Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

SBT, uma emissora sem rumo

Silvio Santos parece estar meio tonto, perdido. O homem que sempre soube dar os passos certos em seus empreendimentos, especialmente no SBT, não está conseguindo encontrar uma saída para a crise que vive a emissora. A pobreza em que se encontra a programação do SBT é espantosa. Se continuar nesse ritmo, a TV de Silvio Santos vai declinar ainda mais na audiência.

É certo que a história do SBT é marcada pela inconstância e falta de um padrão. Talvez a identidade da emissora seja justamente a sua falta de identidade, criando apenas uma identificação com o seu dono e mentor – Sílvio Santos. Ainda assim, o SBT foi pioneiro em muitas ocasiões. Basta lembrarmos do Programa Livre, do TJ Brasil, do Jô Soares Onze e Meia, Aqui Agora e outros.

A crise é tão profunda que nem mesmo o tradicional Programa Silvio Santos, carro-chefe da emissora durante décadas, está conseguindo sobreviver. As alterações de horários e nomes dos programas são constantes. Mudam os nomes, mas os programas parecem os mesmos. O público que sempre foi fiel ao apresentador parece estar descobrindo outras alternativas, novas paixões. Assim como Silvio, outros artistas estão desgastados, como Hebe, Ratinho e Carlos Alberto de Nóbrega. O único que sobrevive imbatível é o mexicano Chaves, um fenômeno de audiência que passa de geração para geração, merecedor de um estudo acadêmico sério.

Ao olharmos para a grade de programação do SBT veremos que, no período da manhã, os desenhos dominam a telinha. Antigamente, os desenhos vinham ancorados em algum programa infantil, com uma bela apresentadora de minissaia ou mesmo o Bozo. Hoje, é mais barato colocar apenas o desenho. Apresentadora para quê? Não faz diferença, o que a criança quer mesmo é ver desenho. Porém, ao retirar do ar o mediador entre a criança e o desenho, qualquer possibilidade pedagógica é extinta.

Para cumprir tabela

À tarde, o SBT nos apresenta os filmezinhos do Cinema em Casa, desenhos e uma série de telenovelas latino-americanas, incluindo reprises. Não se aproveita quase nada, é uma programação para encher lingüiça, matar o tempo. À noite, temos o Ratinho – em seu circo com anões, palhaços e caretas. Variando conforme o dia, temos filmes, seriados enlatados, a Hebe com seus discursos contra os corruptos, defendendo a moral e os bons costumes – mas sempre evitando falar de seu amigo Paulo Maluf. Um belo testemunho de honestidade com o público.

Dos artistas de ponta do SBT restam ainda Gugu e Carlos Alberto de Nóbrega. Este último consegue manter no ar a envelhecida A praça é nossa, com suas piadas conhecidíssimas, malícia e mulheres com pouca roupa – o típico programa da família brasileira. Pouco se criou em termos de humor na televisão, e programas como A praça ainda têm fôlego para ir mais adiante. Gugu, por sua vez, está em péssima fase. Desde o escândalo de fraude numa reportagem do Domingo Legal, o apresentador não conseguiu se recuperar. Tudo soa falso em seu programa.

Do bom telejornalismo não restou nada. Hermano Henning é todo solidão, chega a dar pena. O telejornalismo no SBT está lá apenas para cumprir a tabela legal. Em síntese, o que podemos aproveitar da programação? Ou o SBT muda, cria um projeto estrategicamente definido, ou estará muito em breve fora do páreo.

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Jornalista, mestre em Comunicação Social pela PUC-RS