Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Somos os agentes da mudança

A televisão sempre foi considerada o veículo mais rápido da informação. Documentou com muita eficiência acontecimentos de grande impacto no século 20, quando ganhou total potência. Seu alcance foi tão intenso, o apelo visual foi tão incisivo que ela logo ultrapassou o rádio, principal eixo da mídia até então, na retratação da natureza, das relações humanas, das guerras, da confraternização olímpica, da veiculação da cultura e do entretenimento, entre outros. Nos dias atuais, no estágio embrionário do século 21, a televisão atingiu um desenvolvimento extraordinário e faz parte da vida e do cotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo. O conteúdo televisivo, porém, vêm sofrendo drástica mudança, e um instrumento tão importante na aproximação de fatos e pessoas ganha um tom de banalidade e sensacionalismo, explorando de forma selvagem a figura humana.

Quando surgiu, no início da década de 40, a televisão era tida como um luxo. Poucos possuíam aquele tão sonhado aparelho que soltava imagens ordenadas em preto e branco. Não era mais necessário imaginar. A imagem da história desnudava-se aos olhos surpresos. A febre televisiva iniciara-se para nunca mais perder seu posto. Seu desenvolvimento deu um vultoso salto e anos mais tarde tornava-se popular, de acesso cada vez maior. Com a mesma eficiência mostrava as últimas notícias dos fronts de batalhas e o lançamento de um novo aspirador de pó. O marketing, a economia e, sem exagero, a forma de o ser humano enxergar o mundo foram profundamente alterados por esse processo.

Hoje, a televisão está em pleno vapor. Nunca tivemos tantos canais e tanta diversidade de programas à disposição. No entanto, o caráter informativo, documental, o entretenimento sadio está dando lugar a um tipo de mídia sensacionalista, pautada única e exclusivamente na luta pelo ibope. Explora-se a fraqueza humana, o deboche, a sexualidade exacerbada, a violência explícita e o sofrimento humano como formas de cativar maior audiência. O Brasil é um exemplo claro. Pipocam aos montes programas baseados na degradação de outros indivíduos, por meio da comédia hipócrita e desmedida, da infiltração na intimidade de casamentos e relacionamentos, na informação inútil e apelativa, na desestruturação familiar.

De que vale saber sobre a fidelidade de alguém em rede nacional ou se este ou aquele artista está disposto a atestar a favor de sua humildade? O que importa saber é se o brasileiro passa fome, se o país supera seus problemas, se a violência está crescendo. Longe de uma posição anacrônica e viciosa, na qual só assuntos com este teor são importantes. A televisão surgiu também como forma de entretenimento, com a comédia, os filmes, a retratação da cultura. Não precisamos assistir apenas às flutuações da economia mundial e às últimas notícias do Congresso Nacional, temos direito a buscar também um entretenimento saudável, longe do sensacionalismo que beira a repugnância.

Mas, como explicar que tais programas explorativos arrebanham mais e mais espectadores? Reflito sobre a questão e algo me preocupa. A explosão do sensacionalismo barato e da exploração humana na mídia refletem tristemente o que se passa no próprio âmbito individual. Aquilo que atrai e distrai mediocremente as pessoas releva o que se passa com o próprio indivíduo. O sistema ao qual nos inserimos produziu seres frios e vazios. Vivemos a era da banalização não só da televisão, mas da própria humanidade, num processo vertiginoso. A humanidade tornou-se gradativamente mais materialista, individualista e confusa em relação a valores básicos, como a família.

Nesse universo distorcido, programas que retratam a vacuidade humana e a exposição individual a situações degradantes tornam-se algo comum – um entretenimento barato. É o espectador assistindo à própria matéria esfacelar-se em pontos coloridos e luminosos. É algo em que se deve pensar.

Cumpre, pois, não agir apenas como espectador, que assiste passivo a mais um capítulo da exploração da figura do homem, mas reivindicar qualidade do que invade inexoravelmente nossos lares. Cumpre, como cidadãos, lutar pela melhoria das situações de vida que nos são expostas. Temos, sim, o poder de controlar isso, baseados na união e no espírito coletivo de mudança, na conscientização do problema. Somos os agentes da mudança e, como tal, é necessário lutar pelo verdadeiro e nobre papel da televisão, fundamentado na informação, na documentação e no entretenimento, distante da banalização.

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Estudante, Piracicaba, SP