualização do momento, ampliando e enriquecendo a discussão sobre a brasilidade modernista.’
Mas a historiadora considera que nos dois primeiros capítulos da minissérie – que abordaram a infância e a juventude de Juscelino – começa a ser construída uma imagem que tende a uma certa ‘heroicização’ da figura de JK. ‘Principalmente quando ele enfrenta o poder do coronel ao defender bravamente as prostitutas e artistas expulsas do bordel que é incendiado’, lembra Mônica. ‘Acho que o mesmo ocorre na passagem do cometa Halley, quando o menino Nonô, diferentemente do resto da população – que interpreta o episódio como o fim do mundo – corre ao binóculo para observar o fenômeno científico’, diz. E arremata: ‘Essa construção do personagem, se desenvolvida nos próximos capítulos, pode redundar em uma imagem idealizada , em prejuízo da historicidade’.
No sítio da minissérie é possível acompanhar diariamente o que acontece nos capítulos. No link ‘A vida de JK’ há informações e fotos sobre sua infância e juventude, sua consagração como prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais, seu período na presidência da República (sob o mote ’50 anos em 5′), a cassação, o exílio e a morte.